PAULISTA Pesquisa de psicólogo da federação diz que 35% dos árbitros do Estado foram vítimas de violência
LUCAS REIS
DE SÃO PAULO
Pedro Santilli, técnico do Comercial em 2009, via seu time ser rebaixado à terceira divisão do Paulista, deu um encontrão em um jogador do Catanduvense e foi expulso. Entrou no gramado e deu um soco no queixo do árbitro Flávio Rodrigues de Souza.
Nenhuma ocupação no futebol parece ser tão insalubre quanto a de juiz: 35% dos árbitros e assistentes de todas as divisões do Campeonato Paulista já foram agredidos.
É o que revela pesquisa com mais de 500 profissionais feita em 2010 pelo psicólogo Gustavo Korte, que trabalha para a FPF (Federação Paulista de Futebol).
O total representa quase 180 juízes e/ou bandeirinhas que sofreram algum tipo de agressão em estádios ou suas imediações. Segundo a pesquisa, 2,5% já foram agredidos de três a cinco vezes, e 0,98%, acima de dez vezes.
"Deixei ele chegar muito perto de mim, e aconteceu. Foi a única vez na minha carreira. Agora, com mais experiência, não deixo ninguém chegar tão próximo", contou Flávio Rodrigues, o árbitro agredido em Ribeirão Preto. O técnico Santilli acabou suspenso por seis meses.
Agressões e ameaças são mais comuns em campeonatos de divisões inferiores, afirmam árbitros e ex-árbitros ouvidos pela Folha.
De acordo com o sindicato paulista, punições mais rigorosas e o reforço da segurança diminuíram as queixas.
"As condições nos estádios estão melhores. Também houve uma evolução dos clubes e dos dirigentes. Até bem pouco tempo [atrás], era difícil até para entrar no estádio", disse Arthur Alves Júnior, presidente do sindicato. "É aquela antiga máxima: se você nunca saiu de camburão do estádio, não é árbitro."
Segundo a Anaf (Associação Nacional dos Árbitros de Futebol), casos de agressão ainda são comuns pelo país. As ausências de televisionamento e imprensa aumentam a violência, disse o sindicato.
"Isso infelizmente ainda existe, principalmente em jogos de clubes menores e que não têm mídia, campeonatos de categorias de base, amadores", disse José Pessi, vice-presidente da associação.
Na última quarta-feira, um árbitro foi agredido em Manaus, em partida pelo Estadual do Amazonas.
Jogadores do Fast Club se irritaram com Djalma Silva de Souza reclamando de pênalti não marcado em jogo contra o Nacional. O goleiro Naílson o empurrou, Djalma foi ao chão e acabou cercado pelos jogadores, que tiveram de ser contidos por policiais.
Não são apenas agressões que ameaçam os árbitros. A maioria deles, 84,2%, declarou que já teve ao menos
uma lesão considerava grave em toda a sua carreira, segundo a pesquisa feita com os árbitros de São Paulo.
Korte levantou esses dados para utilizá-los na preparação dos árbitros do Estado.
"O trabalho envolve controle emocional, concentração, controle de distrações e melhoria na comunicação verbal. São várias as habilidades psicológicas", disse.
FONTE: FOLHA DE SÃO PAULO/ESPORTE
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