Fora da Conaf, Sérgio Corrêa revela apoio de José Maria Marin,
presidente da CBF, para combater doença que diz ter sido a responsável
por seu afastamento do comando da arbitragem. Para o agora responsável
pelo recém-criado Departamento de Árbitros o gaúcho Leandro Vuaden é o
segundo melhor árbitro do Brasil.
Sérgio Corrêa não guardou nenhum rancor por ter sido retirado
da presidência da Comissão Nacional de Arbitragem (Conaf) por José
Maria Marin, há menos de um mês. Ao contrário. Agora responsável pelo
recém-criado Departamento de Arbitragem da entidade, ele se aconselhou
com o próprio mandatário da Confederação Brasileira de Futebol (CBF)
para combater uma doença motivada pelo estresse que acumulou na antiga
função. Corrêa admitiu sofrer de herpes-zóster, virose incurável e decorrente de
uma variante do vírus da herpes, a mesma que provoca a varicela (a
popular catapora). As dores na face já fizeram com que o antigo homem
forte da arbitragem nacional desejasse ser atropelado por um caminhão.
Segundo ele, seriam também a principal causa da saída da Conaf - e não o
fato de o assistente Emerson Augusto de Carvalho ter ignorado três
impedimentos consecutivos no lance do segundo gol da vitória do Santos
sobre o Corinthians por 3 a 2, pela 18ª rodada do Campeonato Brasileiro.
Polêmicas como aquela, que antecedeu a mudança na Conaf, contudo, não
afligem mais Corrêa. Com um cargo burocrático dentro da CBF, o
ex-oficial da Aeronáutica tem menos preocupações e mais tempo para
tratar a doença. Ele ainda contesta quem acusa a existência de uma
"grande quadrilha" na entidade, porém já saiu de foco.
Na sexta-feira 14 de setembro, tirou licença com o intuito de consultar médicos
recomendados por José Maria Marin e pelo vice Marco Polo Del Nero, que
também comanda a Federação Paulista de Futebol (FPF), antes de viajar a
Guaratinguetá (SP) e continuar a organizar um livro de memórias. Cogitou
ainda fazer acupuntura e até uma cirurgia, que lhe tiraria a
sensibilidade tátil do rosto.
Enquanto Sérgio Corrêa descansa, cuida da saúde e escreve uma espécie de
biografia, o substituto Aristeu Leonardo Tavares trabalha para diminuir
os problemas do habitualmente contestado quadro de árbitros da CBF.
O coronel da Polícia Militar chegou a falar que não pretende aproveitar
"nada" do trabalho de renovação feito na gestão passada da Conaf -
e voltou atrás depois. O que não foi suficiente para abalar o
antecessor, orgulhoso por ter contribuído com uma melhora de 30% (de
acordo com autoavaliação) da arbitragem brasileira nos últimos anos.
Confira abaixo a entrevista com Sérgio Corrêa:
Como está a sua vida após a mudança de cargo na CBF? Soube que o senhor está escrevendo um livro.
Mas não há nada de polêmico neste livro. Fique tranquilo quanto a isso
(risos). É uma obra normal, contando a minha trajetória de 30 anos de
futebol, rememorando as atuações que tive em lutas sindicais, na
arbitragem. Quero aproveitar a minha experiência no meio para mostrar um
pouco das diferenças entre cada uma das atividades que exerci. Afinal,
vivi o campo de jogo e a área administrativa do esporte. Depois de ser
árbitro, pude ver a minha profissão por outro lado, brigando pelo
reconhecimento dela, trazendo melhorias para a categoria nos âmbitos
estadual, nacional e até internacional. Estou trabalhando novamente com
essa parte de administração agora. Você sabia que a Fifa não tinha, até
2010, um regulamento que tratasse de organizar a arbitragem nas suas 208
entidades filiadas? Este regulamento prevê a formação das comissões de
arbitragem nos países, com presidente, vice... Dentro de cada comissão,
temos questões administrativas em termos de desenvolvimento, com cursos
para árbitros, distribuição de materiais didáticos, métodos de avaliação
e classificação, instituição de quesitos para definir acessos e
descensos de categorias, obtenção de recursos e muitas outras coisas.
Também há... Mas espere um pouco. Estou falando demais. Você quem
deveria fazer a entrevista, as perguntas, não é?
Com tanta empolgação, vejo que o senhor está satisfeito com a nova função que assumiu.
Rapaz... Sempre trabalhei na área administrativa, desde a Força Aérea.
Tenho experiência no assunto. Fui sindicalista e gostei tanto dessa
parte de gestão que fui adquirindo um conhecimento profundo. A escala de
arbitragem para os jogos de futebol é só o resultado final do trabalho
realizado pela comissão, que antes tinha tudo centralizado, com uma
estrutura mais informal. Mas existe a base técnica para um árbitro se
sair bem. Não adianta fugir disso. Sempre enfatizo para o nosso corpo de
instrutores de árbitros a importância do trabalho deles. O sucesso de
uma escala depende de muitos fatores. Veja: sempre colocamos os dois
melhores árbitros do Brasil para o sorteio dos jogos importantes e, às
vezes, isso não basta.
O senhor se lembra de algum caso emblemático que exemplifique essa situação?
No final de 2009, o Simon (Carlos Eugênio, hoje aposentado)
estava muito bem preparado e venceu o sorteio para apitar uma partida
entre Fluminense e Palmeiras, decisiva para o Campeonato Brasileiro. O
Belluzzo (Luiz Gonzaga, ex-presidente palmeirense) não
gostou da atuação da arbitragem e fez um grande escândalo na época, o
que até acabou gerando um processo. E olhe que o Simon estava se
preparando para ir à terceira Copa do Mundo da carreira. É complicado
administrar essas coisas. Em determinada época, os comentaristas
reclamavam da grande quantidade de árbitros jovens no Campeonato
Brasileiro. Só que ninguém teve a capacidade de observar que todos os
nossos árbitros mais conhecidos estavam sendo utilizados nas
Eliminatórias para o Mundial. É duro.
Imagino que a pressão sobre o presidente da Comissão Nacional de
Arbitragem seja tão grande quanto ou maior do que a enfrentada por um
árbitro de futebol.
Tudo isso me cansou demais. Nos últimos
cinco anos em que me dediquei à comissão, toda a carga de trabalho e a
pressão sobre as minhas costas geraram estresse e uma grave enfermidade,
de que estou me recuperando aos poucos. Eu queria ter saído antes da
presidência. Faz dois anos que eu estava mantendo conversas neste
sentido com a direção da CBF, avisando sobre a minha necessidade.
Fiquei, inclusive, afastado de 21 de maio a 22 de agosto para me tratar.
Desculpe-me pela pergunta, mas qual foi a doença que o senhor contraiu?
Zoster, que vem do mesmo vírus da catapora. Atingiu um nervo da minha face. Não existe muito remédio para isso.
Conheça a Zoster
Popularmente chamado de "cobrão" ou "cobreiro", a herpes-zóster
(também conhecida como zoster e zolster) é uma virose provocada pelo
vírus varicela-zóster, o mesmo da varicela (catapora). A doença é de
incidência rara e gera afecções na pele, geralmente atingindo pessoas
com baixa defesa imunológica, aquelas que sofrem de estresse ou os
pacientes de AIDS.
O vírus da varicela-zóster costuma permanecer dormente,
manifestando-se em cerca de apenas 20% da população. Na maioria dos
acometidos, continua incubado no interior de gânglios do sistema
nervoso. Quando o sistema imunológico está debilitado, ocorre a
deflagração da enfermidade.
A herpes-zóster pode causar lesões discretas ou numerosas, com
formações de vesículas (bolhas) na pele, mas jamais ultrapassa a linha
média que divide o corpo em lados direito e esquerdo. Se a doença
acomete a face (como ocorreu com Sérgio Corrêa), pode comprometer os
nervos que vão para o olho e provocar ceratite, uma inflamação da
córnea.
Os primeiros sintomas da herpes-zóster são formigamento e dores na
região onde aparecerão as lesões, além de indisposição e febre baixa em
algumas situações. As bolhas surgem depois, gerando um incômodo ainda
mais forte e até pontadas e coceira. As sensações costumam ser brandas
entre crianças e jovens infectados, com duração inferior a um mês;
porém, em pessoas de idade mais avançada, o problema pode se prolongar
por anos.
Os pacientes que persistem com dor após a manifestação da
herpes-zóster tem a chamada neuralgia pós-herpética, que ocorre em
aproximadamente 14% dos casos - na maior parte deles, com pessoas com
idade acima de 60 anos.
O tratamento da herpes-zóster se dá basicamente através de
antivirais. A transmissão da doença acontece com o contato com as
secreções contidas nas vesículas, assim como na varicela e no herpes
simples, e é facilitada quando a pessoa receptora está com baixa
imunologia.
Foi o estresse de chefiar a Comissão Nacional de Arbitragem que desencadeou a enfermidade?
Não tenho dúvidas disso. O médico que estava tratando de mim não sabia
qual era o meu emprego. Quando contei que administrava a arbitragem
brasileira, ele entendeu na hora a causa do problema. O estresse fez
isso comigo. Tenho muitas dores do lado esquerdo da face. Sinto um
estranhamento até nos cabelos, no globo ocular. É algo constante, que me
incomoda 24 horas por dia. Já ouvi dizer que esse tipo de dor é mais
forte do que aquela provocada por pedras no rim.
Deve ser insuportável, então.
Algumas pessoas cometem
suicídio por não aguentar a dor que eu sinto. Não cheguei a esse ponto,
mas, nos primeiros dias de doença, juro que tive vontade de me atirar
debaixo de um caminhão.
A única solução para aliviar o problema era deixar o comando da Comissão Nacional de Arbitragem?
Quando saí da comissão, tirei uma tonelada das minhas costas. Havia
também o sacrifício de deixar a minha família em São Paulo, tendo que
seguir sempre a ponte aérea para o Rio de Janeiro. Fiz um bom trabalho,
gostoso e reconhecido, mas igualmente desgastante. Estou em outra fase
da minha carreira agora. As dores na face, no entanto, continuam.
O senhor contou que vinha planejando a sua saída há pelo menos
dois anos. Mas, ainda assim, não ficou surpreso quando soube da decisão
do presidente José Maria Marin em relação à Conaf?
O presidente
Marin acompanhou o meu sofrimento. O presidente Ricardo Teixeira também
tinha conhecimento do que eu estava e ainda estou passando. Fui levando à
frente da comissão durante algum tempo. Por isso, não fiquei surpreso
no momento da mudança.
A relação com o Marin continua igual?
É claro que sim. O
presidente mesmo me indicou um médico da confiança dele para eu me
tratar, assim como o Marco Polo Del Nero. Estou arrumando as minhas
coisas para entrar de licença novamente agora e quero ir a esses médicos
competentes, em São Paulo. Se o tratamento não resolver, talvez eu faça
acupuntura ou uma cirurgia neuropática para isolar o nervo afetado. Mas
teria a contrapartida: eu ficaria com essa área da face meio que
paralisada; levaria um tapa na cara e não sentiria nada, por exemplo.
Vamos ver. Estou saindo da minha sala daqui a pouco e vou para a minha
cidade, Guaratinguetá, descansar um pouco. Gosto muito de trabalhar,
mas, com a dor que estou, é duro. Tomara que eu volte ao batente melhor
depois.
Mesmo com o Marin ao seu lado, o momento para anunciar a troca de
comando não foi inoportuno? Logo após o erro crasso de um assistente no
clássico entre Santos e Corinthians...
Vou te confidenciar uma
coisa, jovem: era eu quem mais falava para que houvesse uma
reformulação. Já havia pedido para ficar afastado, como te disse. Notei
que eu estava cansado. O ciclo tinha sido concluído. Estava na hora de
fazermos uma substituição, que já vinha sendo adiada. Tudo tem um fim. É
como acontece com os técnicos de futebol. Ninguém pode ficar tanto
tempo em um cargo. Foi bom mexer na comissão, mesmo trazendo pessoas que
já integravam o nosso grupo.
O Marin não citou o erro do assistente contra o Corinthians quando conversou com o senhor?
Aquele lance não foi comentado em nenhum momento. Nenhum. Parte da
imprensa até pode mencionar o Corinthians, mas não tem nada a ver.
Sabemos que houve uma queda de rendimento da arbitragem em dado
instante. Mas a conversa com a presidência sempre foi no mais alto
nível, tanto com o Ricardo Teixeira quanto com o José Maria Marin. Nunca
ninguém nos fez cobranças ou exigências.
O fato de as pessoas associarem a sua saída ao gol validado do
Santos contra o Corinthians, muitas vezes até de maneira crítica,
incomoda o senhor? Ou já está calejado pelo longo tempo de trabalho na
CBF?
É claro que a gente fica triste com algumas coisas que
escuta aqui e ali. Nós mesmos achamos que podemos dar mais sempre. Mas
tudo bem. A vida é assim. Posso ficar repetindo isso durante a vida
toda, que ninguém acredita: a CBF é limpa, clara. As pessoas acham que
temos uma grande quadrilha lá dentro. Isso não existe. Quem é culpado
por uma má arbitragem? A nossa comissão? Os treinadores dos árbitros? O
ser humano, que está suscetível ao erro? Posso garantir que, até 2007,
as coisas eram muito piores. Não se conhecia a arbitragem brasileira.
Fizemos um grande mapeamento do quadro de árbitros e deixamos uma base
de trabalho para o novo presidente da comissão.
O Aristeu Tavares, seu substituto na comissão, disse que não
pretende tirar proveito de "nada" do processo de renovação da arbitragem
que vinha sendo feito pelo senhor.
A declaração não foi bem
assim. Devemos interpretar o que ele falou. É claro que a base que
deixei pode ser aproveitada. O que o Aristeu quis dizer é que cada um
tem as suas convicções. Ele vai conduzir a comissão da maneira dele, e
não da minha. Não me envolvo mais no processo. Já foi desgastante o que
passei. Chega. Em 2005, quando estava ao lado do Edson Resende, dava
vontade de chorar com o que víamos no País. Fizemos um diagnóstico do
quadro de arbitragem nacional, e as coisas começaram a mudar. Criamos um
plano de carreira para os árbitros. Milhares deles passaram pelo nosso
treinamento. Disponibilizamos material didático, que não havia.
Intensificamos a preparação física, que já está com 85% de aprovados.
Antes, apenas oito federações faziam pré-temporada para seus árbitros.
Chegamos a 24. Isso é essencial. Em 1970, o árbitro corria 4 km por
jogo. São 12 km hoje em dia, e vai aumentar. Sem falar que, em 2007,
tínhamos 96 árbitros com nota inferior a 6 nos testes aplicados. Era um
absurdo. Em 2010, esse número caiu para quatro árbitros. Em parceria com
as federações, listamos 29 árbitros promissores naquela época, e 75%
deles estão aí ainda, trabalhando na Série A. Fizemos a ouvidoria e a
corregedoria. É a base que eu mencionei. Tudo isso foi um processo de
mudança de mentalidade, lento e necessário. Colocamos o carro para
andar. Cabe à nova comissão, mesmo pegando no meio do caminho, dirigir
bem. Se quiserem, estou aqui para dar suporte ao projeto.
(Após
conceder esta entrevista, Corrêa fez questão de enviar por e-mail uma
notícia de um site sobre arbitragem, na qual Aristeu desmentia a
declaração sobre o trabalho de renovação de seu predecessor na Conaf.)
Como está a renovação do quadro nacional de árbitros?
Felizmente, isso vem sendo feito de modo correto e gradativo. No
passado, tínhamos só 5% dos nossos árbitros com menos de 30 anos.
Elevamos a quantidade para 20%, depois para 33%, e agora já deve saltar
para 42%. Em 2009, diminuímos a idade limite de ingresso de árbitros na
CBF para 30 anos. Tomamos medidas amargas para alguns, estando sujeitos a
uma diversidade de críticas, mas diminuímos a faixa etária da
arbitragem dessa forma. Você sabe como é: sempre existem aqueles papos
de não querem mudar algumas coisas que estão estabelecidas.
Em suas entrevistas, o Aristeu também tem se posicionado contra o
sorteio para definir a escala de arbitragem. O que o senhor pensa a
respeito?
Na condição de dirigente de arbitragem, também sou
contra o sorteio. Conheço bem a formação de árbitros e sei que há vários
meios de analisar essa questão. O árbitro jovem tem mais chances de
atuar com o sorteio, entrando de cabeça na profissão. Mas um experiente,
como o Simon, já ficou mais de um mês sem ser escalado por causa disso,
perdendo seguidos sorteios. Isso prejudica o ritmo do profissional, o
seu investimento. A partir de 2009, minimizamos o problema colocando
apenas dois árbitros em cada sorteio, com o sistema de colunas.
É possível acabar com os sorteios?
Faz nove anos que o
Brasil tem esse sistema. É a legislação. Não podemos ir contra o que
está estabelecido. Se você quer mudar alguma coisa, precisa alterar a
lei primeiro. Os árbitros já foram várias vezes a Brasília para abordar a
questão do sorteio. Existem até correntes que querem todo mundo
envolvido no mesmo sorteio. Mas, com um País desse tamanho, como
faríamos? É o mesmo raciocínio dos comentaristas, quando falam que
deveríamos reunir o quadro de arbitragem inteiro para analisar a rodada
durante a semana. Gente, o Brasil é muito grande. Fazemos esse tipo de
coisa nos nossos cursos regulares. Fora que existem diferenças
regionais, peculiaridades. Acredita que algumas federações já quiseram
até criar regras próprias? Um absurdo. Para promover alterações
positivas, é preciso pensar, projetar e executar direito.
Falando em mudanças, qual é a sua opinião sobre a sempre
comentada profissionalização da arbitragem? Seria uma iniciativa válida?
Estou há 30 anos no futebol, e lá atrás já me perguntavam sobre esse
tema. É claro que ajudaria um pouco os profissionais, mas quem pagaria a
conta por isso? Teríamos, por exemplo, R$ 10 mil de salário para um
árbitro, subindo para R$ 20 mil com os encargos trabalhistas. Como
faríamos para pagar para 170 árbitros? A despesa da Série B iria de R$
2,5 milhões para R$ 8 milhões. Isso sem falar nas inviabilidades
regionais. São Paulo tem muito mais times na Série A do que outros
estados, são dez árbitros internacionais brasileiros... É complicado.
A pedido da reportagem, Sérgio Corrêa enumerou aqueles que considera
os cinco melhores árbitros do Brasil. "Mas, dessa lista, não faria
diferença colocar algum deles um pouco mais para cima ou para baixo. São
todos capazes", ressalvou. Veja a relação feita pelo comandante do
Departamento de Arbitragem da CBF:
1º - Wilson Luiz Seneme (Fifa-SP), 42 anos (foto)
2º - Leandro Pedro Vuaden (Fifa-RS), 37 anos
3º - Paulo César de Oliveira (Fifa-SP), 38 anos
4º - Héber Roberto Lopes (Fifa-PR), 40 anos
5º - Sandro Meira Ricci (Fifa-PE), 37 anos
Dez árbitros com o distintivo da Fifa: é um número razoável?
Esta é uma lamentação da minha gestão na comissão. Eu queria ter 15
árbitros internacionais, e não dez. O Brasil merece isso. Sei que não é
possível, que a Fifa tem um trabalho competente para delimitar o
porcentual de árbitros internacionais por países. Cheguei a solicitar à
Fifa a mudança para 15, mas já sabia que a resposta seria negativa. Se
eles abrissem esse precedente para um país, teriam que fazer o mesmo
para todos. O mais importante é que os nossos árbitros começaram a
entender que deixar o quadro da Fifa não quer dizer o fim do mundo. A
gente se acostumou a dizer que o escudo da Fifa não está costurado no
uniforme do árbitro; é de velcro. Para mantê-lo, você precisa ter
regularidade. É simples. Os grandes árbitros são procurados pela
comissão para os grandes jogos, enquanto os outros... Mas todos tiveram
as suas oportunidades para mostrar capacidade. Se disserem que não,
mostro com números que nunca houve injustiças.
Com que outra medida além da profissionalização, menos radical, poderíamos elevar o nível da arbitragem?
As pessoas deveriam esquecer um pouco a figura do árbitro. É a menos
importante no futebol. Sei que os comentaristas vivem disso, mas já
temos observadores em todos os 700 jogos do Brasil. Nada passa sem que a
comissão perceba. Os erros, infelizmente, acontecem. Dizem que os
árbitros brasileiros são honestos, mas ruins. Se isso for verdade,
prefiro que continuem assim. Você gostaria de ter árbitros bons e
desonestos?
Com certeza, não. Em termos de qualidade, como você quantificaria
a evolução da arbitragem brasileira no seu período à frente da Conaf?
Acho que evoluímos 30%.
Está dentro do esperado?
Considero uma evolução
significativa. A nova comissão vai pegar tudo o que saiu do padrão,
colocar na reta e fazer as correções necessárias. É claro que também
erramos. Quem não erra? Mas certamente os acertos foram maiores. O
quadro de arbitragem brasileiro agora já é conhecido. Fizemos um
histórico de todo mundo, com perfis. Não há mais ninguém escondido. Ou
seja, deixamos, sim, uma base. Algumas matérias de jornais se referiram a
mim como o único presidente da comissão que saiu por causa de um erro
técnico.
Noticiaram de forma equivocada? O principal motivo da sua saída não foi a doença?
Mas essa questão da razão também não importa! Tive boa-fé, assim como
as pessoas que estão entrando agora, que são capazes e corretas. Isso é o
que vale. Vamos em frente. Se não fui um presidente tão bom como
queriam, ao menos dedicação nunca faltou. A prova disso ficou encravada
no meu rosto, nas dores que sinto.
O relatório elaborado por Sérgio Corrêa sobre os resultados
alcançados pela Conaf na temporada passada destacou principalmente a
preparação de árbitros promissores através de cursos (como o da foto
acima, realizado em abril de 2011) e outros métodos. O então presidente
da entidade reconheceu a existência de "reclamações naturais"
decorrentes do processo de renovação, porém enalteceu a confiança no
sucesso dos novatos sob a supervisão de José Maria Marin, presidente da
CBF. Confira:
"Mesmo com o elevado número de cursos de aprimoramentos
intensivos, a Comissão de Arbitragem enfrentou sérias dificuldades, pois
realizou uma das maiores renovações da arbitragem nos últimos 12 anos
(35%) dentre aqueles que atuavam na quarta maior competição do planeta.
Esta inversão de qualidade (árbitros novos x jogos decisivos)
ocasionou as reclamações naturais contra a arbitragem, todavia a
Comissão de Arbitragem acredita que o número de árbitros disponíveis
para a principal competição mundial se elevou e, em 2012, a tendência é
de melhoria, pois os "novatos" já são "conhecidos" e irão atuar com mais
força nas competições estaduais e, por consequência, no Brasileiro.
Desta forma, a Comissão de Arbitragem poderá preparar a terceira
geração de árbitros, sem que estes sejam promovidos com baixo número de
atuações nas Séries B, C e D, como ocorreu em anos anteriores.
Em que pese a responsabilidade maior recair sobre as Federações
que formam árbitros, a Comissão de Arbitragem da CBF afirma
categoricamente que a principal mudança para evolução da arbitragem
brasileira não é somente no investimento, mas na mudança de cultura que
está sendo implementada pelas diretrizes determinadas pelo presidente
Ricardo Teixeira e que certamente terá prosseguimento com o doutor José
Maria Marin, cuja Federação da qual presidiu é uma das que mais investem
no aprimoramento da arbitragem".
Fonte: Safergs/Gazeta Esportiva
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