terça-feira, 26 de julho de 2016

Tiro, porrada e fama: Heber fala de tudo, da careca ao time do coração

                       Foto: http://m.redgol.cl/
Londrina, 1985. Um garoto de 13 anos acompanha um jogo de futebol amador perto de casa. O juiz não dá as caras, e ele é chamado pra botar ordem no duelo. Vai bem e começa um caminho que décadas depois tem recorde de jogos apitados no Campeonato Brasileiro, decisão de Copa América, agressão, polêmicas e até tiros. Aos 44 anos, Heber Roberto Lopes iniciou na última semana a arrancada final. Vai pendurar o apito quando chegar aos 45 anos de idade, sendo 22 deles dedicados ao futebol profissional.

Apesar da imensa blindagem aos árbitros, Heber aceitou falar com a reportagem do GloboEsporte.com sobre tudo, da careca concebida num réveillon há 15 anos ("uma cagada", confessa) ao time do coração, o Londrina, que ele pede à Comissão de Arbitragem para não apitar os jogos. A final da Copa América, as reclamações de chilenos e argentinos, o pênalti perdido por Messi "quase fora do estádio" e a mentirosa farra com mulheres ("mulherada feia", destacou) publicada por um jornal peruano ainda estão na memória, assim como o equívoco assumido nesta entrevista naquele tão falado carrinho de Fágner em Ederson no Corinthians 4 x 0 Flamengo de dias depois. 

– Cometi um equívoco. 

Com 312 jogos de Série A de Campeonato Brasileiro – um recorde –, quatro finais de Copa do Brasil, 103 partidas de jogos Fifa e Conmebol, entre outras marcas, Heber revisitou a carreira em seus muitos momentos. Desde o início na Vila Recreio, em Londrina, onde ainda adolescente era apelidado de "Satanás" (nota: ele não gosta da alcunha que pegou quando o irmão assim o chamou após a fuga de um castigo), teve muitas vezes a segurança garantida por tiros de escopeta de uma senhora de 80 anos, passando por momentos tensos no futsal paranaense, como o dia em que foi agredido por um treinador e por torcedores em Arapongas (confira no vídeo abaixo com depoimento de Heber), até o futebol profissional, com escalas em sequência que o permitem atualmente viver apenas do esporte.

As lembranças da mãe – Ursulina Roberto Lopes –, falecida em 2012, são muitas. Da oposição ao trabalho de árbitro no início para o apoio total na sequência, servindo de motorista do filho que trocou as caneleiras pelo apito. A perda do pai – Brasil Fonseca Lopes – no mesmo ano da mãe, ainda dói. E a força vem muito do casamento com Ana Paula Lopes, esposa que já sofreu muito assistindo aos jogos do marido – e, por consequência as tradicionais críticas aos árbitros. Hoje, Heber aconselha que não veja as partidas para assim ficar longe dos calmantes. 

Na reta final de carreira, Heber já planeja o próximo passo. Estudante de jornalismo, falta pouco para fechar o curso e se candidatar a uma vaga como comentarista de arbitragem. Mas ele abre o leque, e virar treinador é uma das possibilidades. "Por que não?", questiona. Afinal, futebol é sempre complicado. E isso ele está careca de saber.


Opinião do Bicudo - Heber Roberto Lopes (foto/FIFA/SC), formou-se árbitro pela Federação Paranaense de Futebol e no Paraná laborou por mais de uma década na função – dada a extraordinária capacidade cognitiva de que é possuidor e do dom, do talento e da vocação, atingiu a elite da arbitragem mundial sendo promovido ao quadro da FIFA. Este fato por si só, deveria ser motivo para que Roberto Lopes fosse tratado pelos dirigentes do futebol da terra das araucárias como um diamante precioso. 

Porém, a mediocridade, característica principal dos cartolas do futebol paranaense “falou mais alto”. De repente, num belo dia do ano de 2012, cansado do “modus vivendi” e do “modus operandi” dessa mesma cartolagem medíocre, foi embora para Santa Catarina a convite do presidente da federação local, Delfim de Pádua Peixoto. Lá recebeu o tratamento digno que era merecedor e se tornou o melhor e mais bem pago apito do futebol brasileiro. POBRE FUTEBOL PARANAENSE.  

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