quarta-feira, 12 de março de 2014

ENTREVISTA COM MARCO ANTONIO MARTINS

Marco Martins à esquerda e o ministro do Esporte Aldo Rebelo

Alcançamos a profissionalização, o próximo passo é a regulamentação jurídica da Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol, para pleitearmos os  direitos inerentes à arbitragem.

O proficiente filósofo, político e escritor Montesquieu, afirmou: "todo o homem que tem poder sente inclinação para abusar dele, indo até onde encontra limites". Diferentemente da afirmação do aristocrata francês, o presidente da Associação Nacional de Árbitros de Futebol (Anaf), Marco Antonio Martins, desde que assumiu o comando da principal entidade da confraria do apito brasileiro, fez do poder que lhe foi conferido pela categoria dos homens de preto, apenas um detalhe.

Martins, assim que tomou posse na Anaf, estabeleceu algumas metas a serem atingidas a curto, médio e longo prazo em conjunto com os demais membros da entidade, visando contemplar a categoria dos homens do apito. A primeira, tinha como alvo reestruturar a Anaf. A segunda, desengavetar o projeto que visava a profissionalização do árbitro de futebol, que estava há onze anos estacionada no Congresso Nacional. Profissionalização que aconteceu no último dia 11 de outubro/2013, através do Decreto Lei nº 12.867,  sancionado pela presidente Dilma Rousseff.

Adepto do diálogo, ao recebimento de propostas e projetos que tenham por escopo o aprimoramento da arbitragem nacional, Marco Martins afirmou  que a primeira meta do plano traçado pela diretoria da Anaf foi concluída. Foram muitos dias de trabalho, inúmeras viagens e reuniões, um sem número de contatos e muita, muita paciência, afirmou o presidente licenciado, do sindicato dos árbitros de futebol de Santa Catarina.

Na entrevista que concedeu ao PARANAONLINE, ao lado do brilhante secretário de comunicação da  Anaf, Julio Cancelier, Martins falou dos novos projetos que serão desenvolvidas pela instituição este ano em benefício da arbitragem, da regularização da Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol (Febraf), dos obstáculos que serão enfrentados pela categoria nos próximos meses, e da importância do apoio incondicional das associações, sindicatos e árbitros nas futuras conquistas. Confira abaixo a entrevista.

PARANA ONLINE -  Definida a profissionalização do árbitro de futebol no Brasil, quais são os próximos passos da Anaf?

Marco Antonio Martins -  O Decreto Lei nº 12.867, sancionado pela presidente Dilma Rousseff, em outubro do ano que passou, deu o direito de o árbitro de futebol no Brasil ser reconhecido como profissional. Mas não pensem que foi um conquista fácil. Qualquer benefício ou projeto que contemple o árbitro do futebol brasileiro, enfrenta inúmeros óbices. A próxima etapa é providenciar a documentação necessária da Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol (Febraf), para daí partirmos com legitimidade nos futuros projetos e reivindicações da categoria.  

PARANA ONLINE – Como está sendo gerido o processo da futura entidade dos homens de preto?

Martins – No seminário que realizamos no final do ano passado em Belém (PA), com a participação das associações e sindicatos, instituímos uma comissão de sindicalistas que está cuidando do assunto sob a supervisão do diretor jurídico da Anaf, Dr. Giuliano Bozzano. Este pessoal está viabilizando os mecanismos necessários para que todos tenham o Certificado de Registro Sindical (Carta Sindical), e a posteriori, de posse de toda a papelada exigida, regulamentar juridicamente a Febraf perante, o ministério do Trabalho e Emprego.
  

PARANA ONLINE – Enquanto a Febraf não é legalizada juridicamente como fica a situação da Anaf?

Martins – Realizaremos no final deste mês a nossa reunião de trabalho em Maceió (AL). Lá discutiremos várias questões e as eleições da entidade até a regularização da federação. Até porque a categoria dos árbitros de futebol não pode ficar sem uma representação. Temos um mandato até agosto deste ano, e nessa reunião de trabalho vamos discutir vários assuntos com os líderes sindicais de quem precisamos do apoio incondicional para o sucesso das nossas conquistas. 

PARANA ONLINE -  Ouve-se muitas críticas sobre a situação e atuação da Anaf. O que o sr. tem a dizer?

Martins – Quando assumi, a entidade não tinha uma resma de papel. Em 2010, fizemos uma reunião com os árbitros da Fifa em Florianópolis (SC) e mostramos a eles que a Anaf não tinha nada. Repito, nada! Hoje temos uma sede alugada com toda a estrutura necessária para atender os árbitros de todo o Brasil, temos conta bancária e saldo positivo, assessoria jurídica, assessoria de imprensa, somos recebidos e respeitados na CBF, na Câmara dos Deputados e no Senado Federal. Além disso, estamos desenvolvendo  um projeto de excelência, que está em fase de conclusão, para quando a Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol estiver regularizada juridicamente, imediatamente colocá-lo  em prática, o que irá proporcionar um salto de qualidade em todos os quesitos na arbitragem brasileira.

PARANA ONLINE – Embora o projeto não esteja concluído, é possível citar algum tópico que irá beneficiar o árbitro de futebol no Brasil?

Martins – As escolas de formação de árbitros e comissões de arbitragens em todo o planeta, são geridas por pessoas egressas do meio do apito e sindical. Nossa opinião é de que a presença de homens da estirpe de Afonso Vitor de Oliveira, Ciro Camargo, Salmo Valentim e Sérgio Corrêa da Silva, é de fundamental importância ao árbitro do futebol brasileiro. Todos eles vieram da arbitragem e da lide sindical. Uma das proposições embutidas no projeto é no sentido de que a arbitragem seja comandada por gente que é do meio e tenha vivência sindical em todas as esferas. Outro item que está no projeto, versa sobre investimentos financeiros na formação e requalificação da arbitragem em todo o Brasil e não de um grupo específico como acontece atualmente. Nosso objetivo é incrementar a qualidade, a credibilidade e alcançar a independência das ações do árbitro de futebol.

PARANA ONLINE – Estamos há poucos meses da Copa do Mundo no Brasil. Qual é a sua expectativa em relação ao desempenho da arbitragem no Mundial?

Martins - A Fifa vêm realizando um processo seletivo minucioso de árbitros e assistentes desde o encerramento da Copa na África do Sul, como nunca realizou. Milhões de euros foram disponibilizados na preparação e aprimoramento do homem do apito, objetivando minimizar ao máximo os erros da arbitragem na Copa do Mundo. Diante do que vi, li e ouvi, não tenho dúvidas que teremos excelentes arbitragens.

PARANA ONLINE – O trio de arbitragem brasileiro indicado pela Fifa está à altura dos grandes nomes da arbitragem mundial?  

Martins – Não tenho nenhuma dúvida. O árbitro Sandro Meira Ricci e seus compatriotas, Emerson Augusto Carvalho e Marcelo Van Gasse, atingiram a qualidade de excelência nesta reta final para a Copa do Mundo em todos os quesitos exigidos pela Fifa. Ou seja, físico, técnico, tático e psicológico. Ricci, cresceu muito desde a sua indicação para a Copa, e por isto foi injustamente criticado em algumas partidas do Campeonato Brasileiro. Sandro Meira aprimorou suas qualidades e procurou se encaixar dentro da filosofia do verdadeiro árbitro profissional que quer a Fifa.
  

PARANA ONLINE – A Fifa implementou a tecnologia na linha do gol e ela estará a disposição na Copa do Mundo, para auxiliar a arbitragem nos lances na linha de meta. Na sua opinião, a tecnologia vai ajudar ou vai tirar poderes dos árbitros?

Martins – Tudo que há no mundo evoluiu ou está em evolução. Além disso, o árbitro é humano e desde os primórdios da criação do planeta é suscetível a erros. Portanto, sou favorável a tecnologia como ferramenta auxiliar na linha do gol e, por consequência, penso que a Fifa deveria estendê-la a todas as competições dos seus 209 filiados. Não vai tirar poder do árbitro, porque quem vai operar a tecnologia e decidir sobre a dúvida ou não, é o ser humano. O que estamos observando em todo o globo terreste, é de que quem investiu ou está investindo em tecnologia, tem qualidade e credibilidade.

PARANA ONLINE – Nas competições da Fifa, da Uefa e da Conmebol, para se exercer a função de Observador de Arbitragem, é condição “sine qua non”, que o candidato seja ex-árbitro com profundo saber sobre as Regras de Futebol. Quais os motivos que levam o futebol brasileiro a escalar alguns “alienígenas” para tão sibilina missão?

Martins – A Anaf tem um posicionamento definido no que tange essa questão. A indicação tem que ser técnica. Fez o curso de arbitragem, usou a indumentária de árbitro de futebol, entrou no campo de jogo, apitou e tomou decisões, sentiu a pressão do público, dos atletas, do banco de reservas, foi pressionado antes, durante e após as partidas, vivenciou ou continua vivenciando arbitragem, pode e deve ser assessor.

PARANA ONLINE -  Os campeonatos estaduais estão atingindo as fases finais, a Copa do Brasil inicia nesta semana, no início de abril o Brasileirão. Qual é a mensagem do presidente da Anaf aos seus congêneres?

Martins – Desejo a todos uma ótima temporada e que se unam em torno da sua entidade de classe e, por conseguinte, da Anaf. O site e o telefone da entidade estão a disposição de todos. Juntos somos imbatíveis. Divididos, nossas conquistas dificilmente serão alcançadas.

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