Foto: Manoel Serapião Filho - albertohelder.blogspot.com
Na reunião geral anual de nº 122ª do International Board, realizada em 8 de março de 2008, na cidade de Gleanagles (Escócia), o Board autorizou o experimento de dois árbitros assistentes adicionais atrás das metas. No mês de outubro do mesmo ano, o Board autorizou o experimento nas partidas do Campeonato Europeu Sub-19, realizado no Chipre, na Eslovênia e na Hungria. Em fevereiro de 2009, na sua reunião geral anual de nº 123ª , em Newcastle, (Irlanda do Norte), foram apresentados os primeiros resultados da experiência com árbitros assistentes adicionais no aludido torneio. Diante dos resultados auspiciosos, o Board aprovou o experimento em competições de maior envergadura técnica e criou uma comissão que definiu os critérios definitivos para a implementação dos assistentes adicionais.
Após os ajustes ultimados com vistas à experiência, em maio de 2009 a Fifa e o Board anunciaram que os assistentes adicionais serão lançados na Liga da Europa da Uefa na temporada 2009/2010. Em setembro/09, acontece a primeira partida com os assistentes extras e o fato se estende em todas as demais 144 partidas da Liga Européia. Posteriormente, dada a magnitude e eficiência da experiência e sobretudo dos episódios negativos que ocorreram com a arbitragem na última Copa do Mundo, realizada na África do Sul, a Fifa e o Board decidiram que os assistentes adicionais deveriam ser implementados na Champions League na temporada 2010/2011, cujos resultados foram considerados extraordinários pela entidade que controla o futebol no planeta. Inclusive com autorização para sua utilização na Eurocopa 2012, que acontecerá na Polônia e Ucrânia.
Os membros do Board decidiram que as funções precípuas dos assistentes adicionais seriam de apoiar o árbitro, detectar infrações que fujam do campo visual dele, ajudar a minimizar os equívocos de arbitragem e persuadir, sempre que necessário, os atletas de cometerem infrações dentro da área de pênalti. Também ficou decidido que a introdução dos assistentes adicionais não implicaria em alterações nas Regras do Jogo de Futebol e eles seriam objeto de informação com as decisões finais sobre os fatos ocorridos ou narrados pelos mesmos a critério do árbitro central.
Os dois principais campeonatos estaduais do país (São Paulo e Rio de Janeiro), realizaram a experiência este ano com os assistentes extras e em alguns casos houve muita controvérsia. Porém, o experimento que mais agradou o enviado da Fifa ao Brasil para analisar este tipo de trabalho foi o campeonato paulista de futebol. Diante de tudo que o internauta já escutou, observou e analisou, transcrevo o mais recente estudo sobre o tema realizado pelo membro da CA/CBF, Manoel Serapião Filho, um estudioso do assunto arbitragem que encaminhou ao Dr. Donald Mc Victor, o homem da Fifa responsável pelas análises em todo o planeta sobre a questão dos (AAA).
Caro Donald Mc Victor,
Para sua análise, apresento-lhe meu entendimento sobre o posicionamento dos (AAA) Árbitros Assistentes Adicionais, que, a meu ver, deveria ser ao lado direito da meta e não ao lado esquerdo, como previsto no experimento.
Antes de tudo, observo que o posicionamento ora sugerido, além de possibilitar que os (AAA) realizem, com igual eficácia, todas as tarefas previstas no experimento (marcação de “gols ajustados”; de saídas da bola pela linha de meta; e ajudar o árbitro a controlar a partida), traria muitas vantagens que o posicionamento estabelecido no experimento não traz, até porque, ao que tudo indica, o posicionamento previsto no experimento levou em conta mais o “desenho” dos árbitros em campo do que a técnica da arbitragem.
Eis, entre tantas outras, algumas das vantagens que o posicionamento que entendo ser correto traria:
- Total eliminação da denominada e muito complexa “zona cinzenta” – faixa de campo que fica entre o árbitro e os atuais árbitros assistentes;
- Evitaria, por conseqüência, o deslocamento do árbitro central para o lado direito do campo, que o obriga a passar pela zona de arremate e possibilita que, não raro, atrapalhe o jogo.
É oportuno lembrar que a Fifa, exatamente por causa da possibilidade de o árbitro atrapalhar o jogo, sempre desaconselhou tais deslocamentos;
- Também por consequência, seria mantido o sistema de deslocamento diagonal hoje praticado e que já está absorvido, até por reflexo, sem esquecermos de que os árbitros sempre teriam, simultaneamente, em seu campo de visão, ambos os Árbitros Assistentes (o atual e os dois AA);
- Ademais, os árbitros controlariam, com imensa facilidade, as jogadas ocorridas no lado esquerdo do campo e, o que é de fundamental importância, poderiam posicionar-se de modo a ver lateralmente as jogadas da área de pênalti.
Vale ser dito que essa possibilidade de visão lateral das jogadas não se verificará, como os vídeos do experimento revelam, com o posicionamento previsto no projeto, porquanto para alcançá-la o árbitro será obrigado a dar as costas para o árbitro assistente, o que, por igual, fere todos os princípios de arbitragem;
- Mas não é só. Além de tudo, registro que em jogadas frontais à meta, segundo o posicionamento do experimento, tanto o árbitro como o árbitro assistente adicional têm suas visões obstruídas pelos corpos dos jogadores que disputam a bola, como se percebe nos vídeos ilustrativos, possibilitando cometimento de erros, ao contrário do ideal, em que, ao menos um dos integrantes da arbitragem, veja ambos os jogadores lateralmente;
- Outra vantagem que antevejo do posicionamento ora sugerido será a facilidade de determinação, pelo árbitro assistente adicional, do local exato das faltas a favor do ataque (se dentro ou fora da área de pênalti), quando ocorridas no lado direito do campo e próximas à linha da área de pênalti perpendicular à linha de meta.
A propósito dessa observação, vale o registro de que os árbitros assistentes não têm boa visão de tais faltas, sobretudo das cometidas pelo alto e de todas ocorridas em campos mal marcados, o que continuará obrigando o árbitro a se deslocar muito para o lado direito do campo, acarretando dificuldade de visão das jogadas subseqüentes ocorridas na área de pênalti;
- Mais uma vantagem que antevejo no posicionamento ora sugerido é que quando tais faltas ocorressem nas proximidades da indicada linha da área de pênalti – da natural diagonal do árbitro -, a decisão seria tomada com total facilidade e segurança, porquanto não haveria razão para o árbitro abandonar a diagonal e deslocar-se para o lado direito do campo, uma vez que tal região estaria plenamente fiscalizada pelo (AAA) e pelo atual árbitro assistente;
- Prosseguindo, recordamos que o posicionamento dos árbitros nas faltas próximas às áreas de pênalti pelo lado esquerdo do campo também seria facilitado, pois hoje eles ficam em situação muito incomoda: se posicionam à direita da bola e são obrigados a recuar mais do que o ideal, tanto para fiscalizar a barreira, como para não perder o assistente de vista, bem assim para não ficarem na linha de passe lateral. Acrescente-se que tais circunstâncias afastam o árbitro da área de pênalti, onde os conflitos ocorrem. Logo, os árbitros poderiam posicionar-se na diagonal, sem perder de vista a bola, a barreira, seus assistentes e a zona de conflito do lado de sua diagonal, porquanto os lances do lado oposto estariam sendo fiscalizados pelo árbitro assistente adicional e de uma posição privilegiada, com plena visão, portanto;
- Assim, todas as áreas do campo estariam sempre cobertas; os árbitros naturalmente bem colocados, com facilidade de verem seus assistentes simultaneamente e sem necessidade de lhes dar as costas; o esforço físico seria naturalmente diminuído e, portanto, evitaria cansaço mental, que tanto dificulta tomada de decisão correta;
- De outro passo, nas cobranças de pênaltis os árbitros assistentes não precisariam se deslocar para a junção da linha da área de pênalti com a linha de meta, posicionando-se, de logo, para fiscalizar os impedimentos, na hipótese de o pênalti não ser convertido e a bola permanecer em jogo. Tudo porque as atribuições nos pênaltis dos árbitros assistentes passariam a ser de competência natural dos (AAA);
- Ressaltamos que a proximidade geográfica do futuro (AAA) ao atual árbitro assistente não gerará qualquer conflito, tanto porque suas funções serão distintas, conquanto complementares, como porque uma arbitragem bem planejada – trabalho em equipe – o impedirá.
Concluindo, antevemos que, se não houver alteração do projeto para modificar a posição dos (AAA) para o local ora proposto, haverá perda de valiosa oportunidade para eliminar a “zona cinzenta” e para facilitar todo o trabalho da arbitragem, culminando na conclusão de que o custo benefício do projeto, embora de todo válido porque objetiva acerto, resultará muito minimizado.
Há mais observações, muito mais. Todavia, as ora apresentadas já são suficientes para reflexão sobre o assunto.
Para finalizar, registro que não tenho dúvida de que a Fifa e seus instrutores, preparados como são, já devem ter feito analise da matéria, razão por que aguardo, ansiosamente, suas considerações.
Reitero, por fim, que essas ponderações estão apenas no campo das idéias e que, não influenciarão, absolutamente, a execução do projeto como determinado, do qual somos encarregados no Brasil.
Atenciosa e respeitosamente,
Manoel Serapião Filho
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