Marco Martins à esquerda e o ministro do Esporte Aldo Rebelo
Alcançamos a
profissionalização, o próximo passo é a regulamentação jurídica da Federação
Brasileira dos Árbitros de Futebol, para pleitearmos os direitos inerentes à arbitragem.
O
proficiente filósofo, político e escritor Montesquieu, afirmou: "todo o homem que tem
poder sente inclinação para abusar dele, indo até onde encontra limites". Diferentemente
da afirmação do aristocrata francês, o presidente da Associação Nacional de
Árbitros de Futebol (Anaf), Marco Antonio Martins, desde que assumiu o comando
da principal entidade da confraria do apito brasileiro, fez do poder que lhe
foi conferido pela categoria dos homens de preto, apenas um detalhe.
Martins, assim que
tomou posse na Anaf, estabeleceu algumas metas a serem atingidas a curto, médio
e longo prazo em conjunto com os demais membros da entidade, visando contemplar a categoria dos
homens do apito. A primeira, tinha como alvo reestruturar a Anaf. A segunda, desengavetar o projeto que visava
a profissionalização do árbitro de futebol, que estava há onze anos estacionada
no Congresso Nacional. Profissionalização que aconteceu no último dia 11 de
outubro/2013, através do Decreto Lei nº 12.867, sancionado pela presidente Dilma Rousseff.
Adepto do diálogo, ao
recebimento de propostas e projetos que tenham por escopo o aprimoramento da
arbitragem nacional, Marco Martins afirmou que a primeira meta do plano traçado pela
diretoria da Anaf foi concluída. Foram muitos dias de trabalho, inúmeras
viagens e reuniões, um sem número de contatos e muita, muita paciência, afirmou
o presidente licenciado, do sindicato dos árbitros de futebol de Santa
Catarina.
Na entrevista que
concedeu ao PARANAONLINE, ao lado do
brilhante secretário de comunicação da Anaf, Julio Cancelier, Martins falou dos novos
projetos que serão desenvolvidas pela instituição este ano em benefício da
arbitragem, da regularização da Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol
(Febraf), dos obstáculos que serão enfrentados pela categoria nos próximos
meses, e da importância do apoio incondicional das associações, sindicatos e
árbitros nas futuras conquistas. Confira abaixo a entrevista.
PARANA ONLINE - Definida a profissionalização do árbitro de futebol no Brasil,
quais são os próximos passos da Anaf?
Marco Antonio Martins - O Decreto Lei nº
12.867, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano que
passou, deu o direito de o árbitro de futebol no Brasil ser reconhecido como
profissional. Mas não pensem que foi um conquista fácil. Qualquer benefício ou
projeto que contemple o árbitro do futebol brasileiro, enfrenta inúmeros
óbices. A próxima etapa é providenciar a documentação necessária da Federação
Brasileira dos Árbitros de Futebol (Febraf), para daí partirmos com
legitimidade nos futuros projetos e reivindicações da categoria.
PARANA ONLINE – Como está sendo gerido
o processo da futura entidade dos homens de preto?
Martins – No seminário que realizamos
no final do ano passado em Belém (PA), com a participação das associações e
sindicatos, instituímos uma comissão de sindicalistas que está cuidando do
assunto sob a supervisão do diretor jurídico da Anaf, Dr. Giuliano Bozzano. Este
pessoal está viabilizando os mecanismos necessários para que todos tenham o
Certificado de Registro Sindical (Carta Sindical), e a posteriori, de posse de
toda a papelada exigida, regulamentar juridicamente a Febraf perante, o ministério do Trabalho e Emprego.
PARANA ONLINE – Enquanto a Febraf não
é legalizada juridicamente como fica a situação da Anaf?
Martins – Realizaremos no final
deste mês a nossa reunião de trabalho em Maceió (AL). Lá discutiremos várias
questões e as eleições da entidade até a regularização da federação. Até porque
a categoria dos árbitros de futebol não pode ficar sem uma representação. Temos
um mandato até agosto deste ano, e nessa reunião de trabalho vamos discutir
vários assuntos com os líderes sindicais de quem precisamos do apoio incondicional
para o sucesso das nossas conquistas.
PARANA ONLINE - Ouve-se muitas críticas sobre a situação e atuação da Anaf. O
que o sr. tem a dizer?
Martins – Quando assumi, a
entidade não tinha uma resma de papel. Em 2010, fizemos uma reunião com os
árbitros da Fifa em Florianópolis (SC) e mostramos a eles que a Anaf não tinha
nada. Repito, nada! Hoje temos uma sede alugada com toda a estrutura necessária
para atender os árbitros de todo o Brasil, temos conta bancária e saldo
positivo, assessoria jurídica, assessoria de imprensa, somos
recebidos e respeitados na CBF, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal.
Além disso, estamos desenvolvendo um
projeto de excelência, que está em fase de conclusão, para quando a Federação
Brasileira dos Árbitros de Futebol estiver regularizada juridicamente,
imediatamente colocá-lo em prática, o
que irá proporcionar um salto de qualidade em todos os quesitos na arbitragem
brasileira.
PARANA ONLINE – Embora o projeto não
esteja concluído, é possível citar algum tópico que irá beneficiar o árbitro de
futebol no Brasil?
Martins – As escolas de
formação de árbitros e comissões de arbitragens em todo o planeta, são geridas
por pessoas egressas do meio do apito e sindical. Nossa opinião é de que a
presença de homens da estirpe de Afonso Vitor de Oliveira, Ciro Camargo, Salmo
Valentim e Sérgio Corrêa da Silva, é de fundamental importância ao árbitro do
futebol brasileiro. Todos eles vieram da arbitragem e da lide sindical. Uma das proposições embutidas no projeto é no sentido de que a arbitragem seja comandada por gente que é do meio e tenha vivência sindical em todas as esferas. Outro
item que está no projeto, versa sobre investimentos financeiros na formação e requalificação da arbitragem em
todo o Brasil e não de um grupo específico como acontece atualmente. Nosso
objetivo é incrementar a qualidade, a credibilidade e alcançar a independência
das ações do árbitro de futebol.
PARANA ONLINE – Estamos há poucos
meses da Copa do Mundo no Brasil. Qual é a sua expectativa em relação ao
desempenho da arbitragem no Mundial?
Martins - A Fifa vêm realizando
um processo seletivo minucioso de árbitros e assistentes desde o encerramento
da Copa na África do Sul, como nunca realizou. Milhões de euros foram
disponibilizados na preparação e aprimoramento do homem do apito, objetivando
minimizar ao máximo os erros da arbitragem na Copa do Mundo. Diante do que vi,
li e ouvi, não tenho dúvidas que teremos excelentes arbitragens.
PARANA ONLINE – O trio de arbitragem
brasileiro indicado pela Fifa está à altura dos grandes nomes da arbitragem
mundial?
Martins – Não tenho nenhuma
dúvida. O árbitro Sandro Meira Ricci e seus compatriotas, Emerson Augusto
Carvalho e Marcelo Van Gasse, atingiram a qualidade de excelência nesta reta
final para a Copa do Mundo em todos os quesitos exigidos pela Fifa. Ou seja, físico,
técnico, tático e psicológico. Ricci, cresceu muito desde a sua indicação para
a Copa, e por isto foi injustamente criticado em algumas partidas do Campeonato
Brasileiro. Sandro Meira aprimorou suas
qualidades e procurou se encaixar dentro da filosofia do verdadeiro árbitro
profissional que quer a Fifa.
PARANA ONLINE – A Fifa implementou a
tecnologia na linha do gol e ela estará a disposição na Copa do Mundo, para
auxiliar a arbitragem nos lances na linha de meta. Na sua opinião, a tecnologia
vai ajudar ou vai tirar poderes dos árbitros?
Martins – Tudo que há no
mundo evoluiu ou está em evolução. Além disso, o árbitro é humano e desde os
primórdios da criação do planeta é suscetível a erros. Portanto, sou favorável a
tecnologia como ferramenta auxiliar na linha do gol e, por consequência, penso
que a Fifa deveria estendê-la a todas as competições dos seus 209 filiados. Não
vai tirar poder do árbitro, porque quem vai operar a tecnologia e decidir sobre
a dúvida ou não, é o ser humano. O que estamos observando em todo o globo terreste,
é de que quem investiu ou está investindo em tecnologia, tem qualidade e
credibilidade.
PARANA ONLINE – Nas competições da
Fifa, da Uefa e da Conmebol, para se exercer a função de Observador de Arbitragem,
é condição “sine qua non”, que o candidato seja ex-árbitro com profundo saber
sobre as Regras de Futebol. Quais os motivos que levam o futebol brasileiro a
escalar alguns “alienígenas” para tão sibilina missão?
Martins – A Anaf tem um
posicionamento definido no que tange essa questão. A indicação tem que ser
técnica. Fez o curso de arbitragem, usou a indumentária de árbitro de futebol, entrou no campo de jogo, apitou e tomou
decisões, sentiu a pressão do público, dos atletas, do banco de reservas, foi
pressionado antes, durante e após as partidas, vivenciou ou continua
vivenciando arbitragem, pode e deve ser assessor.
PARANA ONLINE - Os campeonatos estaduais estão atingindo as
fases finais, a Copa do Brasil inicia nesta semana, no início de abril o Brasileirão.
Qual é a mensagem do presidente da Anaf aos seus congêneres?
Martins – Desejo a todos uma
ótima temporada e que se unam em torno da sua entidade de classe e, por
conseguinte, da Anaf. O site e o telefone da entidade estão a disposição de
todos. Juntos somos imbatíveis. Divididos, nossas conquistas dificilmente serão
alcançadas.
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