domingo, 3 de outubro de 2010

Desorganizada, CBF aplica punição confusa a árbitros



Entidade afasta juízes por 20 dias e causa insatisfação em parte da categoria

Cleriston Rios, de Sergipe, foi um dos afastados pela CBF (Crédito: Divulgação/FSF)


Daniel Leal - RIO DE JANEIRO -LANCENET


Ao afastar temporariamente três juízes e cinco assistentes de seu quadro, a Comissão Nacional de Arbitragem da CBF (Conaf) evidencia que importantes aspectos de seu trabalho são tratados desordenadamente. Os critérios para os ganchos são obscuros, enquanto a "reciclagem" dos punidos não segue claras diretrizes - fatores que, inclusive, causam velada insatisfação em parte da categoria.
Na quinta-feira, a CBF anunciou o afastamento por 20 dias de oito membros de seu quadro, segundo relatórios de observadores e da Comissão de Análise, no caso de protestos dos clubes. Os árbitros foram punidos por descumprimento da regra 12, referente a faltas e infrações. Os assistentes, devido à regra 11, a do impedimento.


No entanto, ambos os pontos foram desrespeitados em diversas oportunidades no Brasileirão, sem que sanções declaradas fossem aplicadas. Em certos casos, os erros foram mais graves do que os punidos. Procurado pela reportagem do LANCENET!, o presidente da Conaf, Sérgio Corrêa, não foi encontrado para explicar a diferença de tratamento.
Por recomendação da CBF, árbitros e assistentes não quiseram dar entrevistas. Porém, segundo apurou a reportagem, a punição não foi bem recebida por parte dos afastados. A queixa é comum: não entendem o porquê de outros membros do quadro não terem sido punidos até então.
- Está chegando a reta final do Brasileirão e ele (Sérgio Corrêa) está preocupado em aprimorar, qualificar e capacitar - explicou Francisco Domingos da Silva, diretor da Comissão Estadual de Arbitragem de Pernambuco (CEAF-PE).
À moda da casa
Afastados por 20 dias, os membros do quadro arbitral punidos são obrigados a passarem por treinamentos específicos. Contudo, a reciclagem é feita de distintas formas nas comissões de arbitragem estaduais.
A CBF capacita instrutores para formação e aprimoramento local dos árbitros, seguindo determinados padrões. No entanto, cada federação tem autonomia para aplicar os procedimentos à sua maneira.
No caso da reciclagem, a CBF envia às comissões um documento com as falhas dos árbitros sancionados. O processo de correção é definido localmente com base no ofício, o leva a distorções. Mesmo em casos parecidos, a programação vai desde palestras a 20 dias de intenso trabalho.
Terminada a reciclagem, as comissões devem preparar relatório para a CBF. Se aprovado, o árbitro pode voltar a ser escalado. Depende apenas da Conaf.
Confira bate-bola com Hércules Martins, presidente da CEAF-AL:
LANCENET!: Em 20 dias, é possível corrigir um aspecto deficiente de um árbitro?
HÉRCULES MARTINS: Não iremos nunca corrigir os erros da arbitragem. Eles continuarão acontecendo. Cada jogo é uma situação. Nesses 20 anos, o que podemos é mostrar a interpretação equivocada que o árbitro tem em determinado lance. Não vamos corrigir o erro que já passou. Vamos corrigir a interpretação dele para que possa ter um índice maior de acertos.
LNET!: Muitos outros erros graves aconteceram antes desses e nada aconteceu. O que você acha desta decisão da CBF?
Muitas vezes, há erros que detectamos e a imprensa não percebe. Chamamos o árbitro e mostramos o erro, sem afastá-lo. Mas há erros estampados para todos. É como a Justiça comum, que, quando provocada, tem de responder. Se não tivesse essa celeuma, reclamações e se não fosse jogo da TV aberta,
talvez não houvesse afastamento.

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