"Na tristeza de tomar um chimarrão sozinho, em um domingo chuvoso, me recordei das andanças dos tempos de árbitro e a boçalidade do racismo de arquibancada".
Domingo de chuva no Rio de Janeiro - a cidade não fica tão
maravilhosa para a maioria das pessoas. Para mim, que sou gaúcho, este
clima proporciona o convite irrecusável a tomar um "chima". Durante a
preparação do "amargo" fui lembrando da agradável palestra que proferi
no sábado (22), em Barra do Piraí, no interior do Rio de Janeiro, onde
estavam pessoas de todas as regiões esbanjando a riqueza de expressões
que constituem este nosso país.
Caso decidisse escrever um texto
somente com as expressões usadas no Rio Grande do Sul, dificilmente as
pessoas compreenderiam em sua totalidade o sentido e o sentimento que
acompanham tais regionalismos. Quando falamos em tomar um "chima", por
exemplo, estamos nos referindo a matar uma sede que não é só do corpo,
mas também da alma que é a de estar próximo da nossa terra e dos
nossos. Daí surgem na memória versos do maior payador gaúcho de todos
os tempos, Jayme Caetano Braun: "é triste matear sozinho". E assim uma
coisa puxa a outra, de versos e memórias é que se fazem os homens.
Mas
voltemos à palestra em Barra de Piraí. Lá tive a oportunidade de
encontrar o Brasil representado em todas as suas regiões com a
pluralidade de expressões. Tudo isso me fez recordar de quando apitava e
o quanto aprendi com tanta riqueza cultural. Quando ia a algum lugar
novo, sempre prestava muita atenção no vocabulário e nos costumes de
cada população. Para que o tempo passasse o mais rápido possível, eu e
os assistentes íamos comentando as curiosidades encontradas e novas
palavras iam surgindo, ampliando nossos horizontes e qualificando nossa
visão de mundo. Em todos os estados brasileiros pudemos ver a
contribuição incoteste da cultura afro indígena desde a cor da pele à
culinária, do vocabulário às músicas e gingados.
Por essas e
outras que neste país multi e pluricultural é inadmissível discriminação
racial ou de qualquer outra natureza. Ainda que o Rio Grande do Sul
sinta-se honrado por ser berço de tantos imigrantes europeus, por lá
também índios e negros ajudaram a construir o estado a ser o que é.
Temos uma dívida histórica derivada do triste episódio dos Lanceiros
Negros, onde centenas de negros foram covardemente assassinados ao final
da Revolução Farroupilha. Entretanto a dívida mais antiga e tão
aviltante quanto esta é com os verdadeiros donos da terra: os índios
guaranis, charruas praticamentes dizimados e esquecidos em seus
direitos.
Somos todos Márcio Chagas, Tinga, Arouca e tantos outros anônimos humilhados e ofendidos!
Carlos Simon
www.twitter.com/simonapito
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