quarta-feira, 9 de maio de 2018

A CULPA É DOS ÁRBITROS

Em função da matéria abaixo - [TRACI E EQUIPE ESPANTARAM “A NUVEM NEGRA”], recebi as seguintes considerações via e-mail e WhatsApp. Vamos a elas: é impossível o árbitro ter uma performance melhor do que a que estamos observando porque, com raras exceções, todos os segmentos do futebol brasileiro são profissionais e tiveram suas atividades regulamentadas, menos o árbitro. Todos podem se dedicar exclusivamente ao seu mister, sem se preocupar com outro tipo de trabalho.   
    Á arbitragem brasileira se ressente a cada temporada de árbitros com o dom, talento e a vocação de Salvio Spinola - Crédito: MHDB

Como não teve sua atividade regulamentada até o momento, o árbitro desenvolve outros tipos de labor para sua sobrevivência e seus dependentes. Como não teve seu trabalho regulamentado, os homens de preto não possuem condições de se dedicar 100% ao labor do apito – o que inclui estudar e revisar as Regras de Futebol periodicamente, treinar e ter o acompanhamento de um preparador físico, de um fisioterapeuta, de um nutricionista, de um ortopedista, de um psicólogo, requisitos de fundamental importância para que, esse profissional preste um serviço de alto nível ao futebol brasileiro. O que significa que, a maioria das críticas direcionadas à arbitragem são injustas. Nada mais recebi, além do aqui escrito.  

Contradito o que recebi com os seguintes questionamentos e respostas: Sabem porque a maioria das categorias que labutam no futebol (atletas e técnicos), alcançaram a regulamentação das suas profissões? Porque se organizaram fora do campo de jogo em sindicatos, e a seguir criaram as suas federações, entidades consideradas de segundo grau no sindicalismo vigente no país. Já a arbitragem, ficou circunscrita as associações tanto em âmbito regional como nacional. Associações diz a lei, são entidades de recreação e lazer.

Lembro que, quando teve a oportunidade impar de ter sua profissão regulamentada, a categoria do apito e seus representantes sindicais, prevaricaram. O fato ocorreu no período de 2002 a 2013, quando um grupo de pessoas comprometidas com os interesses dos apitadores, elaborou um projeto que recebeu a rubrica de Projeto nº6405/2002.  Projeto que contemplava a profissionalização e regulamentação do árbitro de futebol na essência – mas, por falta de uma entidade com capilaridade jurídica e política, e de participação efetiva dos árbitros, ficou vagando de gaveta em  gaveta, de comissão em comissão durante onze anos no Congresso Nacional, em Brasília.

O resultado da falta de interesse da classe, acoplada a ausência de uma entidade reconhecida pela (CLT) e a Constituição Brasileira, e sem representatividade política perante o Congresso Nacional, em Brasília, desembocou na Lei Nº 12.867/2013, que reconheceu a categoria do apito como profissional - mas não regulamentou sua atividade.  Desde então, não há conhecimento de que alguma medida objetiva, tenha sido levado adiante sobre a questão da regulamentação da profissão dos homens de preto.

Além do desinteresse na criação de sindicatos, o que lhe daria o aval necessário para criar a Federação Brasileira dos Árbitros de Futebol, a arbitragem que sempre foi e é, a parte mais nevrálgica do contexto do futebol, preocupou-se apenas em brigar por escalas ao longo dos anos. Situação que inviabilizou qualquer tentativa de reivindicar melhorias à classe.

Não conheço nenhuma categoria trabalhista, que, se solidificou no cenário estadual ou nacional e atingiu seus objetivos, sendo associação. Atletas e técnicos de futebol são exemplos recentes.  Bancários, comerciários, construção civil, médicos, metalúrgicos, policiais civis e federais, se fortaleceram primeiro na criação de sindicato e, posteriormente, na implementação da federação e confederação das suas respectivas categorias. Será o árbitro de futebol, inferior as diferentes classes de trabalhadores aqui nominadas? Tenho certeza que não.

PS: Enquanto não criar a federação, a arbitragem não terá substância jurídica e política para pleitear o direito de arena, o direito de imagem, o fim do sorteio, a regulamentação da sua profissão, a participação financeira nos diferentes patrocínios que a CBF e as federações de futebol exploram e ganham milhões de reais na vestimenta dos árbitros, cursos de capacitação continuada ou qualquer outra reivindicação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário