sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Bode expiatório


O futebol sempre teve e tem o seu bode expiatório de plantão: o árbitro. Figurante imprescindível à realização das partidas, o “juiz de futebol” é atacado por muitos e defendido por poucos. Recai nele, muitas vezes, a desculpa pelos insucessos das equipes em campo. Geralmente o homem de preto só é notícia na grande mídia quando toma decisões polêmicas, comete erros ou contraria interesses poderosos. Policiadas por dezenas de câmeras nos grandes jogos e avaliado por especialistas e uma infinidade de leigos, as decisões do árbitro são vistas e revistas para fomentar polêmicas e opiniões sobre o que aconteceu no campo de jogo.
Na verdade, os árbitros, como seres humanos, estão sujeito a erros, até porque tomam, em média entre 120 e 150 decisões por partida, no tempo médio de três segundos. Mesmo assim, o índice de acertos supera 90%, sendo que na última Copa do Mundo na África do Sul, esse percentual atingiu 96%.
Mas, o que se vê em destaque na imprensa são os erros  e lances polêmicos, levando alguns “especialistas” a sugerir que a regras sejam modificadas. Entretanto, é importante ponderar que o futebol é o esporte mais popular do planeta, praticado em todo o mundo com as mesmas regras que, na sua essência, são simples.
Se, por exemplo, a regra passar a exigir que câmeras e equipamentos  eletrônicos sejam instalados nos campos, certamente estaria inviabilizada a prática do futebol em milhares de competições amadoras em todos os continentes. Aliás, os defensores da sofisticação das regras, com a introdução de aparelhos e decifradores eletrônicos   de lances polêmicos, esquecem que é a simplicidade das regras que permite a prática do esporte, em qualquer local, mesmo que de escassos recursos.
Talvez seja por isso que a Fifa tem mais filiados do que a ONU (Organização das Nações Unidas). Enquanto a ONU tem 193 países  membros (o último a ingressar foi o Sudão do Sul), a entidade que controla o futebol no planeta tem 208 filiados.
Estima-se que existam aproximadamente 500 mil árbitros de futebol no mundo (levando-se em conta todas as modalidades), sendo 30 mil no Brasil. Destes, apenas 10% são associados dos 26 sindicatos e uma associação de árbitros de futebol, que existem nos estados brasileiros. A (Anaf) – Associação Nacional de Árbitros de Futebol, com sede atual em Florianópolis (SC), tem 480 associados. O Sindicato dos Árbitros de futebol do Rio Grande do Sul (Safergs), com sede em Porto Alegre, tem 300 associados.
O quadro de arbitragem da Fifa é composto por 3.150 integrantes, sendo: 2086 árbitros de futebol de campo; 616 árbitras da mesma modalidade; 291 árbitros de futsal. 20 árbitras de futsal e 137 árbitros de Beach Soccer. O quadro de árbitros de futebol da CBF, denominado (Renaf) Relação Nacional de Árbitros de Futebol é composto por 507 membros (428 árbitros e 79 árbitras).
Enquanto bilhões de reais serão gastos com a próxima Copa do Mundo no Brasil, o investimento no aprimoramento dos árbitros, por ora, é praticamente inexistente. Há, isto sim, muito discurso por parte dos dirigentes das entidades  de prática de futebol, com soi acontecer agora com o presidente da CBF. Mas, na prática, caracteriza-se a omissão e falta de medidas efetivas para melhorar a qualidade das arbitragens e a situação dos árbitros no país. 
Enquanto a CBF movimenta algo próximo de 63% dos recursos utilizados pelas federações de esportes do Brasil (300 milhões de reais em 2011), os  gastos com a requalificação da arbitragem são pífios.  Aliás, a entidade nacional se  utiliza de árbitros dos quadros das federações estaduais e, todos, na hora de implementar melhores condições de trabalho e renumeração, simplesmente lavam as mãos.  Mesmo assim, os árbitros brasileiros têm tradição a nível internacional, com atuações destacadas em Copas do Mundo. Muitos, porém, preparam-se às próprias custas, já que a estrutura lhes colocada a disposição é praticamente inexistente.
Ademar Pedro Scheffler, é mestre em Direito Civil e Desportivo e é advogado do (Safergs) – Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Rio Grande do Sul.  

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