quarta-feira, 12 de fevereiro de 2014

Jorge Larrionda: “O enfoque tático hoje em dia é fundamental na arbitragem”

Outro curso exitoso para árbitros foi realizado em Assunção na sede da Confederação Sul-Americana de Futebol num trabalho conjunto entre a FIFA e a CONMEBOL. Trinta e três árbitros dos 10 países membros da CONMEBOL concluíram a pré-temporada que se levou a cabo durante cinco dias na Casa do Futebol Sul-Americano. Este evento, auspiciado pela FIFA e CONMEBOL, colocou em prática as pautas de preparação que correspondem ao Programa de Assistência à Arbitragem.
Um dos ex-árbitros internacionais da América do Sul que participou como instrutor pela FIFA foi o uruguaio Jorge Larrionda (foto),  duas vezes mundialista (Alemanha 2006 e África do Sul 2010), de longa trajetória em copas Libertadores, Sul-Americana e outros torneios internacionais.

                                                         Divulgação

Conmebol.com dialogou com ele com o fim de conhecer sua experiência pessoal em sua nova faceta de instrutor e saber em que nível se encontra atualmente a arbitragem sul-americana, qual é a tendência atual da arbitragem e tudo aquilo que torna particular o mundo dos árbitros.
Conmebol.com: Senhor Larrionda, costuma acontecer que quando um jogador se aposenta e passa a ser diretor técnico reconhece que desde seu novo lugar vê as coisas de maneira distinta, isso ocorre também com um árbitro que se retira e passa a ser instrutor?
Jorge Larrionda:
  Sim, é um plano diferente, é uma tarefa distinta e apesar de exercer como instrutor você vai ao mesmo tempo aprendendo, a gente nunca deixa de aprender e aí que está a beleza nesta função. É apaixonante porque como instrutor tenho a possibilidade de ensinar, de instruir e de dirigir os árbitros mais jovens.
c.c.: O jogador que se torna técnico muitas vezes tem que dirigir ex-colegas e com os árbitros acontece algo parecido, você agora já é instrutor de árbitros que até pouco tempo atrás atuavam junto com você.
J.L.:
Sim, e isso é bom, para mim é uma vantagem porque conheço muitos tanto como árbitros como pessoas e isso facilita a comunicação. É questão de que cada um saiba situar-se, eu me sinto muito à vontade, me sinto respeitado e valorizado
c.c.: Em que a arbitragem hoje em dia tem mais enfoque?
J.L.:
Até pouco atrás desde que comecei a arbitrar, a maior importância, considerada como pilar fundamental do árbitro é a personalidade. Hoje isso continua sendo importante mas outro pilar fundamental foi acrescentado que se denomina enfoque tático
c.c.:  O que é concretamente esse enfoque tático?
J.L.:
É o entendimento global, a leitura total de um jogo. É saber que jogo vai ser dirigido, o que está em jogo, como as equipes jogam, que jogadores tem cada equipe e suas características, se é uma final, se é uma partida de um campeonato longo. O árbitro deve analisar tudo isso e decidir que tipo de arbitragem é necessário nesse jogo. As regras são as mesmas mas o árbitro deve ter cada vez um maior conhecimento geral e isto não significa adaptar-se e deixar-se ganhar pelo o que está ao redor, mas pelo contrário, superar tudo e marcar sua própria linha de jogo.
c.c.: Vale dizer então que tem que ver o futebol e analisar as equipes?
J.L.
: Isso, o árbitro deve conhecer cada vez mais de futebol em geral, de táticas, de estilos de jogo, as individualidades
c.c.: Mas a personalidade sempre será importante..
J.L.:
Com certeza, isso é algo que cada um tem como algo próprio, algo particular e não vai mudar, cada árbitro tem a sua personalidade e por isso seu próprio estilo, o que se busca é que dentro desse estilo próprio de cada um se manejem linhas gerais . Há algo que deve ser levado em conta: o bom árbitro soluciona os inconvenientes que vão acontecendo dentro de uma partida mas o árbitro de elite, de nível superior é quem previne o que pode ocorrer. Outro ponto sobre o que está se falando muito: “Quando começa o meu jogo? Desde o momento da designação ou desde que dou primeiro apito?”. Os árbitros sonham seus jogos e quando veem um fixture dizem “eu gostaria de estar neste jogo”. E hoje cada vez que sai uma designação o árbitro deve se preparar para esse jogo da maneira que mencionei antes, sabendo que tipo de jogo será, conhecendo as equipes, o local do jogo, enfim, tudo o que tenha a ver com o seu jogo.
c.c.: O árbitro deve falar muito com os jogadores?
J.L.: Aqui entra o estilo mas também se trabalha muito na relação entre o jogador e o árbitro dentro e fora do campo. E essa relação deve estar marcada sempre pela distância e o respeito.
c.c.: Como está a arbitragem sul-americana hoje?
J.L.
: Está num bom nível, a América do Sul sempre manteve um bom nível de arbitragem. Hoje estamos passando por uma etapa de mudança generacional e a prova está nos árbitros que vão estar no mundial do Brasil, mas o nível se mantém. Confio muito nesses novos árbitros.
Falar da incursão da tecnologia no futebol leva, de maneira inevitável, a falar com Jorge Larrionda de uma jogada que sem dúvida deu muito o que falar na época. O gol do inglês Lampard contra Alemanha, no mundial da África do Sul,  aquele tiro que pegou no travessão logo picou atrás da linha sem que isto fosse notado pelo árbitro e seus assistentes.  No afã de ser justos dissemos que nós também tínhamos visto em um primeiro momento que tinha sido gol e que, depois, com as repetições, aquela jogada foi esclarecida.
c.c.: Você prefere juízes de linha de fundo ou é partidário da tecnologia?
J.L.:
Na verdade não é questão de querer ou de preferir porque se fosse para escolher eu gostaria que sempre fossem os árbitros, que sempre fossem pessoas as encarregadas de tomar decisões durante o jogo mas não cabe dúvida que a tecnologia dará uma mão fundamental ainda mais em jogadas como aquela que tivemos que encarar e que talvez ali, no momento, poderia ter sido resolvido de outra maneira com o apoio de imagens. Neste ponto a tecnologia estará a favor, servirá para proteger os árbitros.
c.c.: Qual é o balanço do feito neste trabalho de pré-temporada?
J.L.:
Positivo, sem dúvida alguma, trabalho-se muito e bem, os árbitros tiveram muito interesse, participaram com entusiasmo e dedicação; estes encontros sempre deixam bons resultados.

Fonte: Néstor Soto/Conmebol.com

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