segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Apito precisa de uma revolução

Sou questionado por um segmento de internautas se alterações nas Regras de Futebol e a implementação da tecnologia nas principais competições do Brasil, proporcionariam uma melhor performance da arbitragem. Respondo objetivamente que não. Tem muita gente, a maioria “leiga”, sobretudo, o pessoal que forma “opinião”, que antes de propor alterações e críticas às vezes descabidas às regras e, por extensão aos árbitros, deveria fazer um curso de arbitragem.  

O homem de preto comete erros de interpretação e aplicação das leis do jogo em nível mundial diariamente, porém, em menor intensidade em relação ao futebol brasileiro.

Enquanto a Fifa e a Uefa entenderam que o mundo e o futebol sofreram evoluções e a arbitragem teria de acompanhar as transformações, o Brasil neste setor parou no tempo. A Fifa e a Uefa construíram centros de formação e de treinamentos, onde desenvolvem há mais de uma década, estudos com cientistas renomados para entender a dinâmica de funcionamento do cérebro do ser humano (árbitro) – o objetivo é buscar o aprimoramento das decisões do homem que maneja o apito e a bandeira.     (Fifa.com)
Além disso, as principais ligas europeias na esteira da Fifa e da Uefa, estudam a implementação da profissionalização do árbitro. A Inglaterra há mais de um década, implementou a profissionalização (é a única liga do mundo onde juízes e bandeirinhas se dedicam exclusivamente à arbitragem). Os ingleses criaram a Professional Games Match Officials Limited (PGMOL). A (PGMOL) é responsável pela seleção, formação, contratação, requalificação e escalação da arbitragem em todas as competições  em território inglês.

Além do exposto, os ingleses foram os primeiros a utilizar o ponto eletrônico e ao lado da Holanda são as únicas duas ligas de futebol do planeta, que utilizam a (TGL) a tecnologia na linha do gol. Ambas, usam o sistema Hawk-Eye (olho de falcão).  

Na Bundesliga (Alemanha), a arbitragem não é profissional, mas, criou um código que inclui treinamento, capacitação continuada, Ranking por meritocracia e estabeleceu um cronograma de aumento das taxas aos árbitros de acordo com a produção até 2016.

Na Espanha e na Itália, ainda não há profissionalização, porém, há projetos em estudos nas duas ligas com os dois parlamentos. Enquanto não chega a profissionalização, os apitos e assistentes que atuam nas competições de ponta do futebol italiano e espanhol, recebem tratamento com se fossem profissionais.

Recentemente, a Federação Portuguesa de Futebol, após desenvolver estudos jurídicos selecionou um grupo de árbitros e assistentes e aderiu ao profissionalismo. Em 2016, haverá uma análise da situação e o número de árbitros profissionais devem acrescer.         
      
No futebol brasileiro, o caminho a ser percorrido para diminuir os equívocos da arbitragem e alcançar níveis de excelência qualitativa  é o mesmo ou algo próximo. Basta existir um mínimo de vontade da CBF, das federações estaduais, dos clubes e dos maiores interessados os árbitros. A partir do Decreto Lei Nº 12.867/2013, que reconheceu a atividade do árbitro como profissional, sua viabilização depende das partes acima mencionadas e demais ninguém. Decreto que já faz um ano que foi assinado pela presidente Dilma Rousseff.

Destaco neste processo, o presidente da Associação Nacional de Árbitros (Anaf), Marco Antonio Martins e diretoria. Sabedores do terreno pedregoso que percorrem, Martins e seus congêneres tem demonstrado enorme habilidade política, mas sozinhos, a caminhada será dificílima.      

Profissionalizar a arbitragem significa proteger os árbitros, dar independência as suas ações, condições para a categoria que faz um trabalho duríssimo, obter cursos de capacitação continuada na função. Profissionalizar o homem de preto, vai livrá-los do jugo escravocrata da CBF, das federações estaduais e dos clubes. Traduzindo: O homem de preto do futebol pentacampeão do mundo deixará de ser utilizado como mercadoria de troca entre CBF, federações e clubes.

Profissionalizar o árbitro na sua essência, significa performances melhores ​​e maior concentração nos jogos no período que antecede e durante as competições que vier a apitar. Profissionalizar o apito significa dar  consistência as suas ações e propiciar condições para que ele possa tomar decisões com base em critérios uniformes e consistentes.

PS: Quanto a tecnologia no auxilio à arbitragem a dirimir lances que fujam da percepção visual é bem-vinda. Só que engana-se quem imagina que os equívocos irão acabar. Além do exposto, dado o grande número de competições do futebol brasileiro e o alto custo financeiro de instalação e manutenção da (TGL), acredito que sua viabilização só seria possível na Série (A).
                                          Wilton Pereira Sampaio (Fifa/GO)na primeira fila à esquerda
(PS:2) Com a presença do diretor de arbitragem da Fifa Massimo Busacca, teve início no domingo que passou (12), no Chile, o primeiro seminário de arbitragem com vistas a Copa do Mundo de 2018 na Rússia. Participam árbitros da Conmebol e da Concacaf. Os brasileiros Ricardo Marques Ribeiro e Wilton Pereira Sampaio foram convocados para o aludido seminário.

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