Fifa deve se pronunciar ainda nesta semana
Atletas reclamam e veem “discriminação” em não jogar em grama natural
A Fifa tem até a quinta-feira para responder a um requerimento
contundente do Tribunal de Direitos Humanos de Ontário (Canadá). O órgão máximo do futebol mundial
deve reconhecer o recebimento da demanda, colocada por 61 das melhores
jogadoras de futebol do mundo, que reclamam por ter de jogar a Copa de
2015 em gramado artificial, o que consideram “inerentemente
discriminatório”, ou arriscar-se a que o caso seja julgado sem sua
participação. Apesar da FIFA, segundo fontes jurídicas, se agarrar a um
tecnicismo para dizer que não recebeu a documentação pelo canal correto
(“por enquanto é prematuro fazer comentários”), a bola da demanda já
está rolando, e vai em toda velocidade.
“Duvidamos que o futuro do futebol, a nível masculino, seja sobre gramado artificial. As duas próximas Copas
[masculinas] já estão confirmadas e são sobre grama natural. É
discriminação”, explica Vero Boquete, de 27 anos, que sabe que nenhuma
Copa da categoria principal jamais foi disputada em pisos artificiais.
A reclamação inclui em sua demanda três fotos de pernas machucadas e meiões ensanguentados após jogarem no gramado artificial
“Existe também uma razão meramente esportiva: o futebol muda de um
gramado para outro, os tempos de recuperação são diferentes, pois em
campos artificiais o desgaste muscular é muito maior... é uma
desvantagem”, acrescenta a jogadora espanhola, por telefone, que joga na
equipe alemã do Frankfurt.
“Se não podemos oferecer nosso máximo, os espectadores verão um
futebol desvalorizado. Quanto você dá um carrinho ou cai em um campo de
futebol artificial, as feridas são graves. Em nível muscular, a forma
como a perna e o pé prendem-se ao campo são diferentes, as costas, os
joelhos, os tornozelos sofrem mais... Condiciona”, adverte a grande
estrela da seleção espanhola, que se classificou pela primeira vez na
história para uma Copa. “Essa demanda começou nos EUA, com as jogadoras
da seleção norte-americana, e o resto das jogadoras fomos nos unindo ao
protesto e à demanda pois o peso sempre será maior se for em nível
internacional”, encerra a única jogadora espanhola que decidiu apoiar a
iniciativa.
As melhores jogadoras do planeta consideram “discriminação” jogar em
gramado artificial pois “altera a forma como se joga o jogo”; submete
[as jogadoras] a um sério risco de lesão; e “desvaloriza sua dignidade, o
respeito que sentem por si mesmas e seu equilíbrio mental, como
resultado da obrigação de fazê-las jogar em uma superfície de segunda
categoria e diante de dezenas de milhares de espectadores no estádio e
uma audiência televisiva global”.
As jogadoras pedem para ser tratadas como os jogadores, e incluem em
sua demanda três fotos de pernas machucadas e meiões ensanguentados após
jogarem no gramado artificial. Os organizadores argumentam que a
demanda não deve ser atendida em caráter urgente, como pedem as atletas,
pois houve tempo suficiente para apresentá-la desde 2011, quando foi
anunciado o local (Canadá) e de que forma (em gramado artificial) o
torneio seria organizado. A partir de então, lembra a federação
canadense em um comunicado, as seis cidades-sedes tiveram vários gastos
para organizar a competição. O debate, finalmente, arrombou as portas
dos escritórios para aparecer entre as paredes dos vestiários, onde três
jogadoras denunciaram que tiraram sua assinatura da demanda em
consequência das pressões de suas federações nacionais.
Contatados por esse jornal, nem Ignacio Quereda, treinador espanhol,
nem a federação, através de seu porta-voz, quiseram dar sua versão sobre
a denúncia dos representantes legais das jogadoras, que argumentam que
as atletas estão sendo pressionadas por suas próprias seleções para que
abandonem a demanda ou não participem dela.
É o caso da mexicana Teresa Noyola, que foi ameaçada com a
desconvocação, ou das francesas Camille Abily e Élise Bussaglia, que
ficaram sabendo que sua posição prejudicava as possibilidades da
candidatura da França para organizar a Copa do Mundo feminina de 2019.
“A federação canadense nega categoricamente ter tomado represálias
contra quaisquer das demandantes”, disse o órgão em um comunicado.
A maioria das jogadoras, enquanto isso, está em silêncio. A bola ainda não começou a rolar, mas a Copa já está em disputa.
Fonte: http://brasil.elpais.com/brasil
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