O futebol sempre teve e tem o seu bode expiatório de
plantão: o árbitro. Figurante imprescindível à realização das partidas, o “juiz
de futebol” é atacado por muitos e defendido por poucos. Recai nele, muitas vezes,
a desculpa pelos insucessos das equipes em campo. Geralmente o homem de preto
só é notícia na grande mídia quando toma decisões polêmicas, comete erros ou
contraria interesses poderosos. Policiadas por dezenas de câmeras nos grandes
jogos e avaliado por especialistas e uma infinidade de leigos, as decisões do
árbitro são vistas e revistas para fomentar polêmicas e opiniões sobre o que
aconteceu no campo de jogo.
Na verdade, os árbitros, como seres humanos, estão
sujeito a erros, até porque tomam, em média entre 120 e 150 decisões por
partida, no tempo médio de três segundos. Mesmo assim, o índice de acertos
supera 90%, sendo que na última Copa do Mundo na África do Sul, esse percentual
atingiu 96%.
Mas, o que se vê em destaque na imprensa são os erros e lances polêmicos, levando alguns “especialistas”
a sugerir que a regras sejam modificadas. Entretanto, é importante ponderar que
o futebol é o esporte mais popular do planeta, praticado em todo o mundo com as
mesmas regras que, na sua essência, são simples.
Se, por exemplo, a regra passar a exigir que câmeras e
equipamentos eletrônicos sejam
instalados nos campos, certamente estaria inviabilizada a prática do futebol em
milhares de competições amadoras em todos os continentes. Aliás, os defensores
da sofisticação das regras, com a introdução de aparelhos e decifradores
eletrônicos de lances polêmicos,
esquecem que é a simplicidade das regras que permite a prática do esporte, em
qualquer local, mesmo que de escassos recursos.
Talvez seja por isso que a Fifa tem mais filiados do
que a ONU (Organização das Nações Unidas). Enquanto a ONU tem 193 países membros (o último a ingressar foi o Sudão do
Sul), a entidade que controla o futebol no planeta tem 208 filiados.
Estima-se que existam aproximadamente 500 mil árbitros
de futebol no mundo (levando-se em conta todas as modalidades), sendo 30 mil no
Brasil. Destes, apenas 10% são associados dos 26 sindicatos e uma associação de
árbitros de futebol, que existem nos estados brasileiros. A (Anaf) – Associação
Nacional de Árbitros de Futebol, com sede atual em Florianópolis (SC), tem 480
associados. O Sindicato dos Árbitros de futebol do Rio Grande do Sul (Safergs),
com sede em Porto Alegre, tem 300 associados.
O quadro de arbitragem da Fifa é composto por 3.150
integrantes, sendo: 2086 árbitros de futebol de campo; 616 árbitras da mesma
modalidade; 291 árbitros de futsal. 20 árbitras de futsal e 137 árbitros de
Beach Soccer. O quadro de árbitros de futebol da CBF, denominado (Renaf)
Relação Nacional de Árbitros de Futebol é composto por 507 membros (428
árbitros e 79 árbitras).
Enquanto bilhões de reais serão gastos com a próxima
Copa do Mundo no Brasil, o investimento no aprimoramento dos árbitros, por ora,
é praticamente inexistente. Há, isto sim, muito discurso por parte dos
dirigentes das entidades de prática de
futebol, com soi acontecer agora com o presidente da CBF. Mas, na prática,
caracteriza-se a omissão e falta de medidas efetivas para melhorar a qualidade
das arbitragens e a situação dos árbitros no país.
Enquanto a CBF movimenta algo próximo de 63% dos
recursos utilizados pelas federações de esportes do Brasil (300 milhões de
reais em 2011), os gastos com a
requalificação da arbitragem são pífios. Aliás, a entidade nacional se utiliza de árbitros dos quadros das
federações estaduais e, todos, na hora de implementar melhores condições de
trabalho e renumeração, simplesmente lavam as mãos. Mesmo assim, os árbitros brasileiros têm
tradição a nível internacional, com atuações destacadas em Copas do Mundo.
Muitos, porém, preparam-se às próprias custas, já que a estrutura lhes colocada
a disposição é praticamente inexistente.
Ademar Pedro
Scheffler, é mestre em Direito Civil e Desportivo e é advogado do (Safergs) –
Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Rio Grande do Sul.
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