segunda-feira, 14 de novembro de 2016

AV: Mínima interferência e máximo benefício

                                   Árbitro de vídeo em testes na MLS(EUA) - Crédito - FIFA.com

ENTREVISTA: SÉRGIO CORRÊA DA SILVA

[UM DOS PRINCÍPIOS PREVISTOS NO PROJETO DA CBF SOBRE O (AV). PREVÊ PRUDÊNCIA NA ANÁLISE DO VÍDEO, OU SEJA, JAMAIS DECIDIR NA PRIMEIRA IMAGEM]

A FIFA e o universo que pratica futebol nos quatro cantos do planeta, consideram como histórica a decisão do IFAB (THE INTERNATIONAL ASSOCIATION BOARD, ocorrida no último dia 5 de março - decisão que autorizou o experimento do árbitro de vídeo (AV), como ferramenta auxiliar à arbitragem a equacionar determinados lances que fujam do seu campo visual.

A partir de então, sob a supervisão do IFAB e da FIFA, a experiência que vinha sendo testada na (KNVB), na Holanda, ganhou robustez, sobretudo, pelo projeto apresentado pela CBF nas reuniões do IFAB, através do representante da CONMEBOL, o brasileiro Manoel Serapião Filho, membro do Painel Técnico Consultivo da instituição.

A CBF em função da participação decisiva perante o Painel Consultivo do IFAB, em conjunto com um projeto de excelência elaborado por Manoel Serapião e Sérgio Corrêa da Silva, foi uma das primeiras Associações filiada a FIFA, a solicitar autorização para a efetivação dos testes.

Foi designado para coordenar o processo que vai proporcionar que as decisões do árbitro sejam em consonância com as exigências do futebol que se pratica no século 21, Sérgio Corrêa da Silva (foto abaixo), e ex-diretor da CA/CBF, personagem com Know-how inquestionável na área da arbitragem brasileira e, por extensão, Sul-americana.

Dado o sinal verde do IFAB, a CBF realizou testes “Offline” com sucesso absoluto, seguido da MLS (EUA), Federação Portuguesa de Futebol, o Canadá e os EUA que estão realizando testes nas competições da terceira divisão, e mais recentemente a FIFA, no amistoso em Bari na Itália, entre Itália 1 x 3 França.

Trabalhando em tempo integral no dia a dia em cima do (AV) na sua sala de trabalho, na sede da CBF e fora dela, Corrêa da Silva, mantém informado diariamente o presidente Marco Polo Del Nero de todas as ações sobre o (AV).

Além disso, contata com dirigentes da CONMEBOL, com empresas e técnicos versados na área da tecnologia, com IFAB, a FIFA e demais envolvidos direta ou indiretamente na experiência do árbitro de vídeo.

Na entrevista por e-mail, Sérgio Corrêa, fala sobre a importância do projeto do árbitro de vídeo e elenca diferentes situações sobre o assunto. Confira a seguir:

Como o sr. vê a decisão histórica do The IFAB do último dia 5 de março, que liberou o experimento com o árbitro de vídeo (AV)?
A decisão FIFA e do IFAB ao aprovarem o experimento do Arbitro de Vídeo (AV), traduz o encontro do futebol com a modernidade e a busca por resultados dos jogos de forma legítima.

Qual foi a participação da CBF e do representante da CONMEBOL junto ao The IFAB, Manoel Serapião, na concretização dos testes do (AV)?
A participação da CBF é de análise das situações que podem ocorrer em campo e da tecnologia a ser empregada. É bom destacar que tudo está em desenvolvimento e em perfeita sintonia com a ideia da CBF - que foi a primeira Associação Membro a solicitar autorização oficialmente, para fazer o experimento e encaminhar um projeto minuciosamente detalhado ao IFAB sobre o (AV).

[A CBF trabalha ouvindo a todos e tem trabalhado muito em todos os setores e na arbitragem o apoio tem ocorrido e se elevará. Vem ai a Central de Analise; uma nova estrutura para a arbitragem; para formação, o aperfeiçoamento, plano de carreiras e, principalmente, uma forte avaliação  naqueles que observamos, os árbitros. Só ficarão os comprometidos e profundos conhecedores do assunto. Uma nova página está sendo formatada e o AV será um dos pilares para dar sustentação aos árbitros humanos que se esforçam ao máximo para legitimar os resultados. O ano de 2017, será o da transição... Estamos felizes, pois podemos colaborar com esta que será a nova fase do setor... Quem viver verá!]

Qual é o conteúdo do projeto da CBF enviado ao IFAB?
Os principais slogans da CBF foram incorporados. Manutenção do atual sistema de arbitragem (com pequenos ajustes); mínima interferência e máximo benefício; não paralisação do jogo; e, principalmente, com o objetivo de corrigir erros claros e/ou equívocos. Neste último ponto, o que o protocolo do IFAB diverge do projeto da CBF é a inclusão de lances de interpretação, que ao ver da CBF, como já dito reiteradamente e de modo oficial á FIFA e ao IFAB, talvez fira o último slogan: “da não paralisação do jogo”, at é por ser certo que, mesmo utilizando o projeto  para lances clarividentes/inequívocos”, haverá um elevado impacto no futebol, tanto na partida em si, como na sua cultura, de modo que seria extremamente prudente iniciar o experimento com o estritamente necessário e, posteriormente, a depender dos efeitos produzidos, agregar novos lances – step by step.   

EUA, Brasil, Holanda, Portugal, Canadá e a FIFA no amistoso entre Itália 1 x 3 França, já realizaram vários testes "Offline" sobre o árbitro de vídeo. Já é possível fazer uma análise positiva dos resultados alcançados nos aludidos testes do (AV)?
Sem dúvida que sim. A experiência tem sido positiva, sobretudo, para consolidar, ainda mais, um outro projeto da CBF para o (AV): prudência na análise do vídeo, ou seja, jamais decidir com base na primeira imagem. Sempre vale a pena ver e rever o replay. O tempo que isso demanda é insignificante, comparado ao objetivo final, decisão correta. 


[O presidente da Comissão de Arbitragem da Conmebol, Wilson Seneme tem acompanhado os trabalhos, sendo este um tema de interesse da entidade Sul-Americana.]

O The IFAB realizou alguns seminários sobre o árbitro de vídeo. Na sua participação sobre o tema, qual foi a sua percepção da praticidade dessa tecnologia como ferramenta auxiliar à arbitragem e dos demais participantes?
A CBF tem sido incisiva sobre a não inclusão de lances de interpretação no projeto. Nos demais aspectos, todos nós atuamos igualmente, embora a CBF também ainda resista a formalidade, talvez excessiva do protocolo, pois, a seu ver, a matéria deveria ser dividida em dois pontos: aspectos puramente técnicos e aspectos administrativos jurídicos, pois isso facilitaria as atuações dos responsáveis pelo projeto. Um exemplo: líder Sérgio Corrêa – (aspectos administrativos e financeiros) e instrutor de árbitros – Manoel Serapião (aspectos técnicos da atuação do AV e do árbitro).

[O protocolo do IFAB inclui lances de interpretação, o que deve criar problemas, exigindo que o jogo seja interrompido com frequência. A reivindicação da CBF via Manoel Serapião e Sérgio Corrêa, é no sentido de que o IFAB deve realizar dois experimentos: 1) Com lances de interpretação e 2) sem tais lances. Este será mais fácil, eficiente e menos oneroso economicamente, além de não quebrar a dinâmica do jogo, que é a chave do nosso projeto.]


O sr. é um cientista no que tange a arbitragem brasileira  - e, por isso, foi designado para coordenar um projeto de tamanha magnitude. Como estão os preparativos para a execução de novos testes sobre o (AV) no Brasil?
Estamos adotando todas as medidas pertinentes a esta fase, inclusive desenvolvendo estudos sobre equipamentos mais adequados etc.. A outra etapa diz respeito ao treinamento dos operadores, árbitros e AV, bem como iremos realizar uma campanha de esclarecimento do projeto, especialmente para não frustrar o mundo do futebol. Pois, temos observados que todos imaginam que não teremos mais equívocos de arbitragem. Não será assim. Não conseguiremos 100% de correção. Tudo está sendo avaliado de maneira responsável e somente seguirá com absoluta convicção de que o custo X benefício atenda a todos os pressupostos.

A tecnologia do árbitro de vídeo segundo informações tem um custo econômico elevado. Já há um valor aproximado de quanto a CBF irá gastar para implementá-lo nos seus torneios?
Não vou entrar em detalhes sobre valores, porque diz respeito a outra área. Se os lances de interpretação forem excluídos podemos atingir os objetivos – aliás, esta é a grande tônica do nosso projeto: manter o futebol com dinamismo, sem paralisações a qualquer dúvida...

O projeto para treinamento dos árbitros e demais pessoas que irão desenvolver diferentes tarefas sobre a tecnologia em tela, já está finalizado?
O projeto sim – já está em sua fase final. Por outro lado, um contingente expressivo de árbitros do futebol brasileiro tem conhecimento do assunto e, até, com certa profundidade. A CBF sempre que surge uma oportunidade, expõe o fato, como tem ocorrido em todos os cursos, palestras e seminários que realiza. Assim que tivermos o material pertinente ao AV, iniciaremos o treinamento final.

O The IFAB determinou que os testes do árbitro de vídeo devem ser realizados este ano e no ano que vem. Se aprovado com 100% de eficácia, o sr. vê viabilidade da sua implementação a partir de 2018?
Precisamos separar as coisas. Com efeito, o experimento ao ser feito terá plena validade se houve lances de modo definitivo e irrecorrível nos resultados dos jogos. A decisão sobre se o AV será incorporado definitivamente a regra é outra coisa. Será o mesmo que vem ocorrendo com a denominada [tripla punição] – é uma experiência, mas seus efeitos se produzem ser reversibilidade. Achamos e esperamos que o AV seja um caminho sem volta, para o bem do futebol e sua ética. 


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