O futebol seria um esporte
mais seguro se jogadores mais jovens não fossem autorizados a cabecear? O
choque entre Alexandra Popp, da Alemanha, e Morgan Brian, dos EUA, na recente
Copa do Mundo de futebol feminino, provocou arrepios em muitos espectadores.
A preocupação das pessoas
com cabeçadas e traumatismos cranianos no futebol cresceu tanto no último ano
que alguns médicos, pais e ex-jogadores profissionais começaram a advogar pela
proibição da cabeçadas em jogos entre meninos ou meninas de até 14 anos e por
sua limitação para todas as outras idades. Para muitos, se o cabeceio fosse
proibido no futebol, não ocorreriam mais traumatismos cranianos graves no
esporte.
No entanto, Dawn Comstock
reagiu com ceticismo quando ouviu falar da campanha. Professora de saúde
pública na Universidade do Colorado em Denver e especialista em lesões
esportivas entre jovens, ela disse que não conhece estudos que indiquem que
cabecear seja a causa da maioria dos traumatismos cranianos no futebol mirim e
juvenil.
Na realidade, ela e seus
colegas não encontraram nenhum estudo em grande escala sobre as causas de
traumatismo craniano no futebol mirim e juvenil.
Assim, para um estudo
publicado no mês passado na "JAMA Pediatrics", eles decidiram
pesquisar eles próprios o assunto. Começaram resgatando informações do National
High School Sports-Related Injury Surveillance Study (estudo nacional de
acompanhamento de lesões esportivas em escolas de ensino médio), uma grande base
de dados on-line que reúne relatórios de centenas de treinadores de todo o
país.
Os treinadores registram
dados sobre como e quando ocorrem lesões, os sintomas apresentados pelos
atletas e quanto tempo leva para o ou a atleta voltar a praticar o esporte.
O estudo envolveu jogadores
do ensino médio, enquanto os chamados pela proibição do cabeceio geralmente são
voltados a atletas mais jovens. Porém, segundo Comstock, não existem dados
sobre lesões nessa faixa etária.
Comstock e seus colegas
usaram os dados relevantes apresentados entre 2005 e 2014, cobrindo quase 3
milhões de treinos e partidas de futebol.
Eles descobriram que o
índice de lesões cranianas entre jogadores e jogadoras do ensino médio aumentou
"substancialmente" ao longo dos anos em questão. Porém, as cabeçadas
na bola não foram a principal causa das lesões. A maioria dos casos de
traumatismo craniano aconteceu em choques entre jogadores.
Quase 70% dos traumatismos
cranianos ligados ao futebol em meninos aconteceram quando jogadores colidiram,
descobriram os pesquisadores. No caso das meninas, a porcentagem foi de 51%.
A cabeçada ainda foi
parcialmente responsável por muitos dos traumatismos cranianos.
Os dados revelam que cerca
de um terço das lesões cranianas entre jogadores homens e um quarto entre
mulheres envolveram cabeçadas. No entanto, a maioria dessas lesões se deveu a
colisões entre jogadores, não a cabeçadas na bola. Menos de 17% dos
traumatismos cranianos em meninos e de 29% em meninas foram frutos do impacto
direto com a bola.
"O que esses números me
dizem é que, se cabecear fosse proibido, isso reduziria o número de casos de
traumatismo craniano", disse Comstock, "mas não tanto quanto as
pessoas imaginam."
Para ela, seria muito mais
eficaz ensinar os jogadores a ter melhores técnicas e mais atitude esportiva.
Ela diz que há evidências de que os árbitros de hoje marcam menos faltas nas
partidas de futebol amador do que marcavam no passado. Ao mesmo tempo, os casos
de contato entre jogadores vêm aumentando.
Se os árbitros, treinadores
e jogadores aplicassem as regras existentes, segundo a professora, haveria
menos contato físico entre jogadores e muito menos casos de traumatismo
craniano.
Fonte: GRETCHEN REYNOLDS DO "NEW YORK TIMES"/CADERNO EQUILÍBRIO E SAÚDE/FOLHA DE SÃO PAULO. ESTE COLUNISTA É ASSINANTE DA FOLHA HÁ MAIS DE DUAS DÉCADAS
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