terça-feira, 6 de novembro de 2012

Rasgando o livrinho

LÚCIO RIBEIRO/FOLHA DE SÃO PAULO/ ESPORTE
Não anular Inter x Palmeiras significa muito mais para o futebol do que o STJD pode imaginar
UM PEQUENO passo para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva, um salto gigante para o futebol. Eu tendo a achar isso se o STJD, na quinta-feira, julgar pela anulação do jogo Internacional x Palmeiras e determinar uma nova partida.
Devo ser a pessoa número 9.652 que escreve sobre isso desde que a polêmica ocorreu no Beira-Rio, no sábado retrasado. E talvez apenas uma das 52 dessas a dar opinião do tipo. Pretendo só enxergar a importância do julgamento, muito além de paixões clubísticas, achismos embalados como "interpretação" de especialistas e "especialistas", de caçadores da "justiça maior" num lance de várias interpretações.
Todos ligados a futebol devem saber da treta. O atacante palmeirense Barcos fez um gol com a mão contra o Inter. O juiz, perto, não viu a mão e deu o gol. O bandeirinha, longe, correu para o meio-campo.
Depois de receber no ouvido o aviso do quarto árbitro (mais longe do lance que o bandeira) de que o gol foi irregular, o juiz anulou o gol. Dizem que o quarto árbitro por sua vez foi avisado por alguém que estava vendo a TV, onde a mão foi prontamente flagrada. Teria havido ajuda externa, portanto -o que é sempre repudiado pela Fifa. Na semana passada, Michel Platini (presidente da Uefa), disse que o futebol seria impraticável com a interferência da TV. Assunto polêmico há anos.
A mesma pessoa que teria visto a mão na TV e avisou ao quarto árbitro (que avisou ao primeiro) não teria visto um pênalti em Barcos na mesma jogada, no instante anterior ao gol de mão. Nem uma falta que Barcos teria feito instantes antes no zagueiro que teria feito o pênalti em Barcos outros instantes antes do gol de mão. E agora?
Na súmula, o juiz informou à CBF que "nada de anormal" aconteceu na partida que teve a jogada mais anormal dos últimos tempos.
Corte para a Inglaterra. Em julho, em Manchester, foi reaberto o imponente e remodelado National Football Museum, segundo os ingleses o "definitivo museu de futebol". Segundo li, uma das grandes atrações do museu é um livrinho de couro vermelho de 1863, chamado "Minute Book", o primeiro livro de regras feitas para o futebol, depois que escolas inglesas que praticavam o esporte cada uma com sua regulamentação pediram para unificar as leis do jogo, o que possibilitaria o confronto entre elas sem dar briga.
O livro, feito quando nem existiam juízes, coincidentemente fica no museu de Manchester até quinta, depois retorna à "dona", a FA, a CBF inglesa. O mesmo dia em que será julgada a pendenga que virou Inter x Palmeiras, que, se não causar a anulação do jogo, pode dar uma nova aceitação às regras do futebol à revelia do estabelecido. E pensar que, lá em 1863, o livrinho de couro causou polêmica só por proibir o "uso de botas com pregos salientes" aos jogadores, despertando a bronca dos sapateiros da época.

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