A vida de bandeirinha não é fácil. Não há salário fixo e as escalas não
são constantes. "Tem mês que faço cinco jogos, tem mês que são apenas
dois, então é preciso ter uma outra fonte de renda", diz Tatiane
Sacilotti, de 29 anos, uma das duas paulistas que pertence ao quadro de
árbitros da CBF.
Para melhorar a renda, não bastava dar aulas de hidroginástica em uma
clínica de fisioterapia. Resolveu então juntar o útil ao agradável e,
juntamente com a mãe Antonieta, montou a Casa das Panquecas. Que é a sua
própria casa. "É um serviço de entrega. Nós temos 29 sabores, entre
salgados e doces", conta.
A paixão por comida é explicada, segundo Tatiana, pela ascendência
italiana. "A gente gosta muito de comer e de fazer, então é gostoso
demais. Eu e a mãe preparamos na hora, não tem nada de congelado e meu
irmão e meu padrasto entregam".
A ideia veio de uma conversa com Sara, a pastora da igreja que Tatiane
frequenta na cidade de Cachoeira. "Antes, eu tinha o 'espetinho da
bandeirinha', mas não deu certo porque era um estabelecimento comercial e
eu tinha de ficar lá. Agora, não. É só receber o telefonema, fazer e
entregar. Está dando certo porque é uma opção nova, em cidade pequena
sempre tem lanche ou pizza, nós somos uma novidade". Frango com catupiry
e bacon, banana com canela e morango com chocolate são as mais
pedidas.
Tatiane é uma das duas bandeirinhas paulistas – junto com Maisa Teles –
que consegue passar nos testes físicos da CBF. Outras seis foram
reprovadas.
Para isso, submete-se a uma rotina diária de muitos treinos físicos.
Eles foram passados por Rogério Zanardo, árbitro e preparador físico.
Tatiane trabalha diariamente, na companhia de Wladimir Nunes, amigo e
colega de trabalho. "Ele me puxa muito, não deixa que eu desanime.
Treinar com homem exige mais e faz com que eu melhore sempre", diz.
Na pista, ela corre oito quilômetros diariamente. São muito piques de
100, 150, 200 ou 300 metros. Mais do que é exigido no teste. "A gente
puxa mesmo, vai além do que é pedido para não se surpreender no dia da
avaliação. Minha sorte é que o Zanardo é amigo e fez esse plano de
trabalho sem cobrar nada. Além da pista, também faço muita ginástica na
academia"
O teste físico masculino tem seis tiros de 40 metros. Cada um precisa
ser feito em 6,2 segundos. Em seguida, são 20 tiros de 150 metros, com
tempo de 30 segundos. A recuperação entre um tiro e outro é de 45
segundos. É o que se chama de recuperação ativa, pois o árbitro vai
caminhando até o local de um novo tiro.
Para as mulheres, as distâncias são as mesmas, mas há mais
flexibilidade nos tempo. Para 40 metros, pode-se gastar 6,6 segundos,
para 150 metros, 35 segundos, com uma recuperação ativa de 50 segundos.
"Na Federação Paulista, aceitamos mulheres desde que passem pelo teste
feminino. Não fazemos questão do masculino, que é muito puxado", diz
Marcos Marinho, responsável pela arbitragem. "Preferimos aprimorar a
parte técnica. Nossas auxiliares são ótimas e poderiam apitar para a
CBF, sem dúvida".
Antonio Pereira da Silva, responsável pela arbitragem da CBF, é adepto
do teste único. "O jogo é o mesmo, não interessa se é homem ou mulher,
todos precisam ter o mesmo nível físico. Gosto da atuação das
auxiliares. Estão muito bem".
Tatiane prefere não falar em justiça. "Olha, eu não penso nisso. Sei
que tem um teste, que tem um desafio e eu corro atrás. Não vou ficar
pensando se é justo ou não. É um sonho que tenho de infância e que estou
alcançando".
Quando disse à mãe que gostaria de ganhar a vida apontando
impedimentos, Tatiane se surpreendeu com a resposta. "Ela me apoiou na
hora. Nem acreditei, acontece que a minha mãe nem gosta de futebol. Mas
assiste todos os meus jogos. Ela exige silêncio na sala e fica roendo as
unhas. Fica brava quando dizem que eu errei, mas ela não sabe se estava
certo ou errado. O apoio dela foi muito bom".
Foi em 2003, após ver um jogo entre Guarani e São Paulo, que Tatiane
descobriu qual seria sua profissão. "Naquele jogo, estavam trabalhando a
Silvia Regina, a Ana Paula de Oliveira e a Aline Lambert. Para mim, foi
amor à primeira vista".
Tatiane tem 1,60m e não tem medo de cara feia. Nem se for de
Alessandro, ex-lateral do Corinthians, por exemplo. "Ele reclamou muito
de uma marcação minha. Eu pedi para ele se acalmar e coloquei a mão no
peito dele. Então, ele me deu um tapa, mas foi de leve, nem relatei para
o árbitro."
Leia mais em - http://esporte.uol.com.br/futebol - Matéria realizada pelo jornalista Luis Augusto Simon
Do UOL, em São Paulo
Do UOL, em São Paulo
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