quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Dinheiro da arbitragem está muito além do Direito de Arena


Repasse do direito de imagem é importante, porém existem outras fontes de receita fora do debate

Marcelo de Lima Henrique em ação na vitória do São Paulo sobre o Flamengo por 2 a 1, pela 1ª rodada do Brasileirão 2015 (Foto: Getty Images)
Marcelo de Lima Henrique em ação na vitória do São Paulo sobre o Flamengo por 2 a 1, pela 1ª rodada do Brasileirão 2015 (Foto: Getty Images)
Nem sempre atuei exclusivamente na arbitragem de futebol. No início da carreira no mundo do apito, também fui bancário - empregado no Unibanco - e, nesta condição, militei e exerci o cargo de diretor de Esportes do Sindicato dos Bancários de Porto Alegre. Mais recentemente, de 2006 a 2009, fui presidente do Sindicato dos Árbitros de Futebol do Estado do Rio Grande do Sul (Safergs).  
Nessas duas experiências, na direção do movimento sindical, procurei adotar um comportamento ético rigoroso nas relações com o patronato, qual seja, manter uma postura de distanciamento no que diz respeito a questões trabalhistas de natureza pessoal. Ou seja, tomei extremo cuidado – e fui feliz nesta providência - para evitar que o cargo de dirigente sindical desse origem, mesmo que involuntariamente, a vantagens de natureza pessoal, tanto na relação com os dirigentes do banco, como junto à Federação Gaúcha de Futebol. 
Na minha concepção, o dirigente quando no exercício do cargo deve manter distanciamento em assuntos que envolvam o patronato e a sua situação profissional. Neste aspecto, quando o interesse particular se une à prática sindical, está aberta a porta para pressões indesejáveis e quem sai perdendo é o trabalhador. Temos aí o que se convencionou chamar, entre os trabalhadores, de peleguismo. Não existe almoço grátis. 
A crítica que faço, trata-se, portanto, de manter a independência indispensável para poder representar com combatividade e destemor em defesa dos interesses maiores dos associados. 
Por esta razão é com desconforto e preocupação que vejo a atuação do presidente da Associação Nacional dos Árbitros de Futebol (ANAF), Marco Antonio Martins, (que tenho como uma pessoa honesta) como Delegado Especial ou Assessor indicado pela CBF em jogos realizados sob a chancela da entidade. 
Neste ano, ele já trabalhou em mais de 50% das rodadas da Série A do Campeonato Nacional, como delegado do jogo. Não é desejável que assim seja. Uma relação com esta proximidade, ainda mais sendo de caráter remuneratório, pode ensejar ilações que, mesmo não sendo verdadeiras, colocam uma sombra de dúvida sobre a autonomia da presidência da ANAF para negociar com a CBF. Repito, seria melhor para todos que não houvesse tal vínculo. 
Por fim, causa certo pasmo a ANAF não ter desenvolvido uma ação mais dura, enfática, junto a CBF, no sentido de cobrar da entidade maior do futebol brasileiro uma solução definitiva para a pendência sobre o Direito de Arena dos Árbitros. Argumentar que o insucesso se deve unicamente ao veto da presidente Dilma ou deixar que a Justiça resolva o assunto é uma forma de lavar as mãos, eximir-se do problema. E isto, definitivamente, não condiz com o momento singular da arbitragem brasileira. A categoria quer mais, preferencialmente na forma de atitudes efetivas, como participação nas cotas de patrocínio que a arbitragem estampa no Campeonato Brasileiro. 
Seria interessante, que a ANAF se pronunciasse sobre os patrocínios? Quem negocia? Quais os valores? Certamente os árbitros terão motivos para comemorar quando essas respostas chegarem. 

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