quarta-feira, 21 de julho de 2010

Nada de tecnologia



Conservadorismo da Fifa afasta o auxílio eletrônico do futebol, pior para o árbitro

Após séculos de isolamento, os ingleses, rapidamente vão se globalizando. De início deram cor e ginga ao seu pálido futebol, importando jogadores negros de todos os cantos da África ao Caribe. Logo a seguir, se livraram daquele trambolho enferrujado que emperrava o avanço tático, o “chuveirinho”. E agora querem mesmo ir muito além. Estão reivindicando a Fifa o direito de usar a TV como um elemento auxiliar do árbitro nos casos de dúvida ou lances polêmicos, sobretudo, após o gol de Lampard, não observado pela arbitragem contra a Alemanha na Copa do Mundo na África do Sul, quando a bola ultrapassou 33 centímetros da linha de meta.
Acho difícil a entidade que controla o futebol no planeta concordar com a proposição dos ingleses, até porque, na semana que passou, o cartola-mor do futebol mundial, Joseph Blatter, ao mesmo tempo em que afirmou que a Fifa aceitava discutir a implementação da tecnologia no auxilio da arbitragem, também vociferou que a dúvida é o sal do futebol. Que dúvida doutor? Não há mais dúvida, não. Hoje em dia, aqui, no Alasca ou na Patagônia, a bola rola na relva e todo mundo viu, reviu e treviu o tal lance duvidoso, por todos os ângulos possíveis e imagináveis, em câmera lenta, quadro por quadro e, ainda por cima, tem lá um tira-teima para não deixar sequer um traço de incerteza.
Nas resenhas esportivas e nas mesas-redondas repete-se a cena à exaustão. Quem tem dúvida? Resposta: Só o pobre do árbitro, a quem a lei do jogo conferiu poderes divinos da onisciência e da onipresença para decidir numa fração de segundos o que todos estão vendo nos mínimos detalhes.
Não conceder ao árbitro, ao menos, a mesma chance de ver o que todo mundo está vendo é, além de cruel, estúpido. Para que o leitor tenha uma idéia do conservadorismo da Fifa e da International Board sobre a implementação da tecnologia na arbitragem relato um fato ocorrido em 2005. O digníssimo Philip Don – à época membro do Colegiado de Árbitros da Premier League de Futebol – sugeriu à Fifa que os árbitros ingleses utilizassem câmeras de vídeo no auxílio de jogadas polêmicas dentro da área penal. Porém, em que pese todo o avanço extraordinário e as astronômicas cifras financeiras que arrecada a cada temporada, a Premier League, até o momento, não obteve êxito na sua proposição e acredito que a Fifa e o Board não irão concordar com a eletrônica no auxilio à arbitragem.
A prova cabal do conservadorismo da Fifa e do Board à implementação da tecnologia no auxílio à arbitragem foi explicitada na reunião do último dia 3 de março, quando o inglês Ian Watmore, da Associação Inglesa e membro do Board, ao final de 124º reunião do órgão, quando perguntado se o futuro do futebol passa pela tecnologia, respondeu com um sonoro não.
PS: A reunião que a entidade que rege as regras do futebol discutirá esta semana, em Cardiff (País de Gales), será única e exclusivamente sobre a utilização de árbitros assistentes atrás das metas. A experiência foi utilizada na Liga Europa e, caso aprovada, poderá ser adotada em várias confederações nas próximas duas temporadas. Já a discussão sobre a utilização do chip eletrônico nas bolas, para evitar erros como o do gol não validado da Inglaterra contra a Alemanha, ficou para a reunião de outubro.

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