Se
eu fosse presidente, dirigente, atleta das equipes que vão disputar o
Campeonato Brasileiro a partir do próximo dia 9 de maio, ou membro da Comissão
de Arbitragem da CBF, que tem a espinhosa missão de escalar árbitros para as
quatro séries do Brasileirão, confesso que estaria muito preocupado.
A
preocupação é pertinente porque o despreparo exibido pela arbitragem é refletida
na escalada de erros de interpretação e aplicação das Regras de Futebol nos
campeonatos estaduais/2015. É um horror rodada após rodada. E a preocupação
ganha contornos de dramaticidade, porque um contingente considerável de apitos
e bandeiras que estão atuando nessas competições, irão atuar no Brasileiro a
partir de maio.
Formados
na sua maioria com uma didática precária e por pessoas sem a devida
qualificação nas escolas de formação de árbitros das federações estaduais, sem
acompanhamento, sem orientação e sem requalificação após a formação, a maioria
da confraria do apito do País pentacampeão de futebol, sai da base definhando e
caminha inexoravelmente para um futuro
com poucas perspectivas.
E
tanto é verdadeira a nossa afirmação que até mesmo as Federações Paulista e
Carioca de Futebol, outrora consideradas modelo no quesito arbitragem, na
atualidade vivenciam uma escassez qualitativa de árbitros sem precedentes.
O
Rio de Janeiro parou no tempo. Tinha uma única opção, Marcelo de Lima Henrique,
um dos melhores árbitros do futebol brasileiro. Mas, Lima Henrique, sentido que
a querela política entre a CBF e a entidade presidida por Rubens Lopes, vinha
lhe proporcionado dissabores, procurou outras plagas para ter melhores opções
no apito. Quem é o nome de “expressão” da arbitragem carioca na atualidade?
Resposta: o fraquíssimo Wagner do Nascimento Magalhães, o árbitro de Flamengo x
Fluminense do último domingo.
São
Paulo há muito tempo vem emitindo sinais de esgotamento do seu modelo de
formação de árbitros, e, por conseguinte, o nível da qualidade do seu quadro de
arbitragem caiu vertiginosamente na última década.
Decréscimo
qualitativo que se agravou após as saídas de Wilson Seneme e Paulo Cesar de
Oliveira. Os melhores apitos da Federação Paulista no momento, Luiz Flavio de
Oliveira e Raphael Claus, promovidos este ano ao quadro da Fifa são juízes
comuns. Inclusive, no recente clássico pela Libertadores da América,
Corinthians/SP x São Paulo/SP, foram “esquecidos” pela Conmebol.
A
Federação Gaúcha de Futebol que chegou a ter três árbitros na Fifa, Carlos
Eugênio Simon, Leonardo Gaciba e Leandro Pedro Vuaden, assim que Simon e Gaciba
anunciaram o encerramento das suas carreiras ficou circunscrita ao (alemão) -
como é chamado Leandro Vuaden por Carlos Simon. Surgiu recentemente, Anderson
Daronco, jovem, promissor, mas terá que ser lapidado para atingir a maturação.
E, se Vuaden, decidir parar neste momento não tem ninguém preparado para
substituí-lo. Repito, ninguém!
A
Federação Mineira de Futebol, depois de muito tempo conseguiu revelar um apito,
Ricardo Marques Ribeiro. Marques Ribeiro é
jovem, talentoso e vocacionado para o labor da arbitragem, mas a exemplo
de Daronco, terá que ser submetido a um processo de orientação e acompanhamento
em todos os setores para atingir o
timing e o feeling necessário num árbitro top de linha.
No
Paraná há oito anos não se revela um árbitro. Rodolpho Tóski Marques, que está
participando de um curso no Rio de Janeiro, poderá ser a opção depois de vários
anos de jejum. Mas para isto acontecer, o setor de arbitragem da Federação
Paranaense de Futebol terá que sofrer uma metamorfose. O modelo anacrônico empregado
tanto na comissão de árbitros como na escola de formação de novos apitos
fracassou fragorosamente.
Em
Goiás tem Wilton Pereira Sampaio que quando Asp/Fifa prenunciava ser uma das
maiores promessas da arbitragem brasileira. Promovido ao quadro internacional,
sofreu terrível queda de produção e até o presente instante não conseguiu se
reencontrar.
No
Pará tem o neófito Dewson de Freitas que ascendeu o quadro da Fifa em 2015 -
mas ainda não tem o estofo necessário para ser chamado de árbitro de ponta.
Deixei
Santa Catarina por derradeiro porque quando lá estive em fevereiro passado,
observei que o projeto da Federação Catarinense de Futebol é o oposto das
demais federações. Contratou dois árbitros internacionais a peso de ouro.
Primeiro, foi Heber Roberto Lopes e, a seguir, Sandro Meira Ricci.
Lopes
e Ricci são inegavelmente dois nomes com bagagem considerável, tanto em âmbito
nacional como internacional. Ambos, além de qualificarem sobremaneira o
Campeonato Catarinense, pelo que ouvi e vi terão a missão de preparar os novos
apitos que reunirem as credenciais necessárias para serem árbitros da Fifa.
É
este o cenário da arbitragem que clubes, atletas, torcedores, dirigentes e a
imprensa irão conviver de maio a dezembro deste ano no Brasileirão. O que
significa que Sérgio Corrêa e demais congêneres da CA/CBF, terão muito trabalho
com o personagem mais importante do futebol brasileiro, o árbitro.
PS (1):
O tsunami que provocou o maior vexame da história do futebol brasileiro - no
dia 8 de julho do ano que passou [Brasil 1 x 7 Alemanha) – há décadas vem
emitindo sinais de que a qualquer momento poderá atingir a nossa arbitragem.
Resta saber, quais são os mecanismos que a CBF está viabilizando no sentido de
impedir a sua chegada e evitar a ruína que se acontecer será devastadora no
homem que maneja o apito.
PS (2):
As causas da debacle da arbitragem brasileira tem quatro componentes: 1) As
federações de futebol não investem na formação e requalificação do árbitro,
porque um quadro cambaleante é mais fácil de ser “manobrado”. 2) As comissões de árbitros e as escolas de
formação dos novos apitos, foram entregues a pessoas sem identidade com o tema,
sendo que a maioria nunca apitou sequer uma partida de pelada. 3) Além disso,
as entidades de classe da categoria foram cooptadas pelas federações e
comissões em troca de cargos, prebendas e sinecuras. 4) Os árbitros ao invés de
buscarem capacitação continuada, optaram em “brigar” desesperadamente por escalas,
objetivando receber a “merreca” da taxa de arbitragem dos finais de semana.
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