sábado, 2 de novembro de 2013

Duarte Gomes: "Este era o único caminho possível"

Foto: Paulo Calado

"Este era e é o único caminho possível. Nós sentimos e sabemos que sim. Era incomportável manter como amadores um conjunto de pessoas com relevância preponderante neste espetáculo desportivo, quando todos os outros agentes são, há muito, profissionais. Jogadores, dirigentes, técnicos, roupeiros... E convém por isso desmistificar agora alguns fantasmas que se começam a desenhar.

É que nós - todos nós - somos assim. Pródigos em enumerar os defeitos em vez de valorizar os feitos.

Portanto, primeiro... confirma-se. Dinheiro não dá mais competência a ninguém. Verdade. Um salário bruto é apenas uma compensação financeira por uma opção laboral que, num determinado momento das vidas pessoais e profissionais, alguém tem que tomar. E aceitar um desafio profissional que mexe brutalmente com hábitos adquiridos e estabilidades pessoais e laborais pré-existentes, com vínculos de muitos e muitos anos, com rotinas instituídas, implica naturalmente muita ponderação pessoal e familiar, serenidade, pragmatismo e negociação.

"Para quem não sabe, recordo que o futebol português movimenta a, grosso modo, cerca de trezentos milhões de euros por ano. Trezentos milhões. Profissionalizar os árbitros nesta fase custa uma parte muito pequena de... um por cento desse montante.

Por favor... passemos à frente. O que realmente oferece mais qualidade ao desempenho é o trabalho, associado obviamente ao talento de cada um. Tal como acontece em qualquer outra área de atividade. Desengane-se quem pensa que duas tardes de "trabalho dedicado à arbitragem" significarão o salto da qualidade para a excelência. Não será assim, seguramente. Mas duas tardes de dedicação exclusiva são mais duas tardes do que aquelas que existem agora. E a médio prazo, as melhorias das performances serão, espera-se, evidentes", desenvolveu.

Para concluir:

"Profissionalizar a arbitragem não terminará por isso com os erros de arbitragem. Tal como profissionalizar futebolistas não trouxe perfeição ao jogo. Só assim se percebe que o mais talentoso dos jogadores continue a falhar nas grandes penalidades e o mais categorizado dos guarda-redes sofra golos inexplicáveis. Não eliminará erros... mas diminuirá. Aqueles ocorridos por falta de concentração momentânea, por mau posicionamento, os ocasionados por deficiente forma física ou até por descoordenação pontual com os colegas, tenderão a desaparecer, porque esses podem ser trabalhados, melhorados, evitados. Já aqueles que ocontecem por interpretação momentânea de um lance poderão ser sempre uma realidade. Nada a fazer. Mão na bola ou bola na mão... dentro ou fora da área... em linha ou ligeiramente adiantado... falta ou simulação... Não é possível, de fato, evitar a tragedia nacional que é errar em situações dessa natureza, de apreciação tão imediatista, tão pontual e inesperada... mas a boa notícia é que é realmente possível passarmos a errar menos. Muito menos. Por isso, mais do que criticar à partida um projeto que só hoje nasceu, mais do que olhar para o copo meio vazio quando ele também está meio cheio, mais do que reparar no acessório e negligenciar o essencial, façam o favor de nos dar o benefício da dúvida. Deixem-nos mostrar que queremos evoluir e aprender, queremos ser cada vez melhores, mais capazes e confiáveis. Não há ninguém que queira acertar mais do que o árbitro. Ninguém. O dia seguinte a um "jogo mau" pode ser verdadeiramente infernal, portanto... deixem-nos trabalhar afincadamente naquilo que mais gostamos para que possamos responder cabalmente aquilo que o futebol português mais nos merece: incremento de qualidade.

Somos pequeninos como Nação mas enormes a fabricarmos campeões, aqui e além-fronteiras. Permitam-nos o nosso modesto contributo na continuidade desse sucesso."

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