Especialistas debatem sobre concussões na sede da FIFA
Um grupo formado pelos mais renomados especialistas em medicina esportiva do planeta se reuniu na sede da FIFA em Zurique nos dias 1º e 2 de novembro para a 4ª Conferência de Consenso Internacional sobre Concussão Cerebral no Esporte. O objetivo do evento, organizado pela entidade máxima do futebol, foi discutir e estabelecer diretrizes quanto à melhor forma de gerenciar e prevenir a ocorrência de concussões durante a prática desportiva.
Representantes da FIFA, do Comitê Olímpico Internacional (COI), da Liga Nacional de Futebol Americano (NFL), da Liga Nacional de Hóquei no Gelo (NFL), da Federação Internacional de Rúgbi (IRB), da Federação Internacional de Hóquei no Gelo (IIHF), da Federação Internacional de Hipismo e Esportes Equestres (FEI) e da Liga Australiana de Futebol Americano dividiram experiências e ideias sobre novos métodos de prevenção, diagnóstico e tratamento com o objetivo de estabelecer uma abordagem comum no enfrentamento de uma questão grave que afeta tanto esportistas profissionais quanto atletas amadores.
"Esperamos desenvolver ferramentas práticas, simples e de fácil utilização que possam ser aplicadas por técnicos e equipes paramédicas à beira do campo e nas categorias de base, onde há pouca atenção médica", explica o diretor médico da FIFA, Prof. Jiri Dvorak. "Estamos tentando desenvolver materiais educativos simples para todos os envolvidos no futebol e disseminá-los através dos programas de desenvolvimento da FIFA. Com parceiros poderosos como a FIFA, a IIHF, a IRB, a FEI e o COI, podemos provocar um grande impacto", avalia. 
"As três conferências anteriores nos estimularam a realizar estudos científicos que possibilitaram com que convencêssemos a International Football Association Board (IFAB) a adaptar as Regras do Jogo a fim de punir com cartão vermelho incidentes causadores de concussões, como cotoveladas na cabeça", acrescenta Dvorak. "Isso gerou uma redução significativa desse tipo de contusão. Se compararmos as Copas do Mundo de 2002 e 2010, ajudamos a reduzir a frequência de concussões cerebrais e lesões na cabeça pela metade."
A concussão cerebral é uma das lesões mais comuns no mundo do esporte e pode provocar sérias consequências sobre a saúde dos atletas no longo prazo. Até recentemente, os casos não eram suficientemente diagnosticados e tratados, mas agora são amplamente reconhecidos como uma gravíssima ameaça à saúde, e muitas das principais federações esportivas estão tomando medidas para proteger os atletas dos efeitos adversos e para garantir que os jogadores se recuperem de forma adequada após um incidente.
"As lesões na cabeça são um problema para muitos dos 204 esportes com os quais o COI lida, e é por isso que estamos realmente investindo em pesquisa na área", diz o chefe do Departamento de Ciência e Pesquisa do COI, Lars Engebretsen. "Estamos tentando suprir essa falta de conhecimento, e é por isso que temos realizado esses encontros."
O americano Bob Cantu, diretor médico do Centro Nacional de Pesquisa em Lesões Catastróficas no Esporte, da Universidade da Carolina do Norte, também destacou a importância do evento. "Desde a última vez que nos reunimos, há quatro anos, houve muitos avanços na maneira como gerenciamos, identificamos, tratamos e prevenimos as concussões, e a FIFA desempenhou um papel de liderança para isso com a realização desta conferência."
Durante o encontro, foram discutidos temas como a avaliação de concussões à beira do campo, o diagnóstico e o retorno à atividade esportiva, o gerenciamento de casos difíceis e de concussões pediátricas, os problemas de longo prazo, a transferência de conhecimentos e educação.
A neurocirurgiã Karen Johnston, especialista em lesões cerebrais do Instituto de Reabilitação de Toronto, no Canadá, acredita que a chave está na transferência de conhecimentos. "A ciência está avançando e nos ajudando a entender que o cérebro entra em confusão quando uma concussão ocorre, e há alguns problemas funcionais na maneira como o cérebro trabalha", diz ela. "É muito comum vermos atletas que, além de lesões na cabeça, podem ter transtornos de humor e dificuldades para retomarem as suas vidas profissionais e esportivas. Estamos aprendendo que precisamos de uma abordagem multidisciplinar para fazer com que os atletas voltem ao normal. Em casos de concussões cerebrais, precisamos recrutar muitos profissionais diferentes na busca do melhor resultado para aquele atleta, e esta conferência ultrapassa as barreiras de cada especialidade."