terça-feira, 12 de março de 2013

Árbitros brasileiros sofrem em teste e correm para não ficar fora da Copa

Luis Augusto Símon
Do UOL, em São Paulo

  • Ricardo Nogueira/Folhapress
    Árbitro Sandro Meira Ricci tem a chance de representar o Brasil na Copa-2014 Árbitro Sandro Meira Ricci tem a chance de representar o Brasil na Copa-2014

O Brasil, por ser país-sede, está garantido na Copa-14 sem necessidade alguma de participar de eliminatórias. Quando o assunto é arbitragem, porém, não há nenhuma certeza de que haverá um trio brasileiro entre os 32 que apitarão o Mundial.
O primeiro derrotado pelos testes físicos da Fifa foi o paulista Wilson Luiz Seneme, de 42 anos. O segundo foi o gaúcho Leandro Pedro Vuaden. A esperança e a responsabilidade estão com o mineiro Sandro Meira Ricci, da federação pernambucana, que será avaliado em abril, em Assunção, no Paraguai.
Ricci pega pesado na preparação para estar em forma na hora do teste. A participação do Brasil no quadro da arbitragem no Mundial em casa depende dele. Os próprios assistentes, que já passaram nos testes, dependem dele. Só um trio o país pode ter na Copa.
E a parte física é o que mais dificulta aos árbitros brasileiros. Mesmo entre os mais celebrados. Seneme é muito respeitado entre seus colegas.  Guilherme Ceretta de Lima, também árbitro paulista, conta que há um neologismo criado para definir o seu estilo. "Ele está sempre em cima do lance e sabe se impor aos jogadores. Quando um árbitro faz tudo certo, a gente diz que ele senemeou naquele jogo, é como se o cara tivesse gabaritado em um vestibular".
O reconhecimento é o que sobrou para Seneme, que não passou nos testes para 2014 e não terá outra oportunidade de apitar um Mundial, pois a Fifa limita a 45 anos a idade de seus árbitros. "Não tenho nada que reclamar. Sempre soube como seriam os testes e sempre soube que, se não passasse, ficaria de fora. Não houve supresas", diz, antes de lamentar a falta de profissionalização da arbitragem brasileira.
"Sou funcionário público estadual aqui em São Carlos, cuido da organização de Jogos Abertos e Jogos Regionais. Não é possível me dedicar apenas à arbitragem, não fiz uma preparação física ideal. Teria de ter começado aos 30 anos para passar agora, com 42. Pelo menos, fui reprovado na pista e não no campo", diz.
O teste não é fácil. Os árbitros precisam dar 20 tiros de 150 metros em 30 segundos cada um. Após um tiro, eles caminham mais 50 metros para o local da nova largada. Também tem 30 segundos para caminhar esses 50 metros. Então, se fazem um tiro de 150 metros em 25 segundos, passam a ter cinco segundos a mais de descanso. Independentemente de conhecimentos técnicos, Usain Bolt seria aprovado com louvor.

Veja como era e como ficou o teste físico para árbitros para Copa

  • Arte UOL
Seneme, não. No primeiro teste, realizado em setembro de 2011 em Zurique, na Suíça, ele deu apenas um tiro. "Estava sofrendo de fascite plantar, dores na sola do pé e fui reprovado. Em janeiro de 2012, em Assunção, consegui dar 12 tiros e parei. O teste é muito duro. É mais difícil do que para se manter no quadro da Fifa, que tem um descanso de 35 segundos, que ajuda muito", diz o árbitro.
Vuaden, que era o "reserva" de Seneme, também foi reprovado. Já os bandeirinhas Emerson Augusto de Carvalho e Alessandro Rocha foram aprovados. "Para mim, foi fácil. Fiz mais do que era necessário", diz Emerson Augusto de Carvalho. Ele se refere a 40 tiros de 75 metros, em 15 segundos cada um, no máximo. O descanso entre um tiro e outro é de 20 segundos.
Nem sempre os testes foram tão duros. Até 2002, os árbitros selecionados precisavam dar dois tiros de 150 metros, com 35 segundos de descanso e, em seguida, submeter-se ao teste de Cooper, correndo no mínimo 2.700 metros em 12 minutos. Em 2004, Angel Maria Villar, presidente da federação espanhola de futebol, assumiu a arbitragem da Fifa e pediu ao belga Werner Helsen que mudasse os testes. E, para as Copas de 2006 e 2010, os árbitros selecionados tiveram de dar 24 tiros de 150 metros, com um descanso de 35 segundos para caminhar os 50 metros.
Agora, em 2014, a quantidade dos tiros e de descanso diminuíram. Ao contrário do que possa parecer, ficou mais difícil. "São menos tiros, mas o descanso é bem menor. Esses cinco segundos a menos são terríveis", afirma Seneme.
A escolha dos árbitros brasileiros para a Copa não passa pela CBF. "A Fifa decide tudo, ela nem nos consulta", diz Aristeu Tavares, ex-presidente da comissão de arbitragem, que deixou o cargo no final de fevereiro de 2013, e, que, como assistente, participou da Copa de 2006.

EX-ÁRBITRO CARLOS EUGÊNIO SIMON PASSARIA 'COM O PÉ NAS COSTAS'

  • O gaúcho Carlos Eugênio Simon foi o escolhido pela FIFA para representar a arbitragem brasileira nas últimas três Copas. E considera inadmissível uma reprovação. "Olha, eu tenho 47 anos e passo nesses testes da FIFA. Sempre passei. Se a idade permitisse eu continuava apitando e disputaria com os outros para disputar outra Copa".
    Para ele, a força de vontade é fundamental. "Eu falei com o Vuaden que teria de fazer os três últimos anos valerem 30 e conseguir a vaga. É uma coisa que vale para sempre. Não adianta dizer que foi bom, que apitou aqui e ali. O que vale é a Copa. Antes de mim, só 12 brasileiros tiveram essa chance. É algo que fica para sempre, mas tem se deixar de lado a cervejinha, o salgadinho, a fritura, não pode ser sedentário, tem de treinar todo dia, tem de amar a carreira. Eu fiz tudo isso e tem idiota que diz que sou político. Isso não adianta, a FIFA é que manda".

    Para Simon, os árbitros sul-americanos são menos determinados. "Outro dia, o Pierluigi Colina (árbitro italiano que apitou a final da Copa de 2002 e a final da Olimpíada de 1996) me disse que a taxa de reprovação na Europa é zero por cento. Só na América é que tem esse choro. O teste é duro? É, mas se você quer entrar na história, tem de trabalhar bastante".
"Não posso dizer que me sinto triste porque dois árbitros nossos já foram eliminados, porque assumi em agosto de 2012 e não posso ser responsabilizado. O que eu sei é que a partir de 2013 todo árbitro brasileiro convidado para um curso, um congresso ou um torneio fora do país só comparece se for aprovado em um simulado realizado por aqui".
Aristeu explica que, mesmo que Sandro Meira Ricci ou Heber Roberto Lopes, seu reserva, forem aprovados, não é certeza de participação brasileira. "São aprovados 54 trios, que passam por análises detalhadas em quatro competições (Mundial sub-17, Mundial sub-20, Mundial Interclubes e Copa das Confederações). Só então, são definidos. Há uma tendência de o país-sede ser contemplado, mas não há uma certeza".
Paulo Camello é designado pela CBF para acompanhar o trabalho dos árbitros. "Os árbitros selecionados pela Fifa para fazer os testes recebem um caderno de encargos para se prepararem. Há uma série de exercícios que devem fazer antes dos testes e também de competições. Não deu certo para o Seneme e para o Vuaden e eu sofri muito com eles. Fizemos de tudo, mas como não há profissionalização no Brasil, os árbitros precisam se virar, precisam buscar um tempo extra para treinar. Fica na mão deles. O Sandro Meira Ricci está seguindo tudo o que a Fifa pede e ainda contratou um profissional particular muito bom. Ele vai passar", afirmou.
Enquanto se prepara para o teste, Sandro Meira Ricci é proibido de dar entrevistas. Aristeu permitiu - antes de sair do cargo - apenas que Roberto Patu, seu preparador físico, falasse com a reportagem. "O Sandro vai passar fácil. Ele não começou seu trabalho agora, temos uma parceria que começou há três anos, quando tinha algumas lesões. Hoje, além de árbitro, ele é um atleta", afirmou Patu.

A preparação física de Sandro Meira Ricci


  • Folhapress Sandro tem 38 anos e se submete a uma dura rotina de testes. "Ele trabalha seis vezes por semana, sendo que nós consideramos um dia de jogo como dia de trabalho. O trabalho diário é feito pela manhã ou no final da tarde e visa conseguir resistência aeróbia, anaeróbia lática, anaeróbica analática, potência e agilidade", explicou  o preparador físico Roberto Patu.
    Na prática, são corridas. Cíclicas e acíclicas. "Nós alternamos tiros de 10, 30 e 50 metros com tiros rápidos de um minuto ou dois minutos. Em outros dias, ele faz uma corrida longa de 30 ou 40 minutos. Também há exercícios de salto e para aumentar a força".

    Só isso? Não, tem mais. Ricci vai à academia três vezes por semana para exercícios de musculação. Tem acompanhamento de uma nutricionista e se submete à dieta de 2500 calorias diárias. "Está tudo sobre controle. Nos últimos três anos,ele nunca teve taxa de gordura acima de 10% e a Fifa permite 12%. Ele vai arrebentar nos testes de abril", afirma Patu. Se conseguir, será o 14º Arbitro brasileiro a participar de um mundial.
  • Fonte: UOL ESPORTES

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