Repasse do direito de imagem é importante, porém existem outras fontes de receita fora do debate

Nem
sempre atuei exclusivamente na arbitragem de futebol. No início da carreira no
mundo do apito, também fui bancário - empregado no Unibanco - e, nesta
condição, militei e exerci o cargo de diretor de Esportes do Sindicato dos
Bancários de Porto Alegre. Mais recentemente, de 2006 a 2009, fui presidente do
Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Rio Grande do Sul (Safergs).
Nessas duas experiências, na direção do movimento
sindical, procurei adotar um comportamento ético rigoroso nas relações com o
patronato, qual seja, manter uma postura de distanciamento no que diz respeito
a questões trabalhistas de natureza pessoal. Ou seja, tomei extremo cuidado – e
fui feliz nesta providência - para evitar que o cargo de dirigente sindical
desse origem, mesmo que involuntariamente, a vantagens de natureza pessoal,
tanto na relação com os dirigentes do banco, como junto à Federação Gaúcha de
Futebol.
Na minha concepção, o dirigente quando no
exercício do cargo deve manter distanciamento em assuntos que envolvam o
patronato e a sua situação profissional. Neste aspecto, quando o interesse
particular se une à prática sindical, está aberta a porta para pressões
indesejáveis e quem sai perdendo é o trabalhador. Temos aí o que se
convencionou chamar, entre os trabalhadores, de peleguismo. Não existe almoço
grátis.
A crítica que faço, trata-se, portanto, de manter
a independência indispensável para poder representar com combatividade e
destemor em defesa dos interesses maiores dos associados.
Por esta razão é com desconforto e preocupação que
vejo a atuação do presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol
(ANAF), Marco Antonio Martins, (que tenho como uma pessoa honesta) como
Delegado Especial ou Assessor indicado pela CBF em jogos realizados sob a
chancela da entidade.
Neste ano, ele já trabalhou em mais de 50% das
rodadas da Série A do Campeonato Nacional, como delegado do jogo. Não é
desejável que assim seja. Uma relação com esta proximidade, ainda mais sendo de
caráter remuneratório, pode ensejar ilações que, mesmo não sendo verdadeiras,
colocam uma sombra de dúvida sobre a autonomia da presidência da ANAF para
negociar com a CBF. Repito, seria melhor para todos que não houvesse tal
vínculo.
Por fim, causa certo pasmo a ANAF não ter
desenvolvido uma ação mais dura, enfática, junto a CBF, no sentido de cobrar da
entidade maior do futebol brasileiro uma solução definitiva para a pendência
sobre o Direito de Arena dos Árbitros. Argumentar que o insucesso se deve
unicamente ao veto da presidente Dilma ou deixar que a Justiça resolva o
assunto é uma forma de lavar as mãos, eximir-se do problema. E isto,
definitivamente, não condiz com o momento singular da arbitragem brasileira. A
categoria quer mais, preferencialmente na forma de atitudes efetivas, como
participação nas cotas de patrocínio que a arbitragem estampa no Campeonato
Brasileiro.
Seria interessante, que a ANAF se pronunciasse
sobre os patrocínios? Quem negocia? Quais os valores? Certamente os árbitros
terão motivos para comemorar quando essas respostas chegarem.
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