segunda-feira, 24 de março de 2014

Brasil, um país de contradições: plural e racista simultaneamente

"Na tristeza de tomar um chimarrão sozinho, em um domingo chuvoso, me recordei das andanças dos tempos de árbitro e a boçalidade do racismo de arquibancada".

Domingo de chuva no Rio de Janeiro - a cidade não fica tão maravilhosa para a maioria das pessoas. Para mim, que sou gaúcho, este clima proporciona o convite irrecusável a tomar um "chima". Durante a preparação do "amargo" fui lembrando da agradável palestra que proferi no sábado (22), em Barra do Piraí, no interior do Rio de Janeiro, onde estavam pessoas de todas as regiões esbanjando a riqueza de expressões que constituem este nosso país. 
Caso decidisse escrever um texto somente com as expressões usadas no Rio Grande do Sul, dificilmente as pessoas compreenderiam em sua totalidade o sentido e o sentimento que acompanham tais regionalismos. Quando falamos em tomar um "chima", por exemplo, estamos nos referindo a matar uma sede que não é só do corpo, mas também da alma que é a de estar próximo da nossa terra e dos  nossos. Daí surgem na memória versos do maior payador gaúcho de todos os tempos, Jayme Caetano Braun: "é triste matear sozinho". E assim uma coisa puxa a outra, de versos e memórias é que se fazem os homens. 
Mas voltemos à palestra em Barra de Piraí. Lá tive a oportunidade de encontrar o Brasil representado em todas as suas regiões com a pluralidade de expressões. Tudo isso me fez recordar de quando apitava e o quanto aprendi com tanta riqueza cultural. Quando ia a algum lugar novo, sempre prestava muita atenção no vocabulário e nos costumes de cada população. Para que o tempo passasse o mais rápido possível, eu e os assistentes íamos comentando as curiosidades encontradas e novas palavras iam surgindo, ampliando nossos horizontes e qualificando nossa visão de mundo. Em todos os estados brasileiros pudemos ver a contribuição incoteste da cultura afro indígena desde a cor da pele à culinária, do vocabulário às músicas e gingados. 
Por essas e outras que neste país multi e pluricultural é inadmissível discriminação racial ou de qualquer outra natureza. Ainda que o Rio Grande do Sul sinta-se honrado por ser berço de tantos imigrantes europeus, por lá também índios e negros ajudaram a construir o estado a ser o que é. Temos uma dívida histórica derivada do triste episódio dos Lanceiros Negros, onde centenas de negros foram covardemente assassinados ao final da Revolução Farroupilha. Entretanto a dívida mais antiga e tão aviltante quanto esta é com os verdadeiros donos da terra: os índios guaranis, charruas praticamentes dizimados e esquecidos em seus direitos.
Somos todos Márcio Chagas, Tinga, Arouca e tantos outros anônimos humilhados e ofendidos!  

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