sexta-feira, 4 de novembro de 2011

A história e a arte do gol olímpico

 Quem gosta de futebol sabe bem o que é um gol olímpico: o gol marcado diretamente em cobrança de escanteio sem que ninguém mais toque na bola antes de ela entrar. O que pouca gente conhece é a história por trás do lance e as razões que o fizeram ter esse nome. O FIFA.com conta essa história de quase 90 anos.
Em junho de 1924, a International Board modificou o artigo 11 das regras do futebol, autorizando pela primeira vez que um gol fosse marcado em cobrança de escanteio. Após ler o boletim informativo, um jornalista de Liverpool chamado Ernest Edwards encontrou uma ambiguidade no texto e a revelou aos dirigentes do Everton. "Não há nada ali que proíba pegar a bola e, em vez de ser obrigado a bater, sair driblando até fazer o gol", comentou.
Curioso para saber o que aconteceria, Edwards teve um "cúmplice" perfeito no clube inglês: o atacante Sam Chedgzoy. Cobrador de escanteios, Chedgzoy cumpriu o plano ao pé da letra durante uma partida naquele ano, deixando todos os presentes atônitos. "Onde na regra diz que não é permitido?", questionou o jogador ao ser advertido pelo árbitro.
Além da incredulidade do juiz, o comentário motivou uma reunião de emergência da "Board", que no início de agosto corrigiu o artigo. Revisada a regra para não permitir que o cobrador voltasse a encostar na bola antes de ela ser tocada por outro atleta, o primeiro jogador a fazer um gol em cobrança direta foi Billy Alston, ainda em agosto daquele ano, em um jogo da segunda divisão escocesa. Entretanto, quem levou a fama de ter marcado o primeiro gol olímpico foi outro homem.

Primeiro, não. Mas olímpico

No mesmo ano, a Argentina organizou dois amistosos com o Uruguai, que vinha de conquistar a medalha de ouro no Torneio Olímpico de Paris. O primeiro jogo foi disputado dia 21 de setembro em Montevidéu e terminou com o placar de 1 a 1. O segundo estava marcado para uma semana depois em Buenos Aires, mas teve de ser interrompido devido a incidentes e só acabou sendo jogado dia 2 de outubro, quando a Argentina venceu por 2 a 1.

Aos 15 minutos de bola rolando, com o placar ainda zerado, o atacante argentino Cesáreo Onzari bateu um escanteio pela esquerda com tanto efeito que, para desgraça do arqueiro uruguaio Antonio Mazzali, a bola entrou rente ao primeiro poste. Fazendo jogo de palavras com o título do rival, a imprensa esportiva descreveu o lance como um "gol olímpico".
"Acho que o goleiro acordou mal naquele dia ou estava irritado por algum motivo, porque nunca mais consegui acertar de novo", relembrou posteriormente o já falecido Onzari. "A verdade é que, quando vi a bola lá dentro, não pude acreditar." O árbitro uruguaio Ricardo Villarino não hesitou em validar o gol, "apesar de a nova disposição não ter sido comunicada aos referees da Associação Uruguaia de Futebol", conforme esclareceu à época.
Os especialistas
Um dos grandes especialistas em gols olímpicos foi o também argentino Juan Ernesto Álvarez. Durante seis temporadas na Colômbia, Álvarez fez apenas 35 gols em 226 partidas, mas oito deles saíram em cobranças de tiro de canto. Em agosto de 1976, jogando pelo Deportivo Cali, ele anotou dois gols olímpicos na mesma partida contra o Deportivo Cúcuta.

"O segredo era ficar depois do treino com o colombiano Ñato Torres batendo escanteio para ver quem acertava mais", admitiu. "Em 1979 fizemos de novo dois gols olímpicos na mesma partida, contra o Quilmes pela Copa Libertadores, mas um cada um. Não sei quantas equipes podem dizer que conseguiram algo assim."
Na Alemanha, o lance costuma ser associado ao meia Bernd Nickel. Jogando pelo Frankfurt, ele balançou as redes 141 vezes, quatro delas em cobranças de escanteio, e cada uma delas em um canto diferente do gramado do Waldstadion. O primeiro ele fez na inesquecível vitória de 6 a 0 sobre o Bayern em 1975. Além de tê-lo anotado justamente em cima do inesquecível Sepp Maier, ainda conseguiu acertá-lo em cobrança pela esquerda com a parte de fora do pé canhoto.
Há outros casos de jogadores que, como Nickel, marcaram gols olímpicos de trivela. O mais recente saiu dos pés do lateral Roberto Carlos pelo Corinthians no início de 2011, mas também fazem parte da lista o mexicano Jorge Gómez (1965), o também mexicano Francisco Macedo (1971) e o chileno Carlos Reinoso (1980), para ficar apenas em três exemplos mais famosos na internet.
Outro caso curioso foi o do argentino Aníbal Francisco Cibeyra, que anotou três gols de escanteio com a camisa do Emelec em três clássicos consecutivos contra o Barcelona de Guayaquil. A façanha, realizada em 1978, lhe valeu o merecido apelido de "Louco dos Gols Olímpicos".
Nem sempre sai como previsto
Em 1953, o norte-irlandês Charliel Tully acertou um gol olímpico pelo Celtic em visita ao Falkirk, mas o árbitro mandou repetir a cobrança por considerar que a bola estava fora do arco localizado junto à bandeirinha. Sem reclamar, Tully fez nova cobrança e a acertou novamente. Para confirmar que não havia sido por sorte, voltou a anotar um gol olímpico um tempo depois, mas então pela seleção da Irlanda do Norte contra a Inglaterra.

Embora o cobrador sempre tenha mérito, às vezes os rivais ajudam. Que o diga Josep Guardiola, que, jogando pelo Barcelona, deixou passar uma cobrança aparentemente inofensiva de Javier de Pedro acreditando que um companheiro a afastaria e possibilitando assim que o meia do Real Sociedad marcasse o primeiro dos seus gols olímpicos. de Pedro, que disputou a Copa do Mundo da FIFA 2002 ao lado de Guardiola, fez outro contra o Salamanca um tempo depois. Após se aposentar, chegou a divulgar um guia bem-humorado de como acertar as cobranças.
Até 2011, o único gol olímpico em um Mundial havia sido marcado pelo colombiano Marcos Coll em cima do arqueiro soviético Lev Yashin no Chile 1962. Neste ano, porém, somou-se à lista o mexicano Jorge Espericueta, que acertou uma bola direta contra a Alemanha na semifinal da Copa do Mundo Sub-17 da FIFA.
Além do gol de Espericueta, 2011 teve golaços de astros como Ronaldinho e David Beckham, mas também de figuras menos conhecidas como o iraniano Mohammad-Reza Khalatbari e o brasileiro Eninho, ambos válidos pela Liga dos Campeões da Ásia. Em comum entre todos eles, o fato de que continuam despertando tanta surpresa e encantamento quanto aquele gol histórico anotado por Onzari há 87 anos.

Fonte: Fifa.com

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