Em mais uma edição da sua análise anual das finanças no futebol, o
Itaú detonou a gestão dos clubes brasileiros. Em um estudo de mais de
160 páginas divulgado nesta semana, o banco privado avaliou como foi o
ano de 2013 para os 20 times da Série A do Brasileiro (mais Vasco,
Portuguesa e Ponte Preta) e fez duras críticas aos dirigentes que
comandam as equipes.
Para começar, "Dinheiro na mão é vendaval" é
o título do texto, que já foi mais otimista nos anos passados (2011:
"Como o mundo das finanças enxerga o futebol"; 2012: Clubes apresentam
evolução econômico-financeira; 2013: "Não falta dinheiro"). Para cada um
dos 23 clubes, o Itaú deu um título para resumir o balanço, utilizando
as demonstrações contábeis de cada um e considerando também
acontecimentos mais recentes.
Dentre as avaliações, vale destacar
logo de cara o que a instituição financeira escreveu a respeito do
Palmeiras. Com mais de R$ 90 milhões colocados por Paulo Nobre no
alviverde, o estudo admite que a política deu certo para tirar o time da
segunda divisão, mas questiona ao final: "até quando o presidente
colocará dinheiro no clube?".
O banco faz também uma ironia fina
com o Corinthians, com quem também é duro na análise. Ao resumir a
gestão pela frase "Encantador de Serpentes", o estudo explica que a
direção alvinegra se vendeu como moderna quando não foi nada disso.
"Mais
que isso, por algum momento fez acreditar que se tratava de uma gestão
moderna, quando na realidade realizava as práticas mais comuns e antigas
da gestão do Futebol", afirma, além de falar sobre o não pagamento de
impostos e deixar uma pergunta: "Mas como ficam os clubes que pagam em
dia?".
Logo na introdução, a Área de Crédito do Itaú BBA, setor
responsável pela pesquisa, diz que os cartolas do futebol brasileiro não
deram atenção para as categorias de base, que só pensaram na torcida
durante a administração e ainda fala que gastaram muito mal - um dos
exemplos citados foi o do São Paulo, que tem na folha de pagamento seis
laterais esquerdos (Álvaro Pereira, Clemente Rodriguez, Carleto, Cortez,
Reinaldo e Henrique Miranda). O clube do Morumbi é ainda classificado
como na "vala comum".
"Completando este cenário, vários clubes
continuaram a utilizar velhas práticas de gestão financeira do Futebol,
como atraso de contribuições e impostos relacionados aos salários dos
atletas, o que de certa forma se constitui numa vantagem financeira em
relação aos clubes que pagam em dia", afirma o estudo.
"Os clubes
precisam reforçar investimentos nas Categorias de Base, captando melhor,
orientando melhor, retendo mais e colocando-os para atuar, pois esta é
uma alternativa substancialmente mais barata e de melhor solução
financeira para o clube. Parafraseando Keynes, a manter este padrão de
gestão, no longo prazo os clubes estarão todos mortos".
Veja
abaixo, os títulos para o resumo do ano de cada equipe e as perspectivas
projetadas pelo banco para este ano, que está quase no final.
Corinthians: Encantador de Serpentes
"É
possível que tenha que reduzir investimentos, seja mais eletivo e
busque redução de custos. Já faz muita receita recorrente, de forma que é
um movimento mais fácil de fazer que clubes com receita bem menores. Em
contrapartida, em breve iniciará os pagamentos da dívida no Arena
Itaquera, e isto consumirá parte importante das receitas com Bilheteria,
retirando ainda mais dinheiro do Futebol. A realidade é sempre mais
difícil do que se imagina, ou se vende".
São Paulo: Na vala comum
"Clube
que gera muito mas gasta muito e mal, o São Paulo precisa rever sua
gestão esportiva e financeira, afinal, além de não conquistar títulos
ainda deteriora seus números e sua saúde financeira. Não é à toa que
vimos na mídia informações sobre novas antecipações de cotas de TV,
necessidade de venda de atletas para fechar as contas de 2014 e supostos
atrasos de salários. Costuma não acabar bem".
Palmeiras: As aves aqui não mais gorjeiam
"Considerando
que o clube continua sem patrocínio master, que as demais receitas
permanecem estáveis, e que o clube não é um grande vendedor de atletas,
resta ajustar os custos para tentar fazer com que sobre mais dinheiro no
caixa. Mas é Ano do Centenário, e na avaliação equivocada dos
dirigentes, em anos assim o clube precisa vencer mais que em outros.
Resultado esperado é aumento dos custos, política descontrolada de
gastos e mais problemas no futuro.
O Palmeiras se mantém no
círculo vicioso e 2014 tem todos os ingredientes para ser mais um ano
difícil em termos financeiros. Até quando o presidente colocará dinheiro
no clube?".
Santos: A canoa virou
"O
Santos sai da condição de clube equilibrado, com gestão financeira
cuidadosa e passa a ingressar o rol de clubes com gestão de Torcedor. O
resultado é gastar mais do que deveria, elevar custos sem contrapartida
de Receitas recorrentes e, consequentemente, elevar endividamento e
colocar em risco seu fluxo de caixa. Não parece nada saudável o caminho
que o clube adotou. 2014 tende a ser ainda pior".
Flamengo: Nadando contra a maré
"Com
investimentos limitados o clube fica distante de ter um elenco com
muitas alternativas. Vai ter que continuar utilizando as categorias de
base, tradicionalmente forte reveladora de talentos, e usar de
contratações cirúrgicas para manter um elenco minimamente competitivo. O
difícil, além de lidar com uma torcida que quer sempre títulos, é
competir contra clubes que ainda se utilizam das velhas práticas de
gestão esportiva".
Fluminense: A independência necessária
"É
sempre difícil falar do Fluminense em função das ações tomadas pela
Unimed e que não transitam pelo balanço do clube. Do que vemos temos um
clube mais redondo, aparentemente mais organizado. Mas que precisará
começar a pensar em caminhar com as próprias pernas. Hoje, se isto fosse
uma necessidade, o clube se colocaria numa situação bastante inferior à
vista nos últimos anos".
Botafogo: A luz no fim do túnel é de um trem
"As
piores possíveis. O Botafogo terá que buscar alternativas de receita
cada vez mais difíceis, certamente vai onerar ainda mais seu futuro com
Adiantamentos e se não fizer um corte de custos profundo, encontrará o
trem pela frente".
Vasco: Não há terra a vista
"O
ano de 2014 tende a ser muito difícil para o Vasco. O clube carrega o
peso de anos de dívidas acumuladas e da necessidade de atender aos
anseios de uma das maiores torcidas do Brasil. Como equilibrar isto?
Esta é o enigma da nau. Acreditamos em outro ano difícil e que será
sucedido por outros anos difíceis".
Atlético-MG: Nem tudo que reluz é ouro
"2014
tende a ser bastante difícil. Pode conseguir alguma receita adicional
com o Estádio novo, mas precisará recorrer a venda de atletas e reduzir
custos se quiser diminuir o esforço para fechar suas contas".
Cruzeiro: Os Caçadores estão chegando
"O
clube manteve sua base, seu treinador, fez mais alguns investimentos e
possivelmente aposta na força da torcida e na obtenção de resultados
esportivos para sustentar sua estratégia. Não dá para saber até quando
isto funcionará, mas sempre há chance do castelo de cartas ruir a
qualquer momento. Esportivamente tem chances elevadas de sucesso em
2014, como vemos até o momento no Campeonato Brasileiro".
Internacional: Acabou-se o que era doce
"A
situação apresentada para início de 2014 não é confortável. Há mais
desafios e menos gordura para queimar. O clube precisará apertar os
custos se quiser voltar a viver uma situação confortável em termos
financeiros, além de continuar a constante busca de atletas para serem
vendidos. A vida do Internacional não deve ser fácil em 2014".
Grêmio: Avalanche
"Nada
animadoras. Não há sinal de que as receitas devem crescer, mas os
Custos são de longo prazo. Ainda há a necessidade de pagar o que ficou
de 2013. Logo, 2014 tende a ser um ano de dificuldades financeiras caso
não tenha conseguido enxugar os Custos".
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