Sandro Meira Ricci entrou nos quadros da CBF há quatro anos e em 2010 foi escolhido o melhor do Campeonato Brasileiro. Para este mineiro de Poços de Caldas, radicado em Brasília, o sucesso alcançado é consequência do árduo trabalho. O fruto disso é a presença na lista de aspirantes a FIFA desde 2009 e a provável indicação ao quadro da entidade máxima do futebol em breve.
O árbitro de 36 anos falou com exclusividade à página da Anaf sobre diversos assuntos: carreira, futuro, lances polêmicos, profissionalização da categoria, sorteio, enfim.
Confira a entrevista de Sandro Meira Ricci:
Anaf: Quando e como você decidiu que queria ser árbitro de futebol?
Ricci: Não me lembro bem do momento exato em que decidi ser árbitro de futebol. Posso afirmar, no entanto, que sempre me motivaram o desafio e a responsabilidade de atividades relacionadas à mediação de conflitos.
Anaf: Está no quadro da CBF desde quando?
Ricci: Sou formado pela Federação Brasiliense de Futebol desde 2003. Entrei para o quadro da CBF em 2006 e, três anos depois, me tornei Aspirante à FIFA.
Anaf: Quais são as maiores dificuldades da carreira?
Ricci: A desconfiança e a interferência política sobre as comissões estaduais de árbitros são fatores que certamente dificultam, quando não inviabilizam, a carreira de um árbitro de futebol iniciante. Além disso, a condição de estar sempre sob suspeição e de ser vítima de comentários irresponsáveis de alguns torcedores travestidos de jornalistas e dirigentes é algo que pode atrapalhar a carreira de qualquer pessoa que não tenha seus princípios e convicções bem desenvolvidos.
Anaf: Neste ano você foi envolvido numa polêmica após um pênalti marcado corretamente sobre o Ronaldo do Corinthians. O que passou na sua cabeça naquele momento e após a partida quando houve uma repercussão enorme? Após a mídia toda analisar o lance e comprovar que você tinha acertado qual foi a sensação?
Ricci: Acredito que o termo "ser envolvido numa polêmica" retrata exatamente o que aconteceu. Afinal, não houve polêmica no lance. Polêmicas foram as reações e declarações, em sua maioria insensatas, de jogadores, treinador e, principalmente, presidente de uma das equipes.
Anaf: Como você avalia ter sido escolhido o melhor árbitro do Campeonato Brasileiro 2010?
Ricci: É incrível. Somente o fato de estar ao lado de Paulo César e Simon, sem esquecer dos demais árbitros brasileiros que poderiam seguramente estar naquele palco, já foi motivo de orgulho para mim. O prêmio de 2010 é fruto de um trabalho desenvolvido ao longo dos últimos anos, que contou com o apoio da Comissão de Árbitros da CBF e também dos assistentes, quarto árbitros, delegados e observadores com quem tive a satisfação de trabalhar.
Anaf: Você é considerado a grande promessa da arbitragem nacional e em breve deve fazer parte do quadro Fifa. Como você vê isso?
Ricci: Ser uma promessa representa uma responsabilidade muito grande. Você está sempre sendo testado. Devo admitir que nos últimos dois anos, fui testado exaustivamente. A cada escala recebida, tinha alguém para me falar: "Esse é o jogo da sua vida!" Aprendi tão bem a conviver com essa pressão que, no final, já estava achando graça. Não sei explicar, mas quanto maior a pressão, parece que mais calmo eu fico durante a partida. Quanto a fazer parte do quadro da FIFA, isso representa a concretização do sonho de qualquer árbitro. Espero ter a honra de receber o escudo do Simon em 2011.
Anaf: Quais são seus objetivos a curto, médio e longo prazo na arbitragem?
Ricci: Aprendi que o árbitro de futebol não tem passado nem futuro, mas somente presente. Somos avaliados por aquilo que fazemos hoje, independente do nosso histórico de acertos. Portanto, meu objetivo consiste em manter o foco e a preparação para a próxima partida.
Anaf: Você acompanha o trabalho da Anaf? Como analisa a Associação Nacional de Árbitros de Futebol?
Ricci: Acompanho o trabalho da ANAF desde a gestão do Jorge Paulo (DF) e agora do Marco Martins (SC). Acredito que muitas conquistas estão por vir, mas dependerão da atitude de cada árbitro. A diretoria da ANAF é composta por um grupo de pessoas com legitimidade para representar o interesse dos árbitros. Se esse interesse e principalmente a conduta de cada árbitro estiverem pautados exclusivamente nas escalas, fica difícil a entidade fazer alguma coisa pelo grupo.
Anaf: É a favor do sorteio na escala dos árbitros?
Ricci: Acredito que a Comissão deva ter condições para investir e avaliar criteriosamente todos seus árbitros e, então, escalá-los conforme sua competência e adequação à partida.
Anaf: O que falta para a arbitragem brasileira tornar-se realmente profissionalizada?
Ricci: Em termos práticos, falta pouco. Hoje, já somos demandados como profissionais. Somos observados em todos os jogos. Além disso, a concorrência é tão grande que nos obriga a treinar todos os dias para alcançar a excelência. Nesse contexto, um dia a menos de treino pode fazer a diferença. Não há mais espaço para aventureiros ou árbitros de fim de semana. Do ponto de vista legal, no entanto, ainda falta muito. O primeiro passo para a profissionalização seria o reconhecimento da atividade de árbitro como uma profissão. Para isso, falta vontade política. Há um projeto de lei em trâmite no Congresso Nacional desde 2002 e, até hoje, não foi aprovado. A partir desse reconhecimento, a regulamentação da profissão levaria ao estabelecimento da condição, dos requisitos, das garantias e das obrigações para quem realiza a atividade.
Ricci: Não largue seus estudos e sua profissão. Saiba o momento de priorizar a arbitragem. Não espere a oportunidade para se preparar. Esteja pronto para quando a oportunidade vier. Prepare-se fisica, social, técnica e mentalmente. Seja honesto. Não sucumba a pressões. Tenha humildade de ser coadjuvante. Respeite o jogo e os jogadores. Saiba ouvir. Lembre que os elogios nos fazem sentir melhor, mas são as críticas que nos fazem melhorar. Busque apoio em Deus, na família e nos seus verdadeiros amigos, dentro e fora da arbitragem
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