“Somos
a seleção número 33 e também tratamos de ter os melhores no
nosso plantel”, havia dito Massimo Busacca, diretor de
arbitragem FIFA, para a conmebol.com num encontro
no Panamá, em setembro do ano passado, quando a FIFA
apresentou os resultados, nas distintas áreas, do mundial
Brasil-2014.
Hoje, em Assunção, poucos dias antes
do início do Sul-Americano Sub 17 a realizar-se no
Paraguai de 4 a 29 de março, é possível dizer que a dos
árbitros é “a seleção número
11” e que seus integrantes trabalham tanto ou mais que os
das outras dez seleções.
Aulas téoricas e práticas são oferecidas
num curso profundo e intensivo levado a cabo pela CONMEBOL com
o patrocínio do Programa de Assistência à Arbitragem da FIFA.
Justamente em representação da FIFA
esteve Manuel Navarro (foto), Deputy Head FIFA Refereeing, que num diálogo
com a conmebol.com destacou o trabalho realizado.
“Realmente estou muito contente,
muito satisfeto pelo que tenho visto e compartilhado nestes dias
com instrutores da CONMEBOL e com os árbitros que atuarão
no Sul-Americano Sub 17. Foi feito um grande trabalho
com instrutores como Oscar Julián Ruiz e vi árbitros jovens
com muitas vontade de aprender e de progredir”, indicou.
Conmebol.com.:
Senhor Navarro, em que consiste atualmente preparar os árbitros? É na
parte física, psicológica, técnica?
Manuel
Navarro: É um todo, insistimos muito na
personalidade do árbitro, na parte física, no posicionamento e hoje
em dia damos muita importância ao enfoque tático, na correta leitura
do jogo que um árbitro deve ter na hora de apitar um jogo.
c.c.: Como
se alcança isso?
M.N.:
Com estudo e trabalho. Acabou essa coisa de que um árbitro
sabia que ia apitar uma partida e somente esperava a hora
do jogo. Hoje um árbitro se prepara como um treinador e como
um jogador. O árbitro deve saber que equipes vai apitar, como
jogam essas equipes, que características têm seus jogadores, enfim,
deve entrar em campo com muito conhecimento da situação.
c.c.:
Igualmente, com todo esse conhecimento podem surgir situações
próprias de cada partida.
M.N.: Claro,
e ali entra o que dizíamos da personalidade do árbitro e de
sua leitura não somente do jogo mas de cada situação. Nós estamos
trabalhando muito na prevenção de situações mas está claro que
no futebol nem tudo se pode prevenir, surgem situações que
um árbitro deve saber superar no momento, é aí onde entra a
personalidade e a inteligência.
c.c.:
É importante o diálogo do árbitro com o jogador?
M.N.: Sim,
sempre mantendo a distância, o respeito, o lugar de cada um.
Um árbitro deve saber como e quando dialogar com os jogadores,
ele deve sentir o momento e ver a melhor maneira de fazê-lo.
c.c.:
Há vezes que todo o público percebe que um árbitro fala
com os jogadores mas também deve haver muitos diálogos que
o público não nota. Aqui o ex-árbitro e atual instrutor da
CONMEBOL, o colombiano Oscar Ruiz, que também participou da
conversa lançou um profundo "Uff, muitíssimos!",
em claro sinal de que estes diálogos imperceptíveis acontecem
com muita assiduidade.
Oscar
Ruiz: É assim, nem sempre um deve fazer as
coisas de tal maneira que todo o público note, há muitos
diálogos entre árbitros e jogadores que ninguém percebe.
M.N.: O diálogo
sempre é bom e é o árbitro que deve conduzir esta relação com
o jogador.
c.c.:
Há uma sensação de que às vezes se confunde “deixar jogar”
com “deixar pegar”, que um árbitro prefere falar, advertir quando o
que tinha que ter feito era admoestar.
M.N.: Pode
acontecer mas, nesse sentido, as recomendações são claras, quando
tem que admoestar se admoesta, não tem que deixar de apitar o que
corresponde mas também há “zonas cinzas”, situações
e jogadas que não são totalmente claras, que não são para
admoestação e, às vezes as pessoas pedem um
cartão amarelo, o árbitro deve saber bem como manejar cada
situação, para isso tratamos de prepará-los.
c.c.:
Assim como vocês dizem que se preparam os árbitros conhecendo
as equipes e seus jogadores, também os técnicos e jogadores
sabem qual árbitro vai atuar em tal jogo e sabem se
deixa jogar, se dá cartões, se fala, enfim, eles também atuam
em base ao árbitro...
M.N.: Sim
e por isso buscamos uma filosofia, uma linha de arbitragem, é o que
inculca o nosso diretor Massimo Busacca. Não queremos que haja diferenças, que
um dê mais cartões que outro, que este fale que este não fale, queremos
que haja uma linha de arbitragem, queremos a maior uniformidade possível
para que os técnicos e os jogadores se preocupem sobre suas equipes e
de jogar e não de quem vai apitar sua partida. Por isto
também foi positivo o que foi feito no mundial quando tivemos
reuniões e conversatórios com todos os diretores técnicos e plantéis; há
conversa, diálogos, explicações sobre as linhas de arbitragem,
esclarecemos conceitos e isto é bom para todos.
c.c.:
Quando se arbitra um torneio como este Sul-Americano Sub 17, com garotos
que estão começando agora, há uma indicação especial para os
árbitros quanto ao trato com os jogadores ou é igual que
se fossem já jogadores profissionais?
M.N.: As regras
são as mesmas, isso está claro, porém também está claro que
deve-se ter em conta que são garotos que se estão formando, que
estão numa idade em que ainda estão aprendendo e isso
se leva em conta; os árbitros devem ter, dentro do que marca
o regulamento, também um trabalho de formação com os garotos,
conversar, ensinar, sem dúvida que isso é muito importante.
c.c.:
Qual é o nível de arbitragem hoje no mundo?
M.N.: No mundo
creio que estamos bem, o mundial do Brasil foi bom para
a arbitragem, em linhas gerais. Sempre tratamos de melhorar, sempre
buscamos preparar o árbitro para uma atuação melhor e, para
isso, é necessário trabalhar cada vez mais em todos os aspectos.
c.c.:
E, especificamente, como está a arbitragem sul-americana?
M.N.: Acho
que a arbitragem na América do Sul está muito bem. Há
ótimos instrutores e, acima de tudo, tenho uma muito grata
impressão do presidente da CONMEBOL Juan Ángel Napout. É uma
pessoa interessada no futebol e na arbitragem de forma especial,
tem paixão, tem vontade para fazer coisas, escuta ideias. Em cada
torneio ele vai até onde estão os árbitros e fala do jogo,
da arbitragem e gostei quando falou que seu sonho
é que a final do mundial seja disputada por duas seleções
sul-americanas mas que, se isso não ocorrer, ele gostaria que os
árbitros da final sejam sul-americanos. Hoje está sendo demonstrado
esse interesse porque para este sul-americano Sub 17 venham trios de
arbitragem de cada país e, além disso, vejo árbitros jovens
muito bem preparados em todo sentido. Creio que
bons momentos virão para a arbitragem sul-americana.
Fonte: Robert Singer/conmebol.com
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