terça-feira, 20 de março de 2012
Erros de assistentes podem ser causados pela precariedade do olho humano
Apaixonado pelo futebol, o pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Acioli Antonio de Olivo está resgatando um estudo publicado no início da década passada na Nature - uma das mais antigas revistas científicas do mundo – no qual quatro pesquisadores holandeses da Universidade Vrije, analisaram, sob o ponto de vista de uma metodologia científica, a questão dos erros na marcação de impedimentos no futebol.
“Não culpem o bandeirinha” é o que defende o pesquisador brasileiro, baseado nos cientistas holandeses que observaram 200 jogos das principais ligas européias e da Copa do Mundo realizada na França em 1998. Muitos erros dos assistentes, na época chamados de “bandeirinhas”, podem ser debitados à precariedade do aparelho ótico humano.
Sem entrar em detalhes da estatística e matemática por trás do estudo, Acioli de Olivo mostra como foi realizado o experimento e as conclusões a que chegaram. Primeiro, a regra é clara: o estado de impedimento se caracteriza pela existência de um atacante além do último defensor no instante do lançamento da bola, excetuando-se o goleiro. A sinalização desta posição irregular fica a cargo dos auxiliares de linha, que desempenham as suas funções correndo paralelamente à linha lateral do campo, um de cada lado do gramado. O estudo dos cientistas holandeses foi baseado em um experimento que consistia em examinar videotapes de jogos, auxiliados por 3 bandeirinhas experientes, que, em cada lance característico de impedimento, davam a sua opinião sobre o erro ou acerto do auxiliar de linha no jogo.
A primeira dificuldade do auxiliar é flagrar o impedimento no instante do lançamento, pois é humanamente impossível ao olho detectar o lançador e o receptor ao mesmo tempo; ou seja, quando o olhar do bandeirinha está concentrado no lançador e se desloca para o receptor do passe, mesmo que decorram milésimos de segundo, neste intervalo de tempo o atacante pode ter se deslocado mais rapidamente que o zagueiro, caracterizando uma posição de offside que verdadeiramente não existia no instante do passe. Mas, segundo os holandeses, este não é o principal problema enfrentado pelos auxiliares, pois os testes estatísticos realizados rejeitaram esta hipótese como sendo a preponderante na marcação de impedimentos equivocados. O problema principal, segundo o estudo, reside no efeito de como a imagem é formada na retina do olho do auxiliar de linha.
Analisemos os dois principais casos passíveis de gerarem equívoco na atuação do auxiliar de linha. O primeiro, quando o bandeirinha se encontra no lado oposto ao lance e o atacante está na mesma linha do último zagueiro, mas mais próximo à linha lateral que o zagueiro, no instante do lançamento, portanto em posição legal. Entretanto, por estar o atacante mais à esquerda do zagueiro do ângulo de visão do bandeirinha, a imagem que primeiro se forma na retina do auxiliar de linha é a do atacante. Como a decisão tem que ser tomada em frações de segundo, o auxiliar de linha levanta seu instrumento e marca um falso impedimento. No estudo dos jogos analisados foi constatado que em 200 casos como estes, os bandeirinhas erraram 179 vezes, isto é, erraram 89,5% das vezes!!!
O segundo tipo de erro é o de não assinalar uma situação de impedimento, estando o atacante, no instante do lançamento, à frente do último defensor. Esse erro acontece quando o lance ocorre no mesmo lado em que atua o auxiliar, como o atacante estando á frente e mais próximo do auxiliar de linha que o defensor. Neste caso, o ângulo de visão do bandeirinha mostra que, mesmo o atacante estando no momento do passe à frente do último defensor, na sua retina as duas imagens, do defensor e do atacante, estão na mesma linha. Então ele acaba não assinalando o impedimento. O estudo realizado pelos cientistas holandeses mostrou que, neste caso, os bandeirinhas não apontaram impedimento em 84 vezes de um total de 230 situações como esta, ou seja, erraram 36,5% das vezes. Note-se que os bandeirinhas envolvidos nestes erros estavam entre os melhores do mundo.
“Então, meu caro amigo, da próxima vez que você tiver vontade de elogiar a mãe do bandeirinha ou arremessar na nuca do mesmo um radinho de pilhas, lembre-se que a causa do erro pela sinalização ou não de um impedimento que prejudicou o seu glorioso time pode estar, não no bolso do digníssimo bandeirinha, mas na precariedade do aparelho ótico humano”, conclui Acioli de Olivo, que é Pesquisador do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), Mestre em Análise de Sistemas (Modelagem matemática para problemas de transporte) e Doutor em Engenharia Aeronáutica (Modelagem matemática para previsão de enchentes fluviais).
Fonte: Associação Nacional de Árbitros de Futebol (Anaf)
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