Alguém disse um dia que o futebol é um grande negócio. Um monte de gente acreditou. Esse alguém e esse monte de gente, infelizmente, estão errados. Futebol não é um grande negócio. É um negócio mediano. Energia, alimentação, automóveis, extração, jogos de azar e construção são grandes negócios. Futebol não. Não chega nem perto. Nem aqui, nem na Europa e muito menos na China. Mas no fundo, isso pouco importa, afinal o futebol independe do dinheiro que ele gera. Não é isso que faz a máquina funcionar. Se o futebol gera 10 milhões ou 10 bilhões de reais, a diferença, especialmente pro mercado brasileiro, é muito pequena.
Isso acontece porque a cadeia de valores do futebol funciona de uma maneira bastante
peculiar. Diferente de cadeias normais, onde o processo de produção é baseado essencialmente
no processo financeiro, o futebol se baseia no processo esportivo, independente do financeiro.
Basicamente, a idéia da cadeia é a seguinte: times existem para ganhar partidas; times com jogadores mais talentosos ganham mais partidas; existem muito mais demanda do que oferta de jogadores talentosos; jogadores talentosos tendem a escolher o clube por conta da proposta financeira; quanto mais dinheiro um clube tem, mais chance de contratar jogadores talentosos ele possui e, portanto, ele terá mais chances de obter vitórias.
Só que o valor de um jogador talentoso não é baseado em uma tabela fixa, mas sim no preço atribuído por outros clubes que competem pelo mesmo talento, independente do quanto for isso. Clubes de futebol do mundo inteiro tendem a gastar em média uns 80% daquilo que arrecadam com salários e transferências e apenas 20% com outros custos, como estrutura de estádio e centro de treinamento.
Esses últimos, porém, são gastos com valores determinados pelo mercado em geral, o que faz com que apenas essa parcela represente um ganho real de receita. Para esses valores, mais dinheiro de fato significa algo positivo. O resto, porém, é uma draga: quanto mais você ganha, mais você gasta. Ou seja, não interessa quanto de dinheiro um clube ganha. Porque quanto mais ele ganha, mais ele gasta.
O que interessa é que ele ganhe mais dinheiro do que os outros clubes. Se você analisar os números, na verdade você chega à conclusão que isso acontece de verdade: apesar das receitas dos clubes brasileiros terem aumentado significativamente ao longo da última década, os gastos aumentaram muito mais.
Isso porque a competitividade por talento é quase que uma disputa bélica, e o único jeito de acabar com isso é justamente o jeito com que EUA e Rússia conseguiram frear o espiral de gastos da guerra fria: chegaram a um acordo de corte de gastos conjunto. Clubes não deveriam se unir para descobrir um jeito de ganhar mais dinheiro. Deveriam se unir para descobrir um jeito de gastar menos.
Fonte: Universidade do Futebol/Safergs
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