A epígrafe que dá título a
este articulado é um provérbio gaúcho que significa que: “a nossa “grande
chance” não nos bate à porta a todo momento”. Feito o introito, relato que li
na terça (28/6), a entrevista do mais completo árbitro do futebol brasileiro de
todos os tempos, Carlos Eugênio Simon.
Na entrevista, Simon elenca
vários tema inerentes à arbitragem e dentre eles, a exigência da
profissionalização do árbitro do futebol brasileiro como um dos mecanismos para
diminuir os erros da arbitragem no campo de jogo. Na mesma entrevista, Simon
realça que o melhor árbitro do futebol brasileiro na atualidade é Heber Roberto
Lopes (FIFA/SC).
Também já pensei e defendi
aqui neste espaço e em outros veículos de comunicação, a causa da profissionalização. Mas, a sua
concretude não é algo fácil de ser concretizada - pelo contrário - é sibilina.
Se fosse fácil, as principais Ligas de Futebol da Europa, a exceção da
Inglaterra, Alemanha, Espanha, França e Itália já teriam aderindo a
profissionalizado dos homens de preto.
Na pesquisa que fiz junto às
ligas em tela via e-mail a respeito da profissionalização do árbitro, a
resposta foi objetiva. Nas diferentes discussões sobre profissionalizar ou não
a arbitragem, surgiram óbices constitucionais, trabalhistas e culturais que
impediram e impedem por ora a profissionalização de apitos e bandeiras.
Lembro que os ingleses são
um caso a parte. Há vinte e seis anos, os inventores das REGRAS DE FUTEBOL e do
“chuveirinho” na área, lançaram um projeto embrionário com sete árbitros e doze
assistentes. Projeto que foi lapidado como se lapida uma safira e a
pontualidade inglesa ano após ano, e por isto deu certo. Vários países
implementaram recentemente a profissionalização em caráter experimental, como
Portugal e Turquia, porém, para um grupo restrito de árbitros e assistentes. O
que clarifica que a profissionalização não é tão fácil como se propaga.
A arbitragem brasileira teve
a oportunidade extraordinária de conseguir a profissionalização da categoria,
quando em 2002, um grupo de notáveis formado por árbitros e ex-árbitros
elaboraram um projeto que ao ser protocolado em Brasília, ganhou a rubrica de
Projeto de Lei Nº 6405/2002. Projeto que contemplava a profissionalização do homem
do apito na sua plenitude, e lhe dava as garantias necessárias para exercer seu
mister.
Por desleixo dos
sindicalistas e, sobretudo, dos maiores interessados, os árbitros - pela
ausência de representatividade política da classe para brigar em condições de
igualdade com a cartolagem que rege o futebol pentacampeão, o indigitado
projeto perambulou ao longo de onze anos na Câmara dos Deputados e no Senado
Federal.
Dados os motivos nominados
por mais de uma década, o Projeto de Lei 6405/2002, foi sendo descaracterizado
paulatinamente através de emendas, apensos e penduricalhos e transformado em
outubro de 2013, no DECRETO LEI Nº 12.867. Decreto que reconheceu a atividade
do árbitro de futebol no Brasil como profissional e nada mais.
De lá para cá, os
sindicalistas de arbitragem realizaram várias reuniões de trabalho e
congressos, mas, não se conhece uma única ação eficaz na direção da
profissionalização daquele que interpreta e aplica as REGRAS DE FUTEBOL no
campo de jogo.
PS: Em função das dimensões
continentais do Brasil, das peculiaridades de cada região, da legislação
trabalhista e do momento político e sócioeconômico que vivencia o país e da
oportunidade impar perdida, não vislumbro a mínima chance de se falar, que dirá
profissionalizar a arbitragem do nosso futebol nos próximos cem anos.
PS (2): O desprestígio dos clubes do
futebol paranaense e do futebol gaúcho em relação a presença da arbitragem local, nos clássicos regionais é total. No clássico
Atlético/PR 0 x 1 Coritiba, o árbitro
Thiago Duarte Peixoto (Asp/FIFA/SP), errou contra o rubro-negro da Arena da
Baixada, ao não marcar pênalti indiscutível em desfavor do Coritiba. No Paraná,
arbitragem “neutra” deu “chabu”. Já o Gre-Nal do próximo domingo, (3/7) no Beira-Rio,
também terá arbitragem “neutra”. Dewson de Freitas (FIFA/PA). Além de
evidenciarem uma cultura anacrônica em relação ao fato, os cartolas do futebol
do Paraná e do Rio G. do Sul, teem um aliado incondicional que alimenta a
rejeição a arbitragem local em clássicos. Parte da imprensa esportiva que, não entende patavina nenhuma das REGRAS DE
FUTEBOL.