O Estado de S. Paulo ouviu especialistas
em arbitragem que atacaram as declarações feitas pelo chefe do
Departamento de Arbitragem da Fifa, Massimo Busacca, de que os apitos
brasileiros não estão alinhados às orientações da entidade em relação a
lances de mão na bola.
Raphael Ramos, reporter do Estadão, escreveu que “Ex-árbitros afirmam
que erro de interpretação da recomendação é culpa da própria Fifa e dos
seus chefes de arbitragem”.
Para Marco Antonio Martins,
presidente da Anaf (Associação Nacional de Árbitros de Futebol), se há
erro de interpretação da nova recomendação da Fifa, a culpa é da própria
entidade. “Os brasileiros não estão com dificuldades de entender. A
Fifa mandou dois instrutores para o Brasil, o Oscar Ruiz e Jorge
Larrionda. Sempre existiu interpretação nesse tipo de lance. Se para a
Fifa está havendo erro de interpretação, o problema foi de quem repassou
a informação”, disse.
Arnaldo Cezar Coelho, árbitro das Copas do Mundo de
1978 e 1982 e atualmente comentarista da TV Globo, criticou a atuação de
Busacca à frente do Departamento de Arbitragem da Fifa. “Se for assim,
os espanhóis também estão mal orientados porque tivemos um lance absurdo
no jogo do Real Madrid e ele é o responsável. Vale lembrar que na Copa
do Mundo a arbitragem não foi um primor. Muito pelo contrário, foi um
desastre”, disse.
Para
Arnaldo Cezar, os últimos pênaltis mal marcados no Brasil não foram
provocados por erros de interpretação da nova recomendação da Fifa e sim
por falhas técnicas dos árbitros. Ele cita a penalidade marcada a
favor do Flamengo, contra o Corinthians, pela 21ª rodada do Campeonato
Brasileiro, quando o lateral-direito Fagner estava com o braço esquerdo
na barriga quando a bola foi chutada em sua direção. “Ali, o Sandro
Meira Ricci se precipitou e interpretou a regra errada. Por
experiência própria, digo que em 60% dos lances desse tipo o árbitro não
vê o que acontece porque tudo é muito rápido e, muitas vezes, vários
jogadores estão atrapalhando a sua visão”, disse.
Leonardo Gaciba,
comentarista de arbitragem do canal SporTV e ex-árbitro Fifa, também
discorda da avaliação feita por Busacca. “A Fifa tem de assumir o que
faz e o que falou perante os seus instrutores. Existe um vídeo com 26
situações que ela, inclusive, proibiu de ser exibido. A CBF queria
exibir para o público e mostrar o que os árbitros receberam de orientação,
mas a Fifa não permitiu”, disse.
Gaciba ressalta que não é apenas no Brasil que as jogadas de mão na
bola estão provocando polêmica. “Na Espanha, tivemos lance dentro desse
modelo e no Campeonato Português o jogador estava de braço aberto quando
a bola bateu no seu peito e o juiz deu pênalti. Na Libertadores, também
ocorreu algo semelhante. Isso não acontece só no Brasil.”
CBF ataca a Fifa após críticas sobre árbitros: ‘não somos levianos’
Depois de declarações polêmicas de Massimo Busacca, Marco Polo Del Nero diz que possui vídeos e imagens que comprovam infrações.
O presidente eleito da CBF, Marco Polo Del Nero, banca a decisão dos
árbitros brasileiros contra os comentários da Fifa e alerta: ninguém na
entidade é “leviano”. Na quarta-feira, em entrevista aos jornais
brasileiros, o chefe de arbitragem da Fifa, Massimo Busacca, negou que
haja uma orientação da entidade para apitar pênalti ou falta qualquer de
bola na mão, como tem sido o comportamento dos árbitros brasileiros.
Suas declarações causaram mal-estar dentro da CBF e entre os
árbitros. No Brasil, o chefe da comissão de arbitragem da CBF, Sérgio
Corrêa, insistiu que as novas orientações eram uma recomendação da Fifa e
que teria sido o uruguaio Jorge Larrionda, instrutor da Fifa, quem
passou as novas ordens. “O Sergio Correa respondeu lá no Brasil”,
declarou Del Nero na quinta-feira na Fifa. “Nós temos os vídeos, as
provas. Ele não é leviano”, insistiu.
Na quarta-feita, a Fifa insistiu que “nunca mudou” a “regra da bola
na mão” e criticou o comportamento dos juízes no Brasil. Para a
entidade, os árbitros precisam “ler a situação” e não dar falta a cada
bola que toque na mão. “A mão faz parte do jogador. Não há como pensar em
um jogador sem mãos”, indicou Busacca.
Del Nero disse que há vídeos e imagens que comprovam pênaltis polêmicos
Nas últimas semanas, a arbitragem do Campeonato Brasileiro tem
causado diversas polêmicas, em especial por conta de lances de mão na
bola. A diretriz da CBF sobre da “mão na bola” aponta para uma direção
exatamente contrária à avaliação de Busacca.
A recomendação “une a mão intencional com o toque teoricamente não
proposital e intensifica as marcações de infrações, mas levando em
consideração fatores como a distância entre o atleta que tocou na bola e
aquele que chutou”. Na prática, a recomendação restringe a
interpretação de que possa haver um movimento de bola na mão.
Na Fifa, a recomendação surpreendeu. Segundo Busacca, “não se pode
dar falta a qualquer toque de mão. “Isso é um absurdo”, declarou. Para
ele, o que precisa ser pensado é se a mão de um jogador estava ou não no
local de forma “natural ou não-natural”.
“Um jogador precisa de sua mão e de seu braço para correr, para se
equilibrar e para saltar”, disse. “Não se pode jogar sem mão”, declarou.
Para ele, questionar isso é “desrespeitar o atleta”. Outro fator,
segundo ele, que precisa ser avaliado é se o toque foi “intencional ou
não”. “Quando um jogador tenta fazer seu corpo maior usando a mão, isso
deve ser punido”, disse.
Busacca insiste que, em seu trabalho, tem reforçado a ideia de que os
árbitros precisam ir além das regras escritas e saber “ler” uma
situação. “O juiz não pode só pensar como juiz e apenas aplicar o que
está escrito”, disse. “Um juiz precisa se colocar no lugar do jogador e
entender um movimento”, completou. Nesta semana, o presidente da CBF,
José Maria Marin, deixou claro que estava “insatisfeito” com a
arbitragem no Brasil.
Fonte: (ANAF) - O ESTADO DE SÃO PAULO
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