Rabelo quer mudanças radicais na arbitragem
Quando
assumiu a direção do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Rio de
Janeiro (Saperj), em 2004, o ex-árbitro e atual presidente da entidade,
Jorge Fernando
Rabello (foto), encontrou um clima de terra arrasada. O sindicato não tinha
sequer um CEP, seus ativos e documentos desapareceram e a instituição
era cliente do SPC e Serasa, bem como havia dividas trabalhistas com
fornecedores. Nove
anos após, esse mesmo sindicato promove pelo quarto ano consecutivo a
festa de confraternização com distribuição de brindes para seus
associados (www.saperjarbitros.com.br)
- e pela primeira vez desde a sua fundação, irá sortear um carro zero
quilômetro nas festividades de final de ano, e, graças ao seu plano
estratégico de investimentos, já garantiu um carro zero, nas futuras confraternizações
até 2019.
Rabello
enfatiza que desde 2006, quando Rubens Lopes, assumiu a presidência da
Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro (FFERJ), é praticado o
"conceito
de sistema" em sua essência e forma, ou seja,
FFERJ/SAPERJ/COOPAFERJ/ARBITROS, com todos fazendo parte de um conjunto
de partes interagentes e interdependentes, que formam um todo unitário
com determinado objetivo e efetuam determinadas funções.
Dada a
importância do futebol e da arbitragem da cidade maravilhosa e as
informações do modelo de gestão da Federação Carioca de Futebol, do
sindicato, da
cooperativa e a fortíssima interatividade existente com os membros do
quadro de árbitros, que são os únicos do futebol brasileiro a
participarem dos lucros obtidos com a exibição das logomarcas nos seus
uniformes, questionamos Rabello via e-mail sobre vários
temas inerentes à arbitragem, e ele de imediato nos respondeu. Confira a
entrevista.
Paranaonline - Quais são as metodologias que serão aplicadas
na pré-temporada aos árbitros que irão atuar no Campeonato Carioca de 2014?
Jorge Rabello –
A partir de 6 a 10 de janeiro próximo, pelo quarto ano consecutivo
iremos realizar nossa
pré-temporada no Centro de Desenvolvimento do Volei, em Saquarema. E,
objetivando aproximar-se da uniformização nos critérios de interpretação
e aplicação das Regras de Futebol, desenvolveremos com os árbitros e
assistentes selecionados, prática no campo de
jogo, teoria no campo de jogo, prática na sala de aula e teoria na sala
de aula.
Paranaonline – Além da interpretação e aplicação das regras e outros fundamentos de arbitragem, há alguma
ferramenta especial que será utilizada na pré-temporada do ano que vem?
Rabello –
O presidente da (FFERJ) Rubens Lopes, que tem uma criatividade
descomunal e valoriza sobremaneira
um dos mais importantes campeonatos do País, após ouvir nossas
sugestões, procurou a empresa que vai patrocinar o carioca de 2014, e
adquiriu o Software "REFEREE FEEDBACK",
que é utilizado pela Fifa, a Uefa e a Premier League, para treinamento dos árbitros e árbitros assistentes.
Paranaonline - Qual é a importância dessa ferramenta para o quadro de arbitragem que é manejado pelo senhor?
Rabello - O
REFEREE FEEDBACK, tem um conteúdo importantíssimo
no estudo das situações de impedimento aos assistentes, no
posicionamento em situações dentro e fora da área penal e traz
informações relevantes ao árbitro central.
Paranaonline - Objetivamente,
esse Software vai proporcionar avanços nas tomadas de decisões dos homens de preto no campo de Jogo?
Rabello -
fundamentalmente o software permite através de sua tecnologia uma
auto-aprendizagem comparativa em tempo real, o que é difícil em outras
condições, bem como fornecer a equipe de instrutores elementos
suficientes para uma análise completa da situação e fornecer ao árbitro e
ao assistente diretrizes para melhorar suas decisões.
Paranaonline – Esse equipamento não existe no mercado brasileiro. Qual é a previsão de chegada do software
e haverá algum treinamento aos instrutores de arbitragem da Federação Carioca de Futebol?
Rabello – Chegará no dia 17 de Dezembro e junto virá um representante da empresa que nos vendeu, para
ministrar dois dias de treinamentos para nossos instrutores estarem aptos a utilizar o software na pré-temporada de 2014.
Paranaonline – A sua federação está aderindo a tecnologia. Como vê as implementações tecnológicas que a
Fifa anunciou recentemente, com o intuito de auxiliar a arbitragem a equacionar lances que fujam do seu campo visual?
Rabello – Minha
opinião
sobre o tema é a mesma de Michel Platini, presidente da Uefa. Antes de
considerarmos a entrada da tecnologia na arbitragem de forma contínua e
desordenada, devemos esgotar todas as possibilidades de aprimoramento e
preparação dos recursos humanos, para
uma partida de futebol. Além do exposto, temos que levar em consideração
que todas as decisões da Fifa e do Board tem consequências em todo o
planeta. E, por último, são tecnologias que requerem grande investimento
financeiro e se aplicada em todos os Países
membros da Fifa, teremos problemas dado o seu alto custo.
Paranaonline – Além da empresa GoalControl, vencedora do processo junto a Fifa na área tecnológica desde
o ano passado, que instala quatorze câmeras (sete em cada meta) e da bola com chip - recentemente o Japão anunciou que está desenvolvendo um estudo com dezesseis câmeras
- (sendo oito atrás de cada
assistente) – com o objetivo de detectar impedimento em tempo real com
precisão milimétrica. Isto não irá mexer
na essência do futebol?
Jorge Rabello –
Sou e serei favorável a tecnologia como instrumento de auxílio à
arbitragem em lances que
escapem do seu campo visual. Agora, conhecendo o conservadorismo dos
velhinhos do International Board, podemos afirmar que o que foi aprovado
até o momento tem foco em lances objetivos, ou seja, ou a bola
ultrapassou ou não a linha de meta na sua plenitude.
Qualquer coisa diferente disso tenho certeza não prosperará. As Regras
de Futebol tem na sua quase totalidade a interpretação, cujo DNA é a
subjetividade.
Paranaonline - Que avaliação faz
do movimento Bom Senso FC? E os árbitros, também sofrem desgaste similar aos atletas, ou quanto mais jogos melhor porque recebem
por partida?
Rabello –
Acho um movimento interessantíssimo, e acima de tudo expõe a ausência de competência e
de unidade dos dirigentes
dos clubes e das federações de futebol em responder com um calendário
objetivo os atletas. Quanto aos árbitros, vejo situação diferente, uma
vez que a quantidade de jogos não interfere tanto quanto nos jogadores,
em razão do esdrúxulo e obsoleto sorteio, muito
embora deva admitir que no campeonato brasileiro deste ano, um grupo
seleto de árbitros e assistentes, devem estar muito cansados, tamanha a quantidade de vezes que foram
escalados em algumas oportunidades de forma sequencial.
Paranaonline – Qual é o legado que a Copa do Mundo de futebol deixará à arbitragem
brasileira?
Rabello – Nenhum. Uma vez que o Mundial é apenas um evento. E o problema da nossa arbitragem não está no
evento, mas no processo.
Paranaonline –
Os árbitros, Leandro Vuaden e Wilson Seneme foram indicados para o
processo pré-seletivo
da Fifa pela CBF, para a Copa. Ambos foram reprovados nos testes físicos
e sumariamente desligados. Na sua opinião, como está a arbitragem
brasileira para o Mundial do ano que vem?
Rabello – Em relação ao Seneme nenhuma novidade. Ótimo árbitro, mas, com um histórico crônico na parte física,
problema que vem desde 2007 nos testes físicos (Fifa/Test). Todos tinham conhecimento das suas limitações. Das
duas, uma: ou a política falou mais alto, ou então sua indicação
foi por falta de opções. Se foi pela ausência de opções, fica explícito
que o processo de renovação realizado no setor do apito, após a Copa da
África do Sul pela CA/CBF, fracassou. Já Vuaden, foi uma decepção e
nunca poderia ter jogado fora uma oportunidade
única.
Paranaonline – E a indicação de Sandro Ricci foi justa?
Rabello – Na verdade o Brasil até o presente instante não sabe qual foi o critério usado nessa indicação.
Heber Roberto Lopes, Marcelo
de Lima Henrique e Paulo Cesar de Oliveira, estão alguns degraus acima
de Ricci, tanto no futebol brasileiro como em âmbito internacional e
foram preteridos. Lembro ainda que o histórico
de reprovações nos testes físicos da Fifa envolvendo a nossa arbitragem,
é antiga e isso faz com que a percepção dos instrutores da entidade
internacional nesse quesito, seja a pior possível em relação aos nossos
apitos.
Paranaonline – Michel Platini, contrário a tecnologia no auxílio à arbitragem,
implementou nas competições da Uefa, os árbitros adicionais (AA) na linha de fundo. Que análise o sr. faz desse experimento?
Rabello – Lembro que essa experiência colocada em prática pela Uefa, tem um
precursor: A
Federação Carioca de Futebol. Os árbitros adicionais foram testados
pela primeira vez numa partida de futebol, na decisão da semifinal
da Taça Rio, em abril de 2008, na partida Botafogo x Fluminense. A Uefa
gostou do que viu e em novembro daquele mesmo ano, implementou-a no
SUB-19 Europeu, disputado na Eslovênia.
Paranaonline –
Posteriormente um dos membros do International Board, Sir. David
Macvicar veio ao Rio de Janeiro observar o treinamento da novidade e
acabou assistindo ao clássico Botafogo x Flamengo, com os árbitros
adicionais. O
que ele disse do que viu?
Rabello
- Na oportunidade ele demonstrou satisfação com o nível de treinamento
e com a praticidade que observou no campo de jogo. Houve discordância em
relação ao lado que deveriam ficar os nominados árbitros. Os nossos
adicionais ficavam postados no lado oposto onde atualmente se posicionam
os (AA). Perguntei os motivos da discordância
e Sir. Macvicar me disse que, colocando o árbitro adicional no mesmo
lado do assistente evitaria que o árbitro central abandonasse a sua
diagonal.
Paranaonline –
Mas as críticas no futebol brasileiro contra os árbitros adicionais e contra o sr. na época foram contundentes. Há quem diga que eles não servem para nada. É procedente
a insatisfação?
Rabello –
Acontece que não basta designá-los e postá-los atrás das metas. É
necessário treinamento de excelência,
como nós fazemos aqui no Rio. Temos vinte e sete federações de futebol,
mas apenas Rio e São Paulo utilizam (AA) nos seus campeonatos estaduais.
Os demais quando escalados no Brasileirão, apresentam dificuldades de
adaptação e em muitas situações ficam perdidos.
Na minha opinião é como atravessar o deserto do Saara sem bússola ou
mapa, pode até conseguir, mas definitivamente não é a forma mais
correta.
Paranaonline - Como
ex-árbitro e agora como
comandante do grupo de arbitragem da Federação Carioca pergunto: O que
vale mais para um bom árbitro: talento, preparação ou personalidade?
Rabello – Penso
que o árbitro é um todo. Parte de outro todo que são seus colegas de
profissão, possui características
psicológicas, talento, personalidade, que terão de ser desenvolvidas
enquanto globalidade. É dessa maneira que entendo não haver
possibilidade de separar o físico do psicológico, talento da
personalidade. Portanto, não há como trabalhar nenhum aspecto de forma
separada ou descontextualizada.
Paranaonline – Como presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Rio de Janeiro que análise faz da
Lei 12.867, que reconheceu a atividade do árbitro como profissional?
Rabello – Em todas as entrevistas que concedi ao ser questionado sobre o fato respondi: Agora a profissão
do árbitro é regulamentada. Vai mudar alguma coisa? Não. Se
formos perguntar aos sonhadores de 2002, que deram origem ao Projeto de
Lei nº 6405/2002, sobre, quais seriam seus objetivos e visão de futuro a
respeito
da profissionalização dos árbitros, seguramente iríamos ouvir alguma
coisa parecida como: “O árbitro de futebol igual a imagem e semelhança
do atleta de futebol”, ou seja:- terá
seus direitos trabalhistas regidos pela CLT, CONCOMITANTEMENTE a Lei nº 9.615/98 (Lei Pelé).
Paranaonline
- O senhor está dizendo que foram subtraídas propostas do Projeto de
Lei 6405/2002, que não foram inseridas na lei que reconheceu o homem de
preto como profissional? Traduzindo: O que foi aprovado é um arremedo?
Rabello - Exatamente.
Veja
o que faltou no projeto aprovado: O árbitro terá sua remuneração
pactuada em contrato formal de trabalho firmado com as entidades que
promovem os eventos (Confederações e Federações). Terá na relação de
trabalho todos os requisitos do art.3 da CLT, onde
todos os árbitros de futebol são considerados empregados, portanto,
observadas as regras da legislação especial (Lei Pelé), seus contratos
seriam submetidos a todas as regras da Legislação Geral (CLT). A
pergunta a ser respondida lá trás em 2002, era: o arbitro
de futebol pode viver da arbitragem sem outra fonte de remuneração? A
resposta era NÃO. Fazemos a mesma pergunta agora em 2013, após a
aprovação da regulamentação da profissão e a resposta é a mesma, NÃO. Resumindo:
A Lei nº 12.867 produz um efeito similar ao você pisar no acelerador do seu carro e ao mesmo tempo na embreagem, ou seja, temos
muito barulho mas o movimento é zero.
Paranaonline – Quais
são os motivos que levam a Associação Nacional de Árbitros de Futebol
(Anaf), a se
manter calada sobre os estratosféricos contratos das publicidade que são
estampados nas meias, bermudas, camisas e nas mangas das camisas dos
árbitros da (Renaf) e não repassar a esses árbitros um único centavo?
Rabello - Infelizmente
a Anaf está sem liderança, acéfala de pessoas, de ideias, projetos e
seus congressos
realizados anualmente não atendem as demandas da confraria do apito
nacional. “Estranhamente” em todos os congressos da entidade é comum
observarmos a presença dos “patrões”, e aí prevalece a política. Agora, a
verdade precisa ser dita: Não se pode colocar
toda a culpa nos ombros a Anaf. Os maiores culpados por tudo que está
acontecendo na arbitragem brasileira, são os próprios árbitros,
sobretudo, aqueles ostentam o escudo da Fifa, que a tudo veem e nada
fazem para mudar o quadro de letargia. Falta coragem,
independência aos apitos da Fifa, que por sua “suposta”
representatividade poderiam se desejassem, sugerir e provocar
transformações significativas na arbitragem nacional em todos os níveis.
Mas, o que se vê, é cada um preocupado
em defender seus próprios interesses e com seu bolso. Não existe entidade forte com árbitros fracos.
Paranaonline
– O continuísmo é uma forma perversa que atrapalha o desenvolvimento de
qualquer segmento. Como evitar a perpetuação de pessoas ou de um grupo
como vem acontecendo há mais de uma década no comando da CA/CBF?
Rabello - Entendo
que
o modelo de gestão que está em vigor na atualidade necessita de uma
mudança urgente, já que de 2007 a 2013, as trocas de comando na CA/CBF
não atenderam as necessidades que a arbitragem do Século XXI exige. Recentemente
fui informado que o ex-árbitro, Sálvio
Spínola Fagundes, deixou a CBF por falta de condições de trabalho. Se
de fato aconteceu, ficará uma lacuna, dado o excelente trabalho que
Spínola vinha realizando com os apitos
pré-selecionados para a Copa do Mundo. O
grande problema do nosso futebol inserido aí a arbitragem, é que os que
estão no poder promovem um tipo de cultura insular, ou
seja, só conversam entre si, afastam a tudo e a todos e as novas ideias
externas ao processo, priorizando de forma especifica suas próprias
convicções e interesses.
Poderia divulgar o curriculum deste senhor que postou suas perguntas e respostas aqui, como, por exemplo, data de nascimento, naturalidade, estado civil, quantos anos de arbitragem, se apitou na Série A e se foi juiz da Fifa? Motivo: gostei muito !
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