Cartão vermelho: violência caminha lado a lado com os árbitros e assistentes de futebol Arbitragem
Levantamento do Instituto Paraná Pesquisas mostra que 38% dos árbitros e assistentes do futebol local já foram agredidos
André Pugliesi/Gazeta do Povo
Ser árbitro ou assistente no futebol no estado é flertar com o perigo. Levantamento exclusivo aponta que 38% dos juízes ou bandeirinhas locais já foram agredidos no exercício do trabalho.
A pedido da Gazeta do Povo, o Instituto Paraná Pesquisas ouviu 131 profissionais do quadro da Federação Paranaense de Futebol (FPF), nos dias 7 e 8 de março, e o resultado mostrou o quanto mediar partidas é inseguro nos estádios da capital ou interior.
Walter Alves/ Gazeta do Povo
Ampliar imagem O árbitro José Mendonça recebe socos e pontapés dos jogadores do Urano
Sem surpresa
Principal nome do quadro estadual de árbitros, ao lado de Héber Roberto Lopes, Evandro Rogério Roman não se mostrou surpreso com os números revelados pela pesquisa. “Achei pouco até”, fala o também secretário de esportes do Paraná, ao ser questionado sobre os 14% dos entrevistados que disseram já terem sido alvos de tentativas de corrupção. “Onde existe poder, existe assédio. Falando no popular, a cantada é livre, o importante é o árbitro não ceder à pressão”, segue.Sobre a violência, o apitador afirma que já foi muito pior. “Depois do Estatuto do Torcedor [maio de 2003] melhorou muito. O agressor passou a ser responsabilizado criminalmente. Somos mais respeitados”.
Manipulação
Tentativas de suborno persistemAlém da preocupação com a violência, outro número revelado pela sondagem do Instituto Paraná Pesquisas chama a atenção. A procura por favorecimento nos resultados das partidas é algo que continua atormentando o mundo da bola. Dos 131 entrevistados, entre árbitros e assistentes, 14% afirmaram já terem passado por tentativas de corrupção.
“Certa vez, eu recebi uma ligação perguntando se eu poderia ajudar determinado clube. E isso aconteceu em campeonato profissional. Recusei imediatamente”, declarou um árbitro membro do quadro da Federação Paranaense de Futebol (FPF) que pediu para permanecer no anonimato.
Para piorar a situação, 56% dos que responderam “sim” à pergunta preferiram se calar diante da proposta de manipulação. Apenas 44% afirmaram ter dado ciência do ocorrido à FPF e somente 6% optaram por levar o caso para a esfera policial.
Em 2005, o futebol paranaense foi sacudido pelo “Caso Bruxo”, um escândalo de corrupção na arbitragem local. Na esfera esportiva, seis pessoas foram eliminadas do futebol e outras quatro acabaram afastadas. A questão foi parar também na Justiça Comum e detonou um processe de reformulação no setor.
Cenário hostil que transmite insegurança aos responsáveis por mediar o jogo. Ao todo, 31% dos árbitros e assistentes disseram que não se sentem seguros no trabalho – 9% responderam “mais ou menos”, reforçando o sentimento. E 55% já se sentiram ameaçados antes ou durante aos jogos.
“Faz parte da cultura do futebol brasileiro culpar sempre o juiz. Nós somos xingados antes de a bola rolar. Sabemos que há pedras na profissão, mas não podemos desistir por conta disso”, lamenta José Mendonça, árbitro da FPF há três anos e personal trainner.
Em novembro do ano passado, Mendonça teve de trocar socos e pontapés com jogadores do Urano, após anular um gol da equipe pela semifinal da Suburbana de Curitiba. “Poderia ter sido um problema grave se não tivesse bastante policiamento no local”, relembra.
As competições amadoras são o principal foco de truculência. No circuito profissional, há mais segurança e, principalmente, punição para clubes, jogadores e/ou torcedores que perderem a linha.
“É raro algum tipo de incidente no profissional”, comenta Luiz Carlos Nunes, árbitro desde 1995 e assistente de logística. Em outubro do ano passado, Nunes foi agredido por um jogador reserva do Grêmio Ipiranga no confronto com o Flamengo, pela Série B da Suburbana. Por causa disso, decidiu não renovar a inscrição este ano.
As confusões recorrentes da temporada 2011 chegaram a motivar um protesto da categoria, reclamando por segurança. No início de novembro, cerca de 50 integrantes do quadro amador da FPF assinaram um pedido de retirada da escala do fim de semana. Na oportunidade, a Polícia Militar alegou que não tinha contingente para acompanhar tudo.
Era uma reação ao incidente que mandou o assistente Julio Cezar de Lima Santos para o hospital por causa de um chute na cabeça. Ao lado do árbitro Anderson Scátola e do auxiliar Jefferson Piva, Lima foi encurralado por mais de 30 jogadores das equipes adulta e júnior do União Ahú.
Procurado pela reportagem, Afonso Vítor de Oliveira, presidente da Comissão de Arbitragem da FPF, não quis comentar a pesquisa.
“Por que querem saber da minha opinião? Quero saber quem é que disse. Não vi isso na minha gestão. Não tenho esse número nos meus arquivos. Quem falou pode ter sido [agredido] em 1.800... não me interessa“, diz.
Nota do Apito do Bicudo: o relato corajoso de algumas personagens da confraria do apito paranaense, reflete com rara precisão o descaso a que foi submetido o quadro de árbitros da Federação Paranaense de Futebol. Este colunista tem conhecimento nos últimos anos de pelo menos quatro agressões físicas perpetradas no futebol suburbano da capital paranaense, contra árbitros. Há quem diga, que no interior também aconteceu, mas lá "tá tudo dominado". Inclusive tenho cópia de dois Boletins de Ocorrência Unificado, que foram confeccionados no CIAC/SUL/, 8º distrito policial de Curitiba, envolvendo as selvagens agressões que foram perpetradas contra árbitros da FPF.
Outrossim, não me surpreende que os fatos lamentáveis narrados nesta matéria, não sejam do conhecimento de Afonso Vitor de Oliveira, presidente da Comissão de Arbitragem da FPF. Há oito anos ininterruptoos é assim. Nas raríssimas vezes que falei com o indigitado dirigente sobre os problemas de arbitragem via fone ou pessoalmente, sua resposta para os temas elencados, foi: não ouvi, não li e vou procurar saber. O mesmo procedimento foi adotado por Afonso Vitor de Oliveira, quando foi vice-presidente da Associação Profissional de Árbitros de Futebol do Paraná, gestão Nelson Orlando Lehmkhul, quando foram "desviados" dos cofres da entidade - (trezentos e sessenta e sete mil, setecentos e quatorze reais e quatorze centavos). Indagado sobre o ocorrido, quando era vice-presidente, Afonso Vitor de Oliveira, disse que desconhecia, embora andasse com Lehmkhul tal qual irmãos siameses. Posteriormente, quando investido do cargo de presidente da associação dos árbitros, alertado pela TRIBUNA DO PARANÁ e GAZETA DO POVO, que publicaram matéria, por este colunista e outros árbitros e ex-árbitros a respeito do fato, omitiu-se.
Assim procede Afonso Vitor de Oliveira, há oito anos ininterruptos como responsável pelo setor de arbitragens do Paraná. Neste período, ele e seus congêneres, Gerson Baluta, Waldemar Henrique dos Santos e José Amaral, não tiverma a capacidade de revelar um único árbitro sequer para ser indicado como Asp/Fifa da CBF. E o que é pior: não há a mínima perspectiva de quem isto vá acontecer a curto e médio prazo. Enquanto isso, as demais federações de futebol do País, agradecem pela inércia do setor de arbitragem do futebol do Paraná, que vai dando a cada temporada passos gigantescos na vanguada do atraso.
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