Allan Costa Pinto/Arquivo |
---|
Briga em 2009 ficou marcada na história do futebol brasileiro. |
Cenas de terror e violência tomaram conta do estádio Couto Pereira em
6 de dezembro de 2009. O motivo? O rebaixamento do Coritiba devido ao
empate com o Fluminense na última rodada do Campeonato Brasileiro e a
revolta dos torcedores, que, inconformados com o resultado do time em
pleno ano de Centenário, invadiram o campo, entrando em conflito com
policiais militares.
A data não só marcou o universo do futebol como também a vida de
Anderson Rossa Moura, que estava na arquibancada e foi ferido por um
policial com uma bala de borracha. O tiro atingiu a cabeça do torcedor, e
causou além da dor do momento, uma transformação completa na vida do
ex-estudante de gastronomia, que tinha 19 anos na época.
Durante 21 dias, o Hospital Evangélico foi a segunda casa de
Anderson, 17 deles só na UTI, em coma, diagnosticado com traumatismo
craniano. Desenganado pelos médicos, ele passou por duas cirurgias. Mais
do que isso, passou da quase morte ao renascimento.
Hoje, passados quase quatro anos do acidente, Anderson carrega as
sequelas do passado, e a esperança de uma nova vida. Com a fala
arrastada, marcas na cabeça e no pescoço, o rapaz com olhar tranquilo
relembra o que aconteceu antes de “apagar” com o tiro.
“No dia em que foi o jogo, eu na verdade nem sabia, eu sai da prova
do Enem e fui esperar meu irmão em um bar, aí vi que tinha o jogo e
convidei meu irmão para ir lá. Chegamos e nem ingresso tinha. Meu irmão
conta que o placar de 1X1 estava revoltando a torcida do Coxa e todo
mundo queria ver o que ia acontecer. Aí nós entramos no estádio, e em
meio à confusão de tanta gente, eu acabei me separando dele”.
Após perder o irmão de vista, Anderson conta que notou que a torcida
tinha invadido o campo e os policiais estavam disparando balas de
borracha. Para se proteger, ele se abaixou na arquibancada e quando
levantou viu cerca de 10 policiais à menos de cinco metros dele, foi
quando um deles disparou em sua direção, o fazendo cair desacordado.
O garoto foi socorrido por outros torcedores que chamaram uma
ambulância que o levou até o hospital. André Rossa, seu irmão, ligou
para ele perguntando onde ele estava, porém, foi surpreendido ao ser
atendido por outro rapaz que comunicou o acidente.
O irmão de imediato ligou para os pais que logo em seguida foram até o
hospital. Logo que recebeu avaliação médica, Anderson foi submetido à
primeira cirurgia, das 20h do dia 6 até às 5h da manhã do dia 7. A
tensão tomou conta da família e dos amigos do rapaz, que foram avisados
pelos médicos que o estado dele era extremamente grave.
“Todo mundo foi para a UTI, para me dar o último adeus”, relata o rapaz emocionado por ter sobrevivido.
No segundo dia de internação, Anderson foi operado novamente. Sua mãe
pediu para vê-lo, e se deparou com o filho coberto de sangue, ao redor
da cabeça. Uma cena triste, e que reforçava as poucas chances de
sobrevivência do jovem.
Allan Costa Pinto/Arquivo |
---|
Couto Pereira virou campo de guerra no final de 2009. |
O despertar
No décimo oitavo dia em que Anderson estava na UTI, o que parecia
longe de acontecer, aconteceu: o rapaz abriu os olhos, para a surpresa
da equipe médica e para a felicidade dos familiares.
Ao acordar, Anderson não só saiu de um sono profundo, mas despertou
para uma nova realidade, totalmente adaptada e diferente do dia anterior
à tragédia.
Ao relatar o dia em que saiu do coma, o rapaz, muito religioso,
acredita que nasceu novamente e atribui o novo recomeço à algo divino.
“Quando acordei, eu não sabia de nada da minha vida. Não reconhecia
as pessoas e via todo mundo de branco, achei que estava no céu. É um
milagre eu estar vivo”.
Confuso e assustado com a situação, ele não compreendia o que tinha
acontecido. Tentou sair, dormia e acordava mal, não falava e não
reconhecia nem os próprios familiares. Aos poucos, foi recobrando
algumas partes da memória, mas ainda não entendia o porquê tudo aquilo
estava acontecendo.
Ao chegar em casa, de cadeira de rodas, Anderson afirma que teve dificuldades para se adaptar.
“Eu entrei e me perguntei, é isso? Minha casa? Eu queria voltar à
minha vida. Um dia eu levantei da cadeira, caminhei e abri a porta, vi
que todo mundo estava na sala e logo minha mãe falou – Anderson? Quando
estava no terceiro passo, eu cai, e me seguraram”.
Bruna Martins/Colaboração |
---|
Anderson mudou a rotina de forma radical. |
Superação e planos
Após o acidente, a rotina de Anderson mudou de forma radical. Além de
passar por um tratamento intensivo (terapias, fonoaudiologia,
psicologia e fisioterapia), ele parou a faculdade, e com sequelas nas
mãos, não pôde continuar exercendo a profissão de assistente de cozinha.
Porém, as mudanças não o intimidaram. Determinado a continuar à vida
e grato por tê-la, Anderson fala que quer esquecer tudo o se passou, e
preenche seus dias indo à igreja, ficando com a família e estudando,
pois quer fazer vestibular novamente e está em dúvida entre psicologia e
teologia.
Questionado sobre a possibilidade de entrar no estádio novamente, o
torcedor do Coritiba alega não ter medo de entrar no estádio, porém,
acredita que não vale mais à pena por ter amadurecido seus pensamentos
durante esse tempo.
“Eu consigo ir aos jogos de graça por causa do acidente. Se fosse pra
eu ir, eu não teria problema. Mas não sou fanático, e acho que não vale
mais a pena, eu ia com meus amigos, nos tempos de adolescente. Hoje eu
acompanho os jogos, mas pela TV mesmo”.
Diogo Souza e Bruna Martins/PARANAONLINE
Diogo Souza e Bruna Martins/PARANAONLINE
Nenhum comentário:
Postar um comentário