por Rodrigo Cardoso e Yan Boechat
APITO
"Vou apoiar a reeleição de Blatter. A Uefa só pensa nos ricos
e a Fifa tem que pensar nos pobres e nos ricos"
"Não concordo com o Ronaldo. Não podemos
achincalhar as pessoas. Sinto orgulho do
nosso povo e dos nossos governantes"
Como primeiro ato à frente da CBF, Del Nero quer
melhorar a qualidade da arbitragem no Brasil
melhorar a qualidade da arbitragem no Brasil
O palmeirense Marco Polo Del Nero, 73 anos, vai assistir à Copa do
Mundo do Brasil ainda como presidente da Federação Paulista de Futebol,
mas já pensando e agindo como o homem que comandará de fato e de direito
o futebol brasileiro a partir do ano que vem. Eleito para substituir
José Maria Marin na presidência da CBF, Del Nero é uma espécie de
herdeiro da dinastia iniciada por João Havelange na década de 50.
Indicado por Ricardo Teixeira para assumir seu lugar no Comitê Executivo
da Fifa em 2012, Del Nero seria o sucessor natural do ex-genro de
Havelange, não fosse a avalanche de acusações que precipitaram a queda
do polêmico ex-presidente da CBF.

"Vou apoiar a reeleição de Blatter. A Uefa só pensa nos ricos
e a Fifa tem que pensar nos pobres e nos ricos"
Agora, prestes a assumir a Confederação Brasileira de Futebol, tem
como principal desafio enfrentar um movimento de jogadores insatisfeitos
com os rumos do futebol no Brasil e que ganhou o apoio da presidenta
Dilma Rousseff. “A presidenta não conhece muito bem o que a CBF tem
feito pelo futebol brasileiro. Quando ela souber, vai ter outra
opinião”, disse ele nesta entrevista concedida à ISTOÉ na véspera da
abertura da Copa do Mundo de 2014.

achincalhar as pessoas. Sinto orgulho do
nosso povo e dos nossos governantes"
Istoé -
Em seu pronunciamento à
nação nesta semana, a presidenta Dilma Rousseff falou que o Brasil
precisa modernizar a estrutura do futebol. A fala dela foi uma
declaração de guerra à CBF?
Marco Polo Del Nero -
Não penso assim. Penso que
ela tem direito, porque está num país democrático. Isso chama a atenção
para o fato de que todos nós devemos ficar preparados para o melhor do
futebol brasileiro. Ela quer o melhor, como eu e o presidente Marin. Não
vejo nada tão significativo que possa abalar a nossa relação com o
governo.
Istoé -
Como o sr. enxerga a aproximação da presidenta com o movimento Bom Senso F.C.?
Marco Polo Del Nero -
Como presidenta da
República, ela tem até obrigação de ouvir todos os setores da sociedade.
E a gente tem de respeitar isso, a vontade da presidenta de conhecer os
problemas, conversar com jogadores. Provavelmente, ela vai receber
sindicatos, querer ouvir a CBF. Isso faz parte do sistema democrático.
Istoé -
Mas o sr. não acha que essa aproximação é um apoio aos jogadores que se posicionam contra a CBF?
Marco Polo Del Nero -
Acho que temos de mostrar
para o governo o que nós temos feito pelo futebol. Quando mostrarmos
isso, o governo vai entender um pouco mais a nossa posição. Acho que tem
muita coisa a ser feita. Temos que evoluir muito. Mas esse não é um
problema da CBF, que sabe comandar muito bem. É um problema dos clubes e
da legislação.
Istoé -
E como o sr. vê uma presidenta da República se posicionando sobre futebol?
Marco Polo Del Nero -
A presidenta da República
também é uma torcedora como outra qualquer. É uma torcedora mais
ilustre, mais importante, pelo cargo que exerce, mas não deixa de ser
uma torcedora. E às vezes tem uma opinião sem conhecer como funciona a
CBF, como funcionam os clubes. Às vezes a gente fala como torcedor, e aí
é mais complicado. A CBF está fomentando o futebol de uma maneira que
nunca foi feita anteriormente.
Istoé -
A CBF sofre muitas
críticas por falta de transparência. O sr. pretende fazer uma devassa
nas contas da entidade? O que fazer para dar mais credibilidade a ela?
Marco Polo Del Nero -
A CBF tem sua
credibilidade. O balanço dela é aprovado por auditores, pagamos todos os
impostos. Não vejo que não seja transparente, porque é feito e
publicado o balanço anualmente, existe fiscalização da Receita Federal e
estamos sempre sujeitos a ela.
Istoé -
E em relação ao que o Ricardo Teixeira fez na CBF, ficou no passado? Passou e ponto?
Marco Polo Del Nero -
As contas foram aprovadas
e, se assim foram, é porque mereceram ser. Ele não aprovou as contas
dele sozinho, mas com uma posição do conselho fiscal e da auditoria. Não
temos o que fazer com o que ele fez. Se foi aprovado... Poderíamos
discutir se não tivesse sido aprovado. Mas acho que está tudo em ordem,
porque foi tudo aprovado, né?
Istoé -
O que o sr. pensa da declaração do Ronaldo Nazário, que disse que sentia vergonha da organização da Copa do Brasil?
Marco Polo Del Nero -
Não concordo com o
Ronaldo. Mesmo com todas as dificuldades que o País enfrentou, ele teve a
coragem de fazer uma Copa e o presidente Lula foi um baluarte, uma
pessoa superimportante. O legado da Copa, como disse a presidenta, o que
estamos fazendo, não será levado pelo estrangeiro, mas ficará aqui para
o povo brasileiro. E também é importante o que o estrangeiro irá deixar
aqui. Há países, como a Espanha, que praticamente vivem de turismo.
Estamos trazendo milhões de pessoas para conhecer o Brasil. Há atrasos,
dificuldades, mas sentir vergonha? Não concordo. Tenho muita honra do
nosso povo, dos nossos governantes. Não podemos achincalhar as pessoas
sem saber o porquê de o governo estar com dificuldade. Sinto orgulho de
ter uma Copa no Brasil. A Copa vai rolar, caminhar bem, vai dar tudo
certo. Sou muito idealista, otimista, penso muito no meu povo.
Istoé -
O presidente da CBF,
José Maria Marin, disse que só uma hecatombe pode fazer o Brasil deixar
de ser campeão. O sr. pensa assim também?
Marco Polo Del Nero -
Eu acho que temos uma
grande seleção. Uma seleção que está a altura de ser campeã. É o que nós
esperamos. Há outras boas seleções, como Alemanha, Chile, Argentina,
Colômbia. Todas têm condições de chegar à final.
Istoé -
O sr. irá apoiar a reeleição do presidente da Fifa, Joseph Blatter?
Marco Polo Del Nero -
Vamos apoiar o Blatter.
Istoé -
A Uefa é extremamente crítica à gestão de Blatter e defende profundas reformas na entidade. O sr. discorda dessa posição?
Marco Polo Del Nero -
Não podemos pensar só nos
ricos. A Uefa está pensando nos ricos, nos clubes poderosos. A Fifa tem
de pensar nos pobres e nos ricos, nas competições onde há pobreza e
riqueza.
Istoé -
A Fifa pensa nos pobres?
Marco Polo Del Nero -
Ela, de certa forma, pensa nos países menos ricos.
Istoé -
Poderia dar um exemplo?
Marco Polo Del Nero -
Na própria África, nas
dificuldades da África, da Concacaf. A Fifa manda dinheiro para esses
países mais pobres. A Fifa fomenta competições lá. À medida que você
fomenta competição, surge o futebol e o futebol é jogado. E isso é
importante: o futebol ser jogado. Além do grande trabalho (da Fifa) na
transparência da sua administração. Ela tem trabalhado bastante nesse
sentido com discussões em seus comitês executivos. A Fifa tem evoluído
bastante.
Istoé -
E as acusações recorrentes de compra de votos para levar a Copa de 2022 para o Catar?
Marco Polo Del Nero -
Isso tem de ser
comprovado, né? São especulações. Há um lado político que especula
porque não conseguiu ter a Copa em seu país. Precisa ver bem tudo isso.
Istoé -
O sr. é a favor de a Copa ser transferida do Catar, onde muitos funcionários morreram nas construções de estádios?
Marco Polo Del Nero -
Se o comitê executivo votou a favor do Catar é porque mereceu. Aqui no Brasil também morreram funcionários.
Istoé -
O sr. é a favor de
“descer o cacete” nos manifestantes violentos que tentem impedir a
realização da Copa, como disse Ronaldo Nazário?
Marco Polo Del Nero -
Se temos uma competição
que é o maior evento do planeta, a segurança pública tem de dar a sua
assistência. Se a manifestação é pacífica, não há problema. Mas não sou a
favor de descer o cacete. Tem de se respeitar o ser humano. Agora, se o
ser humano vai lá depredar, a polícia o detém para que ele responda na
Justiça. Se a gente não respeitar a nossa Constituição, fecha a casa!
Istoé -
Qual seria o seu primeiro ato como presidente da CBF?
Marco Polo Del Nero -
Melhorar a arbitragem
nacional. Temos de preparar os árbitros à altura. Profissionalizar os
árbitros. Fizemos uma experiência na Federação Paulista de Futebol com
20 árbitros. Pagamos salários a eles por um determinado tempo e a
qualidade da arbitragem não melhorou. O que fizemos aqui foi dar
assistência psicológica e técnica e prepará-los. Penso em termos trios
de arbitragens fixos. Acredito que assim eles vão se entender melhor.
Trabalhar junto por muito tempo dará a eles um entrosamento melhor. E o
segundo ato é fomentar o futebol da melhor forma possível. Criou-se uma
comissão de clubes dentro da CBF. O presidente Marin autorizou a criação
de um departamento de marketing para os clubes.
LEIA MAIS EM - http://www.istoe.com.br/assuntos/entrevista/
Nenhum comentário:
Postar um comentário