quinta-feira, 12 de maio de 2016

CBF planeja ter quadro nacional próprio de árbitros e assistentes

Uma vez formadas, estas equipes de arbitragem não teriam qualquer vínculo com as federações estaduais e atuariam somente nas competições nacionais


Por Eduardo de Sousa - Rio de Janeiro

Na semana que antecede o início do Campeonato Brasileiro, a questão do apito volta novamente à tona por ser assunto sempre envolvido em polêmica no futebol. Na tentativa de melhorar a qualidade da arbitragem nacional, 
a Comissão de Arbitragem da CBF (Conaf) planeja implantar num prazo de até três anos um quadro nacional de árbitros e assistentes.

Em julho, 13 trios de arbitragem (13 árbitros e 26 assistentes) das regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste, em sua maioria com idade até 28 anos e escolhidos pelas próprias federações estaduais, passarão por um intenso treinamento com os instrutores da Conaf, no qual serão abordados aspectos físicos, técnicos, teóricos e mentais. Segundo o presidente Sérgio Corrêa (foto), a intenção é promover a renovação da arbitragem brasileira e prepará-los para as futuras competições nacionais e indicações para o quadro da Fifa. Seria apenas o primeiro passo para a criação de um quadro nacional de árbitros e assistentes.

- Temos um projeto para que os árbitros e assistentes sejam da CBF e não mais das federações. A intenção da CBF é formar a médio, longo prazo as suas próprias equipes de arbitragem nacionais. Neste caso, eles trabalhariam apenas nas competições nacionais. Começaremos pelo Norte, Nordeste e Centro-Oeste, pois Sul e Sudeste são as regiões com mais instrutores e maior investimento por parte das federações. Também pensamos oferecer cursos de árbitros para jovens a partir de 16 anos.

A intenção da CBF é formar a médio, longo prazo as suas próprias equipes de arbitragem"

Sérgio Corrêa, presidente da Comissão de Arbitragem
No entanto, o presidente da Comissão de Arbitragem ressalta que este planejamento não tem relação com a questão envolvendo a possível profissionalização dos árbitros. Segundo ele, para que isso ocorra é preciso superar eventuais resistências para romper com uma estrutura que já está implantada há décadas e levar em consideração o aspecto financeiro e a logística - o que os árbitros e assistentes farão durante o período dos estaduais.

- Caso este modelo seja realmente implantado, a tendência é a de que os árbitros nacionais tenham uma relevância maior, mas as federações irão pressionar para contar com eles. Sendo assim, é preciso ter cuidado para que nenhuma parte seja prejudicada, e as arbitragens nos estaduais não sejam niveladas por baixo. Ao mesmo tempo, tal iniciativa pode contribuir para a formação de novos bons árbitros. Embora estejamos em 2016, sete, oito estados do país ainda não têm uma escola com cursos regulares de arbitragem.

Todos estes projetos da Comissão de Arbitragem ainda dependem de apresentação e aprovação das instâncias superiores da CBF. Ao fazer uma análise das arbitragens nos principais estaduais do país, Sérgio Corrêa destacou a evolução ocorrida na relação dos jogadores e comissões técnicas com os árbitros, citando como exemplo o Paulistão.

- Comparando com o ano passado, eu notei uma mudança no comportamento dos jogadores em relação ao respeito aos árbitros. Em 2015, as reclamações e empurrões eram frequentes. Graças à cruzada pelo respeito que introduzimos a partir do último Brasileiro, através de punições mais rigorosas para quem extrapola com gestos, xingamentos ou agressões na hora de fazer suas ponderações aos árbitros, notamos que comissões técnicas e jogadores entenderam que é muito melhor jogar futebol sem reclamações, deixando possíveis queixas para as autoridades competentes. As reclamações só deixam o ambiente nervoso e tenso, o que atrapalha a atuação das equipes de arbitragem, pois trabalham com a obrigação de acertar o máximo possível sob pressão. 

No Paulistão, apesar de o regulamento ter previsto o rebaixamento de seis clubes, o que poderia aumentar o nível de estresse, houve uma diminuição no número de faltas e cartões, com as partidas terminando com muita tranquilidade.

Na opinião de Sérgio Corrêa, a relação dos jogadores e comissões técnicas com os árbitros está melhor graças ao maior rigor adotado nas punições para quem extrapola na hora de fazer as suas ponderações (Foto: Marcos Ribolli)
Expectativa para o Brasileiro

Este ano foi registrado um maior investimento por parte das principais federações estaduais nas pré-temporadas das equipes de arbitragem. Ciente deste trabalho, a CBF disponibilizou instrutores sem nenhum gasto para 21 federações como forma de colaborar no treinamento dos árbitros para as competições. Outro ponto positivo destacado pela Comissão de Arbitragem foi o preparo físico dos trios de arbitragem. 

Sérgio Corrêa ressalta também a maior uniformidade nos critérios adotados na hora de o árbitro aplicar a regra. Para o Brasileiro, a expectativa é manter os bons números, na avaliação da CBF, dos anos anteriores. Em 2013, o nível de acerto dos assistentes na Série A foi de 81%. No ano seguinte, este índice aumentou para 84%, e em 2015 atingiu 90%.  

Nível de acerto dos assistentes aumentou de 81%, no Brasileiro de 2013, para 90% na edição de 2015

- Queremos elevar ainda mais estes índices para que os árbitros e assistentes tenham a tranquilidade necessária na hora de exercer as suas funções e não sejam alvos dos problemas ocorridos no campo de jogo. Não vai ser fácil, pois esta competição é a mais disputada do planeta, com no mínimo 12 clubes com chances de ser campeão. Um ingrediente que eleva a dificuldade, mas estamos trabalhando para que a cada ano melhoremos a qualidade das equipes de arbitragem com treinamentos e avaliações teóricas e físicas constantes - relata Sérgio Corrêa. 

Com o objetivo de proporcionar um melhor acompanhamento dos árbitros e assistentes, a Comissão de Arbitragem colocará em uso a partir da primeira rodada da Série A do Brasileirouma nova ferramenta para a análise dos seus desempenhos, possibilitando rápido acesso aos dados, inclusive através de vídeos. 

Tal software, que já é usado por 16 clubes para avaliar os seus atletas, foi especialmente adaptado para analisar a atuação das equipes de arbitragem. Na opinião de Sérgio Corrêa, a intenção é ter um retrato fiel de suas performances para que o desempenho de todos eles nas 38 rodadas da competição seja o mais próximo do ideal possível, dispensando provavelmente o uso de assessores da Comissão de Arbitragem nas partidas, o que por sua vez diminuirá as despesas dos clubes, responsáveis por estas despesas.
          

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