quinta-feira, 10 de fevereiro de 2011

10 Questões a... João Carlos Pereira


O site de arbitragem RefereeTip.com e o site institucional da APAF - Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol possuem uma parceria online intitulada “10 Questões a…”.
Nesta rubrica, comum aos dois websites, convidamos semanalmente uma personalidade a responder a 10 questões relacionadas com a arbitragem.

Depois de na semana passada termos convidado um jogador a responder às “10 Questões a…”, temos esta semana um treinador como nosso entrevistado.

João Carlos Pereira é uma das caras de uma nova vaga de treinadores portugueses que surgirão no panorama futebolístico português nos últimos anos. Para além de experiências em clubes dos quadros da 2ª e 3ª divisão nacionais, conta já no seu curriculum com passagens em clubes portugueses de destaque como a Académica, Nacional, Estoril, Belenenses. Actualmente, na segunda experiência internacional (anteriormente tinha orientado o Al-Tadamon, do Kuwait) João Carlos Pereira está no Chipre onde dirige os destinos do Ermis Aradippou.
Procuramos, nesta entrevista, perceber de que forma a arbitragem e os árbitros são vistos por aqueles têm a responsabilidade de dirigir os jogadores de futebol.


JOÃO CARLOS PEREIRA

1.Tendo jogado futebol 18 anos e sendo treinador há 14 anos, qual a tua opinião relativamente à evolução que a arbitragem portuguesa viveu desde que estás ligado profissionalmente ao futebol?
A arbitragem tem evoluído bastante! Creio que o futebol português, em geral foi evoluindo consideravelmente. O futebol português é neste momento meritoriamente reconhecido no panorama internacional e a arbitragem, sendo parte integrante da indústria, evoluiu na mesma proporção.

2.Quais as principais diferenças entre os árbitros que encontraste enquanto jogador e os actuais?
Diferenças em vários aspectos. Os de hoje estão muito mais bem preparados, e em todas as dimensões da sua intervenção, do que os de outrora.

3.Como treinador, para além das equipas que treinaste em Portugal, já tiveste várias experiências fora do país. Como avalias os árbitros portugueses comparativamente com os dos outros países?
Indubitavelmente há e haverá erros em todo o lado do mundo, principalmente porque os ajuizamentos são feitos por pessoas, e o erro é parte da componente aleatória e caótica do jogo. No entanto, e correndo o risco do erro da generalização, posso afirmar que a nossa arbitragem é globalmente superior à dos locais onde tive a oportunidade de trabalhar até hoje.

4.Na tua preparação para os jogos também fazes “scouting” relativamente à equipa de arbitragem? Com que objectivos?
Em competição, é fundamental ter um conhecimento tão profundo quanto possível dos contextos e dos intérpretes. Faço-o, essencialmente porque sinto necessidade de fazer uma abordagem complexa ao jogo e também porque acredito ficar mais bem preparado para a condução e gestão da partida.

5.Nos diversos níveis dos Cursos de Treinador uma das matérias estudadas e avaliadas são as Leis de Jogo. Achas que foram matérias benéficas para a tua formação como treinador? Tiveste boas notas?
Creio serem fundamentais, pois quando entramos numa competição, é fulcral dominar as regras da mesma. Quanto às minhas notas, ao longo do meu percurso formativo, fui tendo boas notas nas Leis de Jogo, mas no último curso, descurei um pouco e foram apenas razoáveis. Quando não refrescamos matérias estudadas há muito, corre-se esse risco…

6.Discutem-se actualmente diversas sugestões de novas tecnologias de apoio à arbitragem e existem também opiniões divergentes quanto à sua aplicação e aplicabilidade. Na tua opinião, quais se poderiam implementar para beneficiar o futebol sem o descaracterizar?
Este será sempre um tema controverso. Creio que o lado conservador do International Board, nunca irá estar muito aberto a certas alterações. Creio que o lado objectivo do jogo poderá ser alvo de evolução, como o chip na bola, mas o lado mais subjectivo, sendo alterado, pode provocar eventuais prejuízos no espectáculo. Não podemos esquecer que à luz da teoria dos sistemas vivos, mexendo num elemento, estar-se-á a mexer no todo. Portanto, poderá estar-se a alterar o jogo em si. Não podemos esquecer o que uma alteração como o fora de jogo, provocou no jogo.

7.Se pudesses mudar algo na arbitragem, seja nas Leis de Jogo ou noutras situações, o que seria?
Acho que dada a importância dos investimentos, sejam de que tipo for que as equipas e os profissionais ligados à indústria do futebol fazem, creio que os árbitros terão de ser mais profissionais e conscientes. Portanto, tudo o que possa minorar os riscos de erro e falhas de ajuizamento… Creio ser fundamental que os responsáveis estejam directamente ligados à investigação de ponta em áreas como a neurologia, e outras ciências sociais na área da tomada de decisão e da inteligência emocional para se poder proporcionar uma melhor especialização do árbitro. O caminho da formação deve ser seguido!

8.No planeamento dos treinos tens alguma preocupação de formar os teus jogadores relativamente às Leis de Jogo? Achas que os treinadores dos escalões de formação deveriam ter essa preocupação ou não é importante para a actividade de um jogador?
Tento tirar partido das regras no projecto colectivo de jogo das minhas equipas. É determinante que os jovens futebolistas sejam estimulados a aprender e a dominar as leis de jogo.

9.Há algum árbitro ou árbitros com quem te tenhas cruzado na tua carreira e que te tenha marcado pela positiva? Porquê?
Ocultando nomes, houve árbitros que tiveram intervenções vincadamente positivas e que registei. Essencialmente, um ou outro, porque utilizaram o bom senso e a inteligência emocional de forma a não complicar situações. Outros, pelo tipo de comunicação e a forma de relacionamento com os jogadores e com os treinadores. Há coisas que vão para além das leis de jogo…

10.Que questão, relativa à arbitragem, nunca te colocaram mas à qual gostarias de responder?
Gostava de poder responder a uma pergunta do meu filho mais novo e respondê-la com toda a certeza e segurança: Qual o papel e a função do árbitro num jogo de futebol? Tal como um juiz no tribunal tem de ter muito cuidado, para não julgar erradamente uma pessoa num processo e levá-lo a uma penalização, que pode ser por vezes a prisão, o árbitro tem de ajuizar de forma isenta e sem castigar ou beneficiar um jogador ou equipa com a consciência de não poder errar.

O RefereeTip agradece a disponibilidade demonstrada pelo João em cooperar com esta rubrica semanal.

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