quinta-feira, 23 de julho de 2015

Arbitragem: Qualidade ou quantidade?

Quando cursei o curso de árbitros promovido pela Federação Paranaense de Futebol (FPF) em 1982, em parceria com o Sistema Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) - nos foi disponibilizado algumas xerocópias do Guia Universal para árbitros, e logo a seguir fomos convidados a participar junto com os demais árbitros da (FPF), dos treinos de educação física que eram efetivados na Praça Osvaldo Cruz duas vezes por semana.
Lembro-me da didática simples, objetiva e de alguns mestres que ministravam as aulas de segunda a sexta-feira no referido curso. Rubens Maranho (in memoriam), Victor Marcassa (in memoriam), Jaime Nuldemann, Paulo José Guntowski, Newton Martins (in memoriam) e outros. Os recursos colocados a disposição dos professores eram limitados, mas, a qualidade individual dos que lecionavam era de primeira linha. E os árbitros formados eram de boa qualidade.
Fiz o preâmbulo acima porque, a cada temporada leio ou vejo as federações de futebol anunciarem uma avalanche de formação de árbitros em diferentes regiões do País. Se a formação vem acontecendo de forma reiterada, por outro lado, tenho observado a baixíssima qualidade dos professores e, por conseguinte, a incapacidade da maioria dos formandos quando escalados nas competições das suas federações ou da CBF, em dar provimento adequado às Regras de Futebol.
Atualmente, a CA/CBF coloca à disposição das federações, dos árbitros, das comissões de arbitragens, das escolas de formação de árbitros os seguintes benefícios: manual das Regras de Futebol, instrutores, tutores, delegados especiais de arbitragem, a Escola Nacional de Árbitros de Futebol, cursos às federações e na Granja Comary, palestras com membros do (STJD), palestras com especialistas, visando orientar a arbitragem a evitar possíveis contusões, cursos de inglês via online e psicólogos. Porém, não há sinais de melhora na formação dos homens de preto. 
A certeza que se tem é de que esse farto material não está sendo digerido ou/e compreendido pelos que ensinam e formam o árbitro. O fato de ter sido árbitro de futebol é condição “sine qua non” para ser mestre de arbitragem - porém, só isto não basta. Tem que ler, estudar, compreender, buscar conhecimentos em diferentes setores da arbitragem (interagir com pessoas que tenham notório conhecimento sobre o tema).
As deficiências letais que tenho observado nos cursos de formação de árbitros em todo o Brasil está alicerçada em sete tópicos 1) Há um contingente expressivo de “mestres” atuando nos cursos que nunca apitaram uma partida de pelada e há ex-árbitros que estão desatualizados. 2) O enfraquecimento gigantesco do conteúdo. 3) A didática empregada. 4) A ausência de visão dos instrutores em vislumbrar quem dos candidatos a árbitro possui talento, timing, feeling e, o principal requisito, a vocação. 5) O continuísmo abjeto nas comissões de arbitragem das federações, que está espalhado como metástase. 6) A ausência de investimentos das federações na formação e requalificação dos seus apitos. 7) A cooptação dos “líderes” das entidades de classe que representam os árbitros pelas federações - com o “designação” dos mesmos para atuarem como membros ou/e observadores de arbitragem, ou outros cargos nas referidas federações.
   
Diante do exposto, a CA/CBF, visando melhorar a formação e consequente qualidade do árbitro brasileiro, poderia iniciar um processo de profilaxia na escolha e formação dos seus instrutores, tutores, assessores e delegados especiais de arbitragem. Já que são eles indicados pelas federações de futebol que formam, escalam os juízes e bandeiras nos campeonatos regionais e, por consequência, indicam para atuarem nas competições da CBF.

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