quinta-feira, 9 de abril de 2015

Raio - X da arbitragem


Se eu fosse presidente, dirigente, atleta das equipes que vão disputar o Campeonato Brasileiro a partir do próximo dia 9 de maio, ou membro da Comissão de Arbitragem da CBF, que tem a espinhosa missão de escalar árbitros para as quatro séries do Brasileirão, confesso que estaria muito preocupado.

A preocupação é pertinente porque o despreparo exibido pela arbitragem é refletida na escalada de erros de interpretação e aplicação das Regras de Futebol nos campeonatos estaduais/2015. É um horror rodada após rodada. E a preocupação ganha contornos de dramaticidade, porque um contingente considerável de apitos e bandeiras que estão atuando nessas competições, irão atuar no Brasileiro a partir de maio.

Formados na sua maioria com uma didática precária e por pessoas sem a devida qualificação nas escolas de formação de árbitros das federações estaduais, sem acompanhamento, sem orientação e sem requalificação após a formação, a maioria da confraria do apito do País pentacampeão de futebol, sai da base definhando e  caminha inexoravelmente para um futuro com poucas perspectivas.
E tanto é verdadeira a nossa afirmação que até mesmo as Federações Paulista e Carioca de Futebol, outrora consideradas modelo no quesito arbitragem, na atualidade vivenciam uma escassez qualitativa de árbitros sem precedentes.

O Rio de Janeiro parou no tempo. Tinha uma única opção, Marcelo de Lima Henrique, um dos melhores árbitros do futebol brasileiro. Mas, Lima Henrique, sentido que a querela política entre a CBF e a entidade presidida por Rubens Lopes, vinha lhe proporcionado dissabores, procurou outras plagas para ter melhores opções no apito. Quem é o nome de “expressão” da arbitragem carioca na atualidade? Resposta: o fraquíssimo Wagner do Nascimento Magalhães, o árbitro de Flamengo x Fluminense do último domingo. 

São Paulo há muito tempo vem emitindo sinais de esgotamento do seu modelo de formação de árbitros, e, por conseguinte, o nível da qualidade do seu quadro de arbitragem caiu vertiginosamente na última década.

Decréscimo qualitativo que se agravou após as saídas de Wilson Seneme e Paulo Cesar de Oliveira. Os melhores apitos da Federação Paulista no momento, Luiz Flavio de Oliveira e Raphael Claus, promovidos este ano ao quadro da Fifa são juízes comuns. Inclusive, no recente clássico pela Libertadores da América, Corinthians/SP x São Paulo/SP, foram “esquecidos” pela Conmebol. 

A Federação Gaúcha de Futebol que chegou a ter três árbitros na Fifa, Carlos Eugênio Simon, Leonardo Gaciba e Leandro Pedro Vuaden, assim que Simon e Gaciba anunciaram o encerramento das suas carreiras ficou circunscrita ao (alemão) - como é chamado Leandro Vuaden por Carlos Simon. Surgiu recentemente, Anderson Daronco, jovem, promissor, mas terá que ser lapidado para atingir a maturação. E, se Vuaden, decidir parar neste momento não tem ninguém preparado para substituí-lo. Repito, ninguém!

A Federação Mineira de Futebol, depois de muito tempo conseguiu revelar um apito, Ricardo Marques Ribeiro. Marques Ribeiro é  jovem, talentoso e vocacionado para o labor da arbitragem, mas a exemplo de Daronco, terá que ser submetido a um processo de orientação e acompanhamento em todos os setores para atingir  o timing e o feeling necessário num árbitro top de linha. 

No Paraná há oito anos não se revela um árbitro. Rodolpho Tóski Marques, que está participando de um curso no Rio de Janeiro, poderá ser a opção depois de vários anos de jejum. Mas para isto acontecer, o setor de arbitragem da Federação Paranaense de Futebol terá que sofrer uma metamorfose. O modelo anacrônico empregado tanto na comissão de árbitros como na escola de formação de novos apitos fracassou fragorosamente.

Em Goiás tem Wilton Pereira Sampaio que quando Asp/Fifa prenunciava ser uma das maiores promessas da arbitragem brasileira. Promovido ao quadro internacional, sofreu terrível queda de produção e até o presente instante não conseguiu se reencontrar.
No Pará tem o neófito Dewson de Freitas que ascendeu o quadro da Fifa em 2015 - mas ainda não tem o estofo necessário para ser chamado de árbitro de ponta. 

Deixei Santa Catarina por derradeiro porque quando lá estive em fevereiro passado, observei que o projeto da Federação Catarinense de Futebol é o oposto das demais federações. Contratou dois árbitros internacionais a peso de ouro. Primeiro, foi Heber Roberto Lopes e, a seguir, Sandro Meira Ricci.

Lopes e Ricci são inegavelmente dois nomes com bagagem considerável, tanto em âmbito nacional como internacional. Ambos, além de qualificarem sobremaneira o Campeonato Catarinense, pelo que ouvi e vi terão a missão de preparar os novos apitos que reunirem as credenciais necessárias para serem árbitros da Fifa.

É este o cenário da arbitragem que clubes, atletas, torcedores, dirigentes e a imprensa irão conviver de maio a dezembro deste ano no Brasileirão. O que significa que Sérgio Corrêa e demais congêneres da CA/CBF, terão muito trabalho com o personagem mais importante do futebol brasileiro, o árbitro.

PS (1): O tsunami que provocou o maior vexame da história do futebol brasileiro - no dia 8 de julho do ano que passou [Brasil 1 x 7 Alemanha) – há décadas vem emitindo sinais de que a qualquer momento poderá atingir a nossa arbitragem. Resta saber, quais são os mecanismos que a CBF está viabilizando no sentido de impedir a sua chegada e evitar a ruína que se acontecer será devastadora no homem que maneja o apito.

PS (2): As causas da debacle da arbitragem brasileira tem quatro componentes: 1) As federações de futebol não investem na formação e requalificação do árbitro, porque um quadro cambaleante é mais fácil de ser “manobrado”.  2) As comissões de árbitros e as escolas de formação dos novos apitos, foram entregues a pessoas sem identidade com o tema, sendo que a maioria nunca apitou sequer uma partida de pelada. 3) Além disso, as entidades de classe da categoria foram cooptadas pelas federações e comissões em troca de cargos, prebendas e sinecuras. 4) Os árbitros ao invés de buscarem capacitação continuada, optaram em  “brigar” desesperadamente por escalas, objetivando receber a “merreca” da taxa de arbitragem dos finais de semana.

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