quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

Entrevista - Enrique Osses

[Tudo que foi ministrado no seminário foi importante. Mas um fato me chamou a atenção: a importância que os árbitros europeus devotam a condição física e como eles se preparam para um curso da Uefa].

  • Assim que assumiu a presidência da (Conmebol) Confederação Sul-Americana de Futebol, o Dr. Juan Ángel Napout deu inicio a uma série de mudanças significativas na entidade - objetivando oxigenar o futebol da América do Sul.

  • No que tange a arbitragem, Ángel Napout tomou duas decisões importantíssimas que mudou o comportamento da confraria do apito da Conmebol: manteve o mestre Carlos Alarcón, o mais longevo membro do Comitê de Arbitragem da Fifa na direção do quadro de árbitros da Conmebol, e celebrou um convênio com a Uefa presidida pelo francês Michel Platini, visando um intercâmbio entre os homens de preto europeus e os da Conmebol.
  • A primeira experiência colocada em operação sobre o tema entre a Conmebol e a Uefa, laureou o árbitro Enrique Osses com a bola (Fifa/Chile/Conmebol). A indicação do indigitado árbitro para participar do Seminário de Arbitragem no Continente Europeu em Atenas (Grécia) - no período de 1º a 5 de fevereiro que passou, segundo informações, premiou sua discreta e eficiente atuação na Copa do Mundo do Brasil e a brilhante participação no Mundial de Clubes da Fifa em dezembro do ano que passou no Marrocos.
  • Fomos ouvir Osses sobre o experimento celebrado entre as duas instituições - e quais serão os resultados positivos que o fato em tela irá agregar na melhora qualitativa da arbitragem Sul-americana.
  • Na entrevista o árbitro fala sobre sua participação no curso em Atenas com a elite da arbitragem europeia, como se sentiu diante de um dos maiores juízes do planeta, Pierluigi Collina, que foi um dos palestrantes do curso, sobre a condição física do árbitro do século 21 e como evitar lesões. 
  • Além disso, Osses destaca a participação dos demais instrutores da Uefa/Fifa no seminário, Hugh Dallas e Ioan Lupescu, a tecnologia como ferramenta excepcional no auxílio a dirimir lances que fujam do campo visual do árbitro e dos assistentes - e finaliza com uma análise sobre estada na Copa do Mundo, no Mundial de Clubes e sobre uma possível participação na Copa do Mundo da Rússia em 2018. Acompanhe a entrevista abaixo.
  • Paranaonline - O sr. foi o primeiro árbitro Sul-Americano designado pela Conmebol para um seminário da Uefa que ocorreu nos primeiros dias de fevereiro do ano em curso em Atenas (Grécia). Como recebeu o convite?
  • Enrique Osses – Recebi com muita honra a indicação para representar a todos os demais árbitros da América do Sul neste evento importantíssimo. Muitos pensam, que os recursos que possuem os árbitros europeus são diferentes do que tem os árbitros da América do Sul. As dificuldades da arbitragem com raras exceções são universal. Por isto entendo que a oportunidade que tive de participar e compartilhar durante uma semana com os apitos da Europa, as diferentes situações que um árbitro enfrenta numa partida, me ajudaram em muito a melhorar os pilares técnico, físico, tático, psicológico para a minha continuidade como árbitro de futebol.
  • Paranaonline – Então o convênio firmado pelo presidente da Conmebol - Dr. Juan Ángel Napout, visando o intercâmbio e a unificação das tomadas de decisões da arbitragem é na sua opinião uma fato impactante na arbitragem da Conmebol.
  • Osses – Pessoalmente entendo que convênios como o celebrado pela Conmebol e a Uefa - propiciam novas experiências aos árbitros e são de fundamental importância para conhecermos e interpretarmos as diferentes mentalidades e indiossincrassias de como se desenvolve o futebol em outros Continentes. E, por consequência, como as confederações trabalham para melhorar o espetáculo de futebol e em específico a arbitragem. Tomara que outros convênios sejam celebrados, possibilitando assim o incremento do conhecimento e o aperfeiçoamento dos demais árbitros Sul-americanos nesta atividade maravilhosa que é a arbitragem.
  • Paranaonline -  Quais foram as experiências que vivenciou no seminário e o quanto isto irá acrescentar na sua trajetória como árbitro?
  •  Osses – Tudo que foi ministrado no seminário foi importante. Mas um fato me chamou a atenção: a importância que os árbitros europeus devotam a condição física e como eles se preparam para um curso da Uefa. Saí de lá com a certeza de que os árbitros da América do Sul podem melhorar ainda mais sua condição física. Árbitros novos ou da primeira linha da Uefa demonstraram excelente preparo físico.
  • Paranaonline – Os árbitros europeus revelaram o segredo de como chegar em plena forma física para os seminários da Uefa?
  • Osses – Eles implementaram um controle que mede o peso, verifica a porcentagem de massa muscular (índice de massa corpórea) – a gordura e o controle dos batimentos cardíacos e a  recuperação a cada esforço físico. Destaco que neste aspecto conhecemos e trabalhamos muito na Conmebol. A diferença que observei é que eles trabalham diariamente o pilar físico não só nos seminários da Uefa, mas também nas suas federações.
  • Paranaonline - E no pilar técnico notou algo diferente dos apitos europeus?
  •  Osses – Os conceitos demonstrados nesta área estão em consonância com os nossos. E, quando os árbitros foram submetidos a demonstrar seus conhecimentos, todos responderam de maneira uniforme. Agora, para se atingir decisões homogêneas, demanda um trabalho com a arbitragem de curto, médio e longo prazo, que é o que a Fifa e a Conmebol determinam.
  •  Paranaonline - Pierluigi Collina,  diretor de arbitragem da Uefa foi um dos preletores do seminário e é considerado um dos melhores árbitros de todos os tempos do futebol mundial. Que análise o sr. faz após ouvi-lo e quais  foram os fatos marcantes que ele narrou nas suas preleções?
  •  Osses – O sr. Collina disse na sua intervenção como o árbitro deve se portar e desenvolver uma partida no campo de jogo. Sua mensagem foi similar ao que recebemos nos cursos da Conmebol e da Fifa. É dever do árbitro: proteger o atleta habilidoso, controlar o jogo brusco e quando necessário punir, fazer uma leitura minuciosa do prélio que vai dirigir, e a importância do trabalho em equipe do árbitro com os assistentes e o quarto árbitro.
  • Paranaonline - Hugh Dallas, membro da arbitragem europeia na prelação que fez aos árbitros e árbitras do seminário, enfatizou a importância  adequada da formação e consequente requalificação do árbitro. O que o sr. aprendeu nessa palestra?
  • Osses – Todas as prelações dos membros do Comitê de Arbitragem da Uefa seguem uma linha uniforme. Já o sr. Dallas teve uma participação mais efetiva com os novos árbitros e árbitras da Uefa. Notei esta diferença em nosso Continente. Na Uefa o futebol feminino desenvolveu-se em escala ascendente e as árbitras são formadas e recebem as mesmas capacitações dos árbitros via Comitê de Arbitragem.
  • Paranaonline - O ex-atleta de futebol Ioan Lupescu, diretor técnico da Uefa, deu ênfase no curso ao fato de que a arbitragem quando vai comandar uma partida, deve se interar das táticas das equipes e o “modus operandi” dos jogadores e membros da comissão técnica. Por que isto não acontece com frequência nas competições da América do Sul?
  • Osses – Nesta preleção do sr. Lupescu, observei a importância dos dados que ele repassou aos árbitros que estão atuando nas oitavas de final da Champions League. Por exemplo: Lupescu exibiu vídeos e gráficos, mostrando o comportamento do técnico e tático das equipes classificadas. Os jogadores problemáticos ou não e como se portam dentro do campo de jogo nas divididas, quem são os que podem gerar conflitos e a tática utilizada para defender e atacar etc...... 

  • Paranaonline – Então, informações desta natureza ajudam o árbitro a realizar uma boa arbitragem?
  • Osses – Sem dúvida. Quando temos os dados acima mencionados em maõs, a planificação da arbitragem fica melhor e sabemos como enfrentar os problemas na partida que vamos apitar. Assim como eu faço nos jogos que sou designado, os meus colegas da Conmebol também o fazem. Mas o correto é ter esses dados em todos os confrontos. 
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  • Paranaonline – Dado o que vivenciou no seminário da Uefa, o que o pretende repassar aos seus congêneres da Conmebol como forma de oxigenar a arbitragem Sul-americana?
  • Osses – O principal item é a condição física. O que ouvi e vi lá em Atenas (Grécia) - é de que o árbitro na atualidade tem que estar 100% fisicamente e nos demais quesitos exigidos pela Fifa e a Conmebol. Os atletas se preparam e estão cada dia mais preparados. E o árbitro moderno tem que estar no mesmo patamar ou superior aos atletas - dado que cabe ao homem do apito numa fração de segundos, interpretar e aplicar corretamente as Regras de Futebol. Outro aspecto é a prevenção para evitar lesões. E o que também me despertou atenção - foi o nivelamento dos árbitros e o ranking por desempenho técnico ancorado no seu desempenho no campo de jogo.
  • Paranaonline - E como um árbitro pode atingir 100%?
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  • Osses – Na Conmebol temos vários talentos com competência para atingir o estágio mencionado. Porém, é necessário agregar além do talento, muito conhecimento, treinamento, participar de cursos de capacitação continuada,- ler as Regras de Futebol diariamente, esmerar-se permanentemente, ser perseverante e em suma: muito trabalho.
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  •  Paranaonline – Que análise faz da sua participação no Mundial de Clubes da Fifa em dezembro do ano passado no Marrocos?
  •  Osses – Ser escolhido pela Fifa para atuar no Mundial de Clubes  no Continente Africano -  foi uma das etapas mais importantes da minha trajetória como árbitro de futebol. Aprendi muito. Além disso, meu compatriota, o assistente Sergio Romam também participou do torneio e encerrou sua carreira como bandeira em alto nível por ter completado 45 anos de idade.  
  • Paranaonline – A exemplo da Copa do Mundo, Massimo Busacca o diretor de arbitragem da Fifa esteve “in loco” no Mundial de Clubes da Fifa. O sr. Busacca solicitou alguma mudança em relação as orientações do Mundial de 2014?
  • Osses – Não. As orientações e determinações do diretor de árbitros da Fifa foram no sentido de que a arbitragem deve: fazer a leitura antecipada do jogo que vai dirigir. O árbitro deve se antecipar as jogadas de maior intensidade para evitar  futuros problemas na partida. Controlar de acordo com a regra o jogo brusco. Proteger os jogadores habilidosos. Fazer a diagonal, mas, não ficar circunscrito a ela. Observar o lance de bola na bola natural e não natural. Manter a disciplina no campo de jogo e aprimorar o trabalho em equipe.
  • Paranaonline - A (TGL) tecnologia na linha do gol foi utilizada pela arbitragem na última Copa do Mundo e também no Mundial de Clubes. O sr. atuou nas duas competições. Qual é a sua opinião sobre a (TGL)?

  • Osses – A implantação da (TGL) é espetacular porque ajuda a arbitragem a solucionar lances no desenvolvimento do jogo, que fujam do seu campo visual de forma a não sofrer contestações. Sou favorável também a implementação de novas tecnologias que propiciem ao árbitro e assistentes determinarem a solução automática e com certeza do que ocorreu na jogada. Sou contrário a uma tecnologia que venha “matar” o jogo e, por conseguinte, um fator muito importante no futebol, que é paixão e a emoção instantânea do torcedor.
  • Paranaonline - Participar da Copa do Mundo no Brasil foi o seu limite ou pretende se fazer presente na Rússia em 2018?
  • Osses – O caminho trilhado para chegar ao Mundial de 2014 foi longo e exigiu muita dedicação, trabalho, perseverança. Se a pergunta em tela fosse efetivada em novembro do ano passado, diria que não. Agora, após ter sido designado para o Mundial de Clubes da Fifa em dezembro e, posteriormente, ser escolhido pela Conmebol a participar do recente seminário da Uefa em Atenas, minha expectativa mudou um pouco.
  • Paranaonline – Dado o Know how adquirido, quais são os próximos passos que pretende trilhar na sua vitoriosa carreira de árbitro?
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  • Osses – Meus objetivos estão focados em fazer um excelente semestre na Associação Nacional de Futebol do Chile e nas competições da Conmebol - e a seguir ser indicado para laborar na Copa América que será realizada no meu país em junho deste ano. Após a Copa América vou fazer uma análise com minha família - e se me sentir em condições físicas de continuar trabalhando nesta atividade apaixonante e que tanta satisfação me proporcionou e continua me proporcionando que é a arbitragem, seguirei em frente.  

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