domingo, 1 de março de 2015

Manuel Navarro: "Tenho certeza que bons tempos virão para a arbitragem sul-americana”



               
“Somos a seleção número 33 e também tratamos de ter os melhores no nosso plantel”, havia dito Massimo Busacca, diretor de arbitragem FIFA, para a conmebol.com num encontro no Panamá, em setembro do ano passado, quando a FIFA apresentou os resultados, nas distintas áreas, do mundial Brasil-2014.

Hoje, em Assunção, poucos dias antes do início do Sul-Americano Sub 17 a realizar-se no Paraguai de 4 a 29 de março, é possível dizer que a dos árbitros é “a seleção número 11” e que seus integrantes trabalham tanto ou mais que os das outras dez seleções.

Aulas téoricas e práticas são oferecidas num curso profundo e intensivo levado a cabo pela CONMEBOL com o patrocínio do Programa de Assistência à Arbitragem da FIFA.

Justamente em representação da FIFA esteve Manuel Navarro (foto), Deputy Head FIFA Refereeing, que num diálogo com a conmebol.com destacou o trabalho realizado.

“Realmente estou muito contente, muito satisfeto pelo que tenho visto e compartilhado nestes dias com instrutores da CONMEBOL e com os árbitros que atuarão no Sul-Americano Sub 17. Foi feito um grande trabalho com instrutores como Oscar Julián Ruiz e vi árbitros jovens com muitas vontade de aprender e de progredir”, indicou.

Conmebol.com.: Senhor Navarro, em que consiste atualmente preparar os árbitros? É na parte física, psicológica, técnica?

Manuel Navarro: É um todo, insistimos muito na personalidade do árbitro, na parte física, no posicionamento e hoje em dia damos muita importância ao enfoque tático, na correta leitura do jogo que um árbitro deve ter na hora de apitar um jogo.

c.c.: Como se alcança isso?

M.N.: Com estudo e trabalho. Acabou essa coisa de que um árbitro sabia que ia apitar uma partida e somente esperava a hora do jogo. Hoje um árbitro se prepara como um treinador e como um jogador. O árbitro deve saber que equipes vai apitar, como jogam essas equipes, que características têm seus jogadores, enfim, deve entrar em campo com muito conhecimento da situação.

c.c.: Igualmente, com todo esse conhecimento podem surgir situações próprias de cada partida.

M.N.: Claro, e ali entra o que dizíamos da personalidade do árbitro e de sua leitura não somente do jogo mas de cada situação. Nós estamos trabalhando muito na prevenção de situações mas está claro que no futebol nem tudo se pode prevenir, surgem situações que um árbitro deve saber superar no momento, é aí onde entra a personalidade e a inteligência.

c.c.: É importante o diálogo do árbitro com o jogador?

M.N.: Sim, sempre mantendo a distância, o respeito, o lugar de cada um. Um árbitro deve saber como e quando dialogar com os jogadores, ele deve sentir o momento e ver a melhor maneira de fazê-lo.

c.c.: Há vezes que todo o público percebe que um árbitro fala com os jogadores mas também deve haver muitos diálogos que o público não nota. Aqui o ex-árbitro e atual instrutor da CONMEBOL, o colombiano Oscar Ruiz, que também participou da conversa lançou um profundo "Uff, muitíssimos!", em claro sinal de que estes diálogos imperceptíveis acontecem com muita assiduidade.
Oscar Ruiz: É assim, nem sempre um deve fazer as coisas de tal maneira que todo o público note, há muitos diálogos entre árbitros e jogadores que ninguém percebe.

M.N.: O diálogo sempre é bom e é o árbitro que deve conduzir esta relação com o jogador.

c.c.: Há uma sensação de que às vezes se confunde “deixar jogar” com “deixar pegar”, que um árbitro prefere falar, advertir quando o que tinha que ter feito era admoestar.

M.N.: Pode acontecer mas, nesse sentido, as recomendações são claras, quando tem que admoestar se admoesta, não tem que deixar de apitar o que corresponde mas também há “zonas cinzas”, situações e jogadas que não são totalmente claras, que não são para admoestação e, às vezes as pessoas pedem um cartão amarelo, o árbitro deve saber bem como manejar cada situação, para isso tratamos de prepará-los.

c.c.: Assim como vocês dizem que se preparam os árbitros conhecendo as equipes e seus jogadores, também os técnicos e jogadores sabem qual árbitro vai atuar em tal jogo e sabem se deixa jogar, se dá cartões, se fala, enfim, eles também atuam em base ao árbitro...

M.N.: Sim e por isso buscamos uma filosofia, uma linha de arbitragem, é o que inculca o nosso diretor Massimo Busacca. Não queremos que haja diferenças, que um dê mais cartões que outro, que este fale que este não fale, queremos que haja uma linha de arbitragem, queremos a maior uniformidade possível para que os técnicos e os jogadores se preocupem sobre suas equipes e de jogar e não de quem vai apitar sua partida. Por isto também foi positivo o que foi feito no mundial quando tivemos reuniões e conversatórios com todos os diretores técnicos e plantéis; há conversa, diálogos, explicações sobre as linhas de arbitragem, esclarecemos conceitos e isto é bom para todos.

c.c.: Quando se arbitra um torneio como este Sul-Americano Sub 17, com garotos que estão começando agora, há uma indicação especial para os árbitros quanto ao trato com os jogadores ou é igual que se fossem já jogadores profissionais?

M.N.: As regras são as mesmas, isso está claro, porém também está claro que deve-se ter em conta que são garotos que se estão formando, que estão numa idade em que ainda estão aprendendo e isso se leva em conta; os árbitros devem ter, dentro do que marca o regulamento, também um trabalho de formação com os garotos, conversar, ensinar, sem dúvida que isso é muito importante.

c.c.: Qual é o nível de arbitragem hoje no mundo?

M.N.: No mundo creio que estamos bem, o mundial do Brasil foi bom para a arbitragem, em linhas gerais. Sempre tratamos de melhorar, sempre buscamos preparar o árbitro para uma atuação melhor e, para isso, é necessário trabalhar cada vez mais em todos os aspectos.
  
c.c.: E, especificamente, como está a arbitragem sul-americana?

M.N.: Acho que a arbitragem na América do Sul está muito bem. Há ótimos instrutores e, acima de tudo, tenho uma muito grata impressão do presidente da CONMEBOL Juan Ángel Napout. É uma pessoa interessada no futebol e na arbitragem de forma especial, tem paixão, tem vontade para fazer coisas, escuta ideias. Em cada torneio ele vai até onde estão os árbitros e fala do jogo, da arbitragem e gostei quando falou que seu sonho é que a final do mundial seja disputada por duas seleções sul-americanas mas que, se isso não ocorrer, ele gostaria que os árbitros da final sejam sul-americanos. Hoje está sendo demonstrado esse interesse porque para este sul-americano Sub 17 venham trios de arbitragem de cada país e, além disso, vejo árbitros jovens muito bem preparados em todo sentido. Creio que bons momentos virão para a arbitragem sul-americana.
Fonte: Robert Singer/conmebol.com

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